Capítulo IV

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Não tardou para que começasse a ouvir vozes e ordens próximas à caixa onde estava e logo em seguida, se sentiu sendo suspensa e balançada, provavelmente carregada por dois indivíduos.

— Como essa caixa está pesada! — um sujeito resmungou, enquanto subiam a rampa acima.

— Deixe de fazer corpo mole, esta caixa não deve ter mais do que alguns instrumentos musicais. — o parceiro respondeu.

Sakura segurou a faca junto ao peito, sentindo que o seu esconderijo poderia ser aberto a qualquer momento, ficando pronta para a defesa. Em toda a sua vida, ela não tinha tido muita experiência em luta, a não ser pelas brigas e surras que deu em seus colegas quando era mais nova, mas tinha a mão firme para estripar os peixes e teve força o bastante para perfurar um homem parrudo como Itaroshi.

No entanto, estaria sozinha dentro do navio contra vários piratas, de forma que agora a sua ideia parecia muito mais estúpida do que no momento em que decidiu tomá-la. Seu estômago revirou em antecipação e sua respiração se tornou tensa, pela movimentação, soube que estavam descendo por três pequenos lances de escadas e então, subitamente foi jogada no chão e teve que cobrir a boca para não deixar nenhum grunhido escapar.

— Senti até fome agora, espero que Juugo prepare algo decente dessa vez. — um deles conversava casualmente, enquanto Sakura apenas torcia para que se afastasse logo.

— O melhor ainda seria se de sobremesa, tivéssemos uma daquelas mulheres que visitamos no porto.

Os homens gargalharam maliciosamente, provocando asco à Sakura e só pelo tom de voz, soube que aqueles homens eram tão depravados e nojentos quanto os boatos diziam.

A dupla continuou conversando sobre trivialidades e em algum lugar acima, Sakura escutou uma voz gritando:

— Içar velas e recolher âncoras! Estamos partindo.

Quando o navio começou a se mover lentamente sobre as águas, Sakura teve a certeza de que definitivamente não tinha mais volta para ela.

Relaxou um pouco a postura, ainda que os dois homens continuassem ali jogando conversa fora, ao menos pareciam bem estúpidos. Então, uma terceira voz veio à tona e pôde concluir que se tratava de alguém mais velho:

— O que estão fazendo aqui embaixo?

— Estávamos ajeitando as caixas, senhor.

— Subam de uma vez. — o velho resmungou de forma rabugenta e o silêncio se seguiu.

Nem mesmo os passos pesados dos homens foram ouvidos, apenas um silêncio sepulcral veio à tona e naquele instante, Sakura podia sentir um mau pressentimento e estava certa, afinal. O mais experiente entre o trio, viu de longe a marca de sangue na tampa de uma das caixas e fez sinal para que os demais ficassem quietos, enquanto se aproximava em passos lentos e silenciosos, apenas a bengala que usava fazia um "toc" insistente enquanto a batia sobre o casco de madeira rígida do navio.

E então, como se o seu coração acompanhasse as batidas daquele ruído, Sakura viu a escuridão e o pouco espaço da caixa se dissipando. O lugar iluminado por lamparinas à cera estava claro o bastante para que encarasse dois homens muito parecidos entre si e um outro, mais velho e com expressões nada amigáveis.

Sem esperar para contra-atacar, Sakura saltou para fora da caixa, a mão empunhando a faca, sem nem imaginar o quão macabra era a visão de si mesma, com o sangue seco em suas roupas e a arma apontada de forma hostil:

— Parece que um camundongo entrou no navio. — o velho disse, o olhar desdenhoso enfurecendo a jovem. — Peguem-na e a levem ao convés, será uma boa refeição para os tubarões.

A Cerejeira dos maresOnde histórias criam vida. Descubra agora