Capítulo XIII

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Acordou sem ter ideia de quanto tempo havia se passado e sem lembrar o motivo de se sentir tão cansada quanto estava, até que um ruído fora do cômodo a fez ter um calafrio e de repente se lembrou da dura tempestade que caiu na noite anterior. Um turbilhão de emoções a invadira de uma só vez, o calor de ter sido beijada pela primeira vez, a ira por encarar o objeto fútil pelo qual seu pai havia perdido a vida e para finalizar, o seu antigo pavor que a dominava em chuvas fortes e ainda mais, dentro de um navio, que balançava violentamente contra as ondas enquanto dezenas de piratas a rodeavam.

Não se orgulhava de ter sido acalentada por Sasuke, muito menos de ter demonstrado toda a fragilidade do seu momento mais vulnerável. Sakura não costumava chorar à toa, ainda mais na frente de outras pessoas, sua mãe sempre dizia que ela devia ser forte e no final das contas, Mebuki havia sido tão destemida que nem mesmo a sua filha percebeu o quanto ela precisava de ajuda.

Lavou o rosto em uma bacia que havia ao lado de uma jarra disposta sobre a mesa e caminhou para fora, o ar gélido tomou conta de si e percebeu que havia dormido tanto que nem presenciou o passar do dia.

— Boa noite, florzinha! — Suigetsu desejou com tamanha ênfase que só poderia ser com o intuito de irritá-la.

— Não comeu nada nas últimas horas, deixei um prato escondido na cozinha. — Juugo lhe confidenciou de forma gentil.

Ainda que sua estadia no navio pirata fosse difícil, Sakura sabia que aqueles dois a tornava um pouco mais tolerável, diferentemente do comandante que a irritava e confundia seus sentidos, como podia odiar tanto uma pessoa quanto se sentia exposta e instigada por ela?

— Agradeço, acho que a tempestade me afetou mais do que gostaria.

— E nem estava debaixo da chuva, diferente do capitão que parece ter pego um resfriado feio.

— Não temos com o que nos preocupar, Sasuke tem uma saúde de ferro. — Juugo parecia defender a honra de seu líder.

— Aonde ele está? — quis saber.

— No convés inferior, acho que ele estava querendo te evitar. — Suigetsu parecia uma criança sapeca querendo botar lenha em alguma fogueira imaginária de sua cabeça.

Mas Sakura decidiu ignorá-lo e foi resolver o inconveniente de ter seu estômago roncando devido à fome, ainda bem que o cozinheiro havia pensado nela para lhe reservar alimento. Devidamente saciada, viu que a sua inquietação não passava, talvez estivesse faltando uma provocação irritante ou um sorrisinho de canto para contemplar a sua noite, porém a mera lembrança do rosto dele a fez se sentir envergonhada, pois a conduziu até a lembrança do dia anterior, em que havia sido leviana o suficiente para lhe permitir que um beijo fosse tomado.

Tentou se distrair observando as estrelas ou ouvindo a conversa fiada de alguns tripulantes, no entanto nada parecia prendê-la por muito tempo. Então se sentiu tentada a descer as escadas, afinal, o que o capitão poderia estar fazendo no piso mais baixo do navio? Afinal, Sasuke nunca ia até lá.

Desceu os degraus, passou primeiro pelo piso dormitório, a ala dos canhões e então chegou ao lugar em que havia sido flagrada após a sua chegada ao barco, chegando à conclusão de que não se sentia melhor do que naquela ocasião. O porão estava iluminado apenas por uma pequena lamparina, cujo pavio estava no fim, de modo que ela não o avistou de cara, teve que forçar os olhos para encontrá-lo jogado sobre uma das caixas de madeira.

— Sasuke. — chamou e ele se remexeu diante de sua voz.

— Ora, se não é a nossa fera tempestuosa. — sua voz soou fraca, de modo que Sakura não soube precisar se ele estava bêbado ou apenas cansado, porém sua fala foi seguida por uma crise de tosse forte e carregada.

A Cerejeira dos maresOnde histórias criam vida. Descubra agora