Papai Noel,
Sei que não fui uma boa menina, mas preciso do meu presente.
Vitória Cortez
Sal espia sobre meu ombro, enquanto deixo o papel em cima da mesa.
— Não acha esse bilhete um pouco rude, Vivi? Não seria melhor uma carta?
— Não tenho tempo. — Subo no banquinho para alcançar os armários. Acho açúcar e farinha, e coloco tudo na mesa junto com a panela. — Tenho que fazer biscoitos.
Ele levanta uma sobrancelha e sorri.
— Pro Papai Noel?
Reviro os olhos.
— Óbvio.
— Por quê?
— Pra ele botar meu nome na lista.
— Ele não deve aceitar suborno.
— O que é isso?
O sorriso dele se estende quando uno as sobrancelhas. Meu novo amigo é só um pouco mais alto do que eu, temos a mesma idade, mas às vezes não entendo o que ele diz.
— É tipo... Acho que Papai Noel não presenteia crianças malvadas em troca de cookies.
— Como você sabe?
Devo dar confiança a ombros encolhidos? Em vez disso, decido trazer manteiga e ovos da geladeira. Não encontro chocolate para fazer as gotas, nem aquele açúcar marrom... Um bom velhinho não se importaria com isso, né?
— Vivi, como vai entregar isso ao Papai Noel? Ele já deve estar na maior correria. É véspera de Natal. Acha que vai dar tempo de incluir seu presente?
— Ai, cala a boca! Você vai me fazer errar!
Depois de misturada, a massa não fica do jeito que deveria. Não deixo isso me abalar. Organizo em bolinhas na assadeira, tomando cuidado com a distância para não grudar tudo. Mamãe me ensinou assim.
— Quer ajuda?
— Quero. — Sal desiste no segundo passo na minha direção, assim completo: — Continue vigiando a porta. Se pegarem a gente, já era.
Não é tão difícil usar a cozinha sem acender as luzes. Só que quando lembro que preciso do forno, a escuridão passa a incomodar. Apesar de ser maior do que o da minha casa, o forno não deveria parecer o estômago de um monstro assassino... capaz de me engolir inteira.
É só uma máquina, Vivi. Você controla ela, e não o contrário.
Minhas mãos tremem. Respirar fundo me ajuda a acender o fogo. Empurro a assadeira para dentro, fecho a porta do forno e me afasto. Então, só consigo escutar meu coração batendo forte, até que a voz do Sal me tira um pouco a sensação ruim.
— E agora?
— Vai levar uns minutos.
Sentamos perto da porta. Eu me sinto cansada para conversar ou contar o tempo. O cheiro forte que sobe é o que me avisa do meu erro. Lembro de pegar um pano para não me queimar ao checar a assadeira. Os biscoitos estão marrons, nada parecidos com os da mamãe. Experimento um pedacinho de uma daquelas pedras amargas, antes de me encolher no chão e chorar.
Sal alisa as minhas costas. Não olho para ele. Minha última esperança está queimada.
— Não chora, Vivi.
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Contos, Dragões e Luzes de Natal
Short StoryDezembro vem com uma data linda, recheada de histórias. Várias delas deixam nossos corações quentinhos e esperançosos, com toques de fantasia, dramas e romances. Também há histórias sinistras para os mais corajosos. Todas elas te convidam a se aconc...