Boa Noite e Feliz Natal

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Bem, acho difícil de fazer esse relato pois não sei até onde ele vai chegar e não sei o quão perigoso isso pode ser, mas vamos lá. Meu nome é Alberto, tenho trinta e oito anos, sou casado e tenho dois filhos, um de dez e um de cinco anos. Criei os dois como eu fui criado, incentivando a participar dos feriados e festas sempre em família, especialmente no natal.

Eu e minha esposa somos verdadeiros entusiastas do natal, tanto nas comidas quanto nas decorações e, principalmente, nos ritos que fazíamos com nossas famílias: contar histórias, trocar presentes, falar coisas boas uns para os outros, entre outras coisas, como o anúncio do nosso primogênito no natal de 2011.

Nos reunimos na sala de casa e contamos que teríamos Marcos, o que gerou alegria em todos na casa. Houve gritaria, idealizações e euforia geral, menos em minha mãe, que esboçou um tom preocupado, enquanto se retirava para a cozinha, me levando a segui-la.

― Mãe, o que houve? Você nem sequer sorriu com a notícia do seu primeiro neto – questionei, enquanto me apoiava no balcão da cozinha, vendo ela se servir de mais uma taça de vinho.

― Não é nada, meu filho. Só me lembrei de uma coisa que seu pai me falou antes de sumir completamente... ― falou, enquanto respirava fundo e aproximava a taça da boca marcada com o batom vermelho manchado de vinho.

― Nem quero saber, mãe! Ele nos abandonou quando eu tinha oito anos e não quero saber de nada dele mais. Me explica, mãe, que tipo de homem abandona sua família na madrugada de natal? – expliquei com raiva, enquanto andava nervoso pela cozinha, mas logo me acalmei, pois ela ainda estava com um ar de preocupação claro.

― Você tem os olhos do seu pai, meu filho, com exceção da cicatriz no lado direito. Vamos voltar para a festa, porque sua esposa deve estar te procurando – disse ela, forçando um sorriso que não deveria estar lá.

Voltamos para a sala e comemoramos aquele natal como nunca, pois havíamos um motivo extra para festar: meu filho nasceria no próximo ano. Depois de uma longa noite, minha mãe ainda estava nervosa com a situação, mas logo antes de sair, ela me deu um beijo na bochecha e cochichou no meu ouvido: quando seu filho nascer, eu quero ser a primeira pessoa à vê-lo.

Aquilo me deixou muito feliz, pois eu senti que ela estava feliz, mesmo com medo do que meu pai tinha falado pra ela antes de sumir.

O outro ano começou e nós aguardamos ansiosos até o dia que meu filho nasceu: dia 14 de junho de 2012. O dia que minha vida virou de cabeça para baixo. Ao ver meu filho pela primeira vez, a alegria tomou conta junto com a confusão, pois não conseguia entender o que era aquela nuvem dourada que havia ao redor do meu filho, quase igual uma capa que envolvia cada centímetro de seu pequeno corpo. Era estranho, mas reconfortante. Ao levar meu filho para o berçário do hospital, notei que as outras crianças também estavam com essa "capa" ao redor delas, mas cada uma com a cor diferente da outra.

Havia algumas azuis, roxas, rosas, verdes, entre outras cores, mas as que mais me chamaram a atenção foram duas cores: a dourada e a cinzenta. Haviam poucas crianças com a "capa" dourada, duas ou três em todo o hospital, de forma que deixava mais destacado ainda os que estavam em cinza, que eram muitos. Minha cabeça ficou completamente confusa com o que aquilo significava, mas tentei relevar e ir para a casa da minha mãe, junto com minha esposa e nosso pequeno anjo.

Meu carro nem havia parado e já era possível ver minha mãe saindo de casa para nos receber. Ela pegou meu filho no colo e mostrou o caminho para a mesa que havia no quintal, que estava cheia de bolos, salgados e mais uma imensa variedade de comidas e bebidas, que poderiam alimentar um batalhão.

Enquanto minha esposa se sentou para comer, minha mãe me chamou para o andar de cima, no quarto dela, onde ela pegou uma foto do meu pai em cima da mesa de cabeceira dela e mostrava para meu filho. Me sentei na cama e estiquei a mão para pegar a foto, mas sem sequer tirar os olhos do meu filho, ela me perguntou:

Contos, Dragões e Luzes de NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora