Cap. 16: "Finalmente você voltou a me olhar nos olhos".

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Leonardo

Já faz quatro dias que não conversamos.

Antigamente esta seria uma vitória, mas honestamente? Estou com saudade da porra das discussões.

Afinal, com elas eu sabia que não tinha feito nada de errado. Mas agora?

Bem, eu diria que estou cem por cento na merda.

Não consigo falar com ela. Não tenho coragem.

Sei que não é tão difícil, basta chegar e dizer: "Samantha, eu sinto muito".

"Me desculpe por ter feito você passar por uma situação tão constrangedora".

"Me desculpe por ter te exposto no momento em que você mais precisava de apoio".

"Me desculpe por você ter me contado algo tão pessoal e quebrado a cara logo depois".

Estamos em uma nova posição, agora.

O famoso silêncio constrangedor.

Ela anda se isolando ultimamente. Não a vejo mais saindo da faculdade para almoçar, não a vejo comprar comida. Imagino que provavelmente está preparando quentinhas em sua casa e comendo em algum lugar.

Suspeito fortemente da biblioteca, porém não tenho coragem de ir até lá checar. Afinal, se ela estiver lá...

O que caralhos eu iria dizer?

Poderia dizer que sinto muito, mas ela nem iria me encarar nos olhos.

Antes era fácil. Ela me mandava à merda, mandava eu enfiar meu dedo no cu ou até mesmo tentava chutar minhas bolas.

Agora...?

Agora o silêncio dela corta. Não me responde, finge que não estou do seu lado, e se responde, é em alguma frase curta.

"Não". "Sim". "Claro". "Obrigada".

Isso quando apenas não acena com a cabeça.

Ela está mais quieta até mesmo nas aulas. Antes fazia uma porção de perguntas, de um jeito que cansava os professores.

Agora não faz mais perguntas, nem mesmo na matéria de Botânica I ou zoologia.

Uma vez tentei esperá-la fora da sala, e vi que Samantha ficou para falar com Marcelo. Me questionei se ela tirava as dúvidas naquele momento, porém, de qualquer forma, não consegui interromper.

Então fui embora antes que ela voltasse.

Querem a verdade?

A verdade é que eu sou um covarde.

Sinto vontade de me desculpar, mas não consigo falar com ela. Não consigo dizer o quanto eu sinto muito.

Não consigo dizer: "Ei, Samantha! dê um tapa da minha cara, ameace chutar meu saco, mas por favor, olhe para mim."

- Toc, toc, toc.

- Entra!

É a minha mãe.

- Leonardo.

- O quê?? - pergunto, ofegante.

- Ainda não fez as pazes com aquela menina?

- Não. - respondo, de forma seca.

- É, estou vendo. Está se alimentando mal e não sai do seu quarto.

Levanto um dos peso no braço direito, enquanto abaixo o segundo peso no esquerdo.

1000 motivos para eu (não) amar vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora