Guilherme
- Olha só, você comeu tudo hoje. - abro um sorriso.
Eu e a minha avó sempre fomos próximos, principalmente quando o seu relacionamento com o meu pai nunca foi um dos melhores.
Antes de me converter eu não me importava muito com isso, mas agora eu desejo fortemente que eles se conciliem. E no fundo, é o que ela quer também. Por mais que não admita.
Após a minha frase, a mesma pede por um guardanapo.
- A sua comida estava mais gostosa hoje. - resmunga. - Pôs mais tempero?
- Na verdade, pus menos tempero. - informo - O seu paladar está mudando.
Quando eu tinha 13 anos, descobri que a minha avó havia sido diagnosticada oficialmente com osteoporose. Devido a sua idade e a menopausa, seus ossos acabaram ficando frágeis.
Vê-la com dor e tão fraca me assustou, já que eu não podia fazer nada.
Com o tempo, começei a preparar refeições mais saudáveis e visitar sua casa duas vezes por semana. Era uma forma de eu me sentir seguro, eu acho. De saber que ela estava bem.
Porém era inútil. Meu sono não vinha mais à noite.
Então, aos 14, fui conversar com o meu pai e pedi oficialmente para morar com ela.
Pensei que estivesse tudo bem, que ele fosse entender, mas não foi bem assim. Não. A verdade é que houve uma briga horrível entre os dois que se estendeu por anos e ainda possui resquícios até hoje.
Quando fiz 16, eu e a minha avó entramos em uma fase complicada. O dinheiro que ela havia guardado como reserva estava começando a ser muito gasto por estarmos morando juntos.
Então, naquele mesmo ano, decidi que iria arrumar algum emprego, nem que fosse de meio-período. Procurei por muito, muito tempo, mas era difícil conseguir algo sendo menor de idade.
Quando fiz 17, abriu um trailer de fast-food na pracinha pública da cidade, o "Fome mais." Por eu já estar terminando o ensino médio, fui contratado.
Desde então, pago sozinho por tudo o que eu preciso e não dou nenhum grande gasto à minha vó.
- Não seja bobo, meu paladar é o mesmo. - afirma, mal-humorada.
Abro um sorriso.
- Ok, dona Célia. - brinco.
Em seguida recolho seu prato para lavá-lo.
- Já sabe o que vai fazer no seu aniversário?? - me pergunta.
Abro a torneira na cozinha.
- Ainda falta muito para isso. - respondo.
Sua expressão é de deboche.
- Desde quando 20 dias são muito?? - indaga.
Suspiro, enxaguando a louça.
- Não estou animado para nada esse ano. - admito - Além disso, ando com muitas coisas da faculdade para fazer.
E era verdade. Aqueles que disseram que educação física era fácil nitidamente ingeriram quantidades mínimas de esterco.
No entanto, não é tão ruim assim. Entrei nesse curso para aprender a cuidar corretamente da minha avó, e realmente consegui. Agora falta um ano para a faculdade acabar, e em breve estarei formado.
- A senhora vai ver. - falo pra ela - Nós vamos ter uma vida muito melhor.
Penso que ela vai abrir um sorriso, mas seu olhar é cabisbaixo.
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1000 motivos para eu (não) amar você
RomanceLeonardo e Samantha se conhecem desde o ensino médio, porém nunca tiveram a melhor das relações. Ambos sempre foram extremamente grossos um com o outro, prezando por discussões agitadas e estressantes. Quando a faculdade chega, finalmente se veêm li...