Cap. 1 : "Continua o mesmo cara de sempre."

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Samantha

Merda, merda, merda. Mil vezes merda. Saí tarde demais de casa, provavelmente bem mais do que eu deveria ter saído. Mas quem pode me julgar?

Fred havia encontrado a lixeira do banheiro aberta e comido uma porção de papel higiênico. Além de ter que ligar para a minha mãe do seu trabalho e pedir para que ela o levasse até o veterinário fui obrigada a limpar toda a bagunça de papel picado que o meu lindo e amado cãozinho deixou de presente para mim.

A recepcionista que me atendeu não foi nem um pouco simpática e simplesmente não queria deixar que passassem a linha do telefone para o escritório da minha mãe. Obtive sucesso apenas depois de ameaçar fazer uma reclamação ao R.H. da empresa por mau comportamento de funcionários (e destacando o fato de que a chefe dela era minha mãe).

Bem, acho que nada disso importa agora. O fato é que estou atrasada. Muito atrasada. A aula começa em 40 minutos, o que acredito ser tempo o suficiente para a travessia do ônibus até a faculdade. Digo, da minha casa até a UFRJ não leva tanto tempo assim, mas preciso de no máximo 20 minutos de espera dentro do veículo lotado de pessoas.

Encarando o relógio prata em meu pulso, vejo que faltam apenas 5 minutos para que a condução saia.

- Merda. - exclamo, pensando em voz alta.

Pressionando ainda mais a mochila em minhas costas sobrecarregada de livros , começo a apressar os meus passos até o ponto de ônibus. E um comentário a parte: Graças a Deus por eu ter calçado meus tênis esportivos brancos hoje. Se eu não tivesse ficado com tanta preguiça de ir até a área e pegar as sapatilhas que havia separado provavelmente estaria correndo bem menos.

Na verdade não diria que me vesti particularmente bem essa manhã. Amarrei um rabo de cavalo no topo na cabeça, vesti uma blusa preta escrito "Nobody asked you" , calças da mesma cor da camisa e um casaco jeans amarrado na cintura.

Paro por um segundo para ajeitar meus óculos de armação preta sob meu rosto e analisar o ponto de ônibus. Não estou muito longe e já está bem na hora, ele logo irá partir.

Solto um suspiro de alívio, começando a caminhar olhando fixamente fora da minha direção. Tudo o que que consigo encarar é para onde preciso ir.

Porém é justamente aí que tenho a minha surpresa, já que ao invés de sentir o nada - que era o que eu deveria sentir - me pego sentindo um corpo forte com mais de 1,80m de altura.

A esbarrada no homem é forte. Forte o suficiente para que os meus óculos caiam no chão devido ao impacto.

- Merda! - exclamo. Mas meus palavrões definitivamente não são nada parecidos com os desse cara, já que o mesmo olha fixamente para a calçada e encara o telefone que acabou de cair de suas mãos. E rachou sua tela.

Com dificuldade eu tateio o chão, encontro os óculos e coloco no rosto.

- Olha o que você fez, sua idiota! - ele berra com ódio - Por sua causa o meu celular caiu e ainda trincou a...

Sinto um bolor em minha garganta ao finalmente voltar a enxergar através das minhas lentes e reconhecer aquele rosto depois de anos. Ele. Justo ele. O menino que eu não suportava ouvir nem mesmo a respiração antigamente.

- Leonardo. - exclamo.

Ele também bufa e demonstra desprezo em me ver.

- Samantha.

Leonardo e eu temos um histórico longo. Nós éramos da mesma turma no ensino médio e simplesmente não nos suportávamos. Falando sério, o garoto fazia questão de rebater praticamente tudo o que eu falava na classe. E eu não deixava barato, é óbvio. Eventualmente nós pudemos concordar em nos odiarmos. Era o único consenso que conseguíamos chegar, de qualquer modo.

1000 motivos para eu (não) amar vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora