Cap. 17: "Não sei bem como escapar disso".

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Samantha

- Você anda passando muito tempo aqui. - a bibliotecária diz, falando pela primeira vez comigo em uma semana.

Eu, que estava comendo macarrão na vasilha, levanto a cabeça.

- Oi, Cláudia. - cumprimento. - É, eu ando um pouco...

- Antissocial? - sugere.

- Eu ia dizer discreta. - faço uma pausa para rir - Mas sim. Antissocial também serve.

- Hum. - exclama - Então alguma coisa aconteceu.

Ponho um nugget na boca e depois mastigo.

- Bem, eu nunca fui muito de conversar. - admito - Só quero ficar sozinha, por enquanto.

Seu olhar é aflito.

- Querida, você está almoçando sentada no chão em frente à biblioteca. - diz, e seu tom é de preocupação - Isso não é saudável.

Sei que ela está certa, porém forço um sorriso.

- Cláudia, nesse momento eu odeio fazer parte de uma turma. - confesso. - Só quero encontrar com as pessoas se for realmente necessário.

Ela praticamente ri.

- Querida, você entrou em um setor que possui quatro anos de duração e ainda está no seu primeiro mês. - afirma. - Acha mesmo que pode fugir de uma turma para sempre?

- Bem, não todas as turmas. - digo, engolindo mais macarrão - Só aquela da matéria de Zoologia.

- Ah, você quer dizer a que você faz com o Leonardo?

Congelo ao ouvir seu nome.

Sabem, eu achei que não era possível sentir mais ódio por ele do que eu já sentia. Realmente achei.

Mas...

"Você não queria que fôssemos amigos. [...] Então acho que pensei: 'Se não posso ser alguém bom para ela, irei ser pior do que ela."

O que eu sinto nesse momento não é ódio.

É desprezo.

Antes, Leonardo era apenas uma pessoa extremamente irritante para mim.

Agora?

Agora ele é apenas uma pessoa patética. Uma pessoa que não soube ouvir não e fez algo ridículo em troca.

E o pior? O pior de tudo?

Foi essa mesma pessoa patética que me deixou segura quando eu estava vulnerável na frente de todos.

E tento afastar esse sentimento o máximo que posso, mas ele acaba voltando.

Não gosto dele. Nunca gostei.

Mas no primeiro ano...

Só fiz aquela apresentação por causa dele.

E é muito estranho pensar nisso.

Um tempo depois, volto à realidade.

- É. - confirmo à Cláudia - Estou falando da turma de Leonardo.

- Hum. - exclama- Então o problema não é com os seus colegas.

Mexo no macarrão, começando a me sentir desconfortável.

- Eu sei que não posso fugir para sempre, Cláudia. - a encaro- Tá legal? Eu sei disso.

- Ainda sim... -ela insiste.

Eu bufo.

- Eu não estou pronta. - finalmente admito, enquanto mexo com o garfo na vasilha - Não estou pronta para vê-lo fora da sala de aula.

1000 motivos para eu (não) amar vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora