Conto 6 - Permafrost - parte 1

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Nonna Noel deixando um presentinho de Natal para quem achou que não ia ganhar nada esse ano (que nem eu. Continuo sem ganhar, mas a esperança é a última que morre e o ano não acabou).


A porta da casa se abriu com excesso de força, o que significa que deu tudo errado. Os três adolescentes de 12 anos que deviam estudar na sala desviam os olhos do videogame e se apressam em montar a farsa porque os pais chegaram quarenta minutos antes do combinado, porém não deu tempo. Naruto entrou na sala tirando o casaco e percebeu que seus trigêmeos não faziam o que ele mandou.

-Mas que porra é essa? - questionou furioso. Atrás de si entrara seu marido Sasuke, que acabara de sacudir o casaco para tirar a água. Naruto não o esperou para que dividissem o guarda-chuva e ele nem queria. - Vocês têm prova amanhã e estão nessa merda de novo?

-Pai, foi só um descanso. - disse o mais velho. Naruto esfregou as têmporas.

-Foda-se. Se querem tomar bomba amanhã, não estou nem aí. Não é problema meu. - revirou os olhos e foi para o seu quarto pessoal. Sasuke tirou o casaco, pendurando-o no cabideiro junto de todos os outros, e observou o trio. Estalou os dedos duas vezes, uma indicando a tomada e outra apontando para os livros abertos na mesa. Eles até poderiam argumentar com Naruto quando ele não estava com raiva, mas era impossível com Sasuke. Não quando é inegável a sua irritação.

Uma filha de 16 anos veio da cozinha vestindo luvas para limpeza, encarou os adolescentes claramente nervosos e começou a rir. Outro irmão, de 17 anos, apareceu do outro lado da cozinha, segurando um pano para enxugar os pratos, e se juntou à irmã na gargalhada porque desta vez os trigêmeos não se safaram, mas logo voltaram à obrigação porque aquele não parecia um bom dia para afrontar os pais. Todos queriam ir ao cinema naquela noite, então era bom que cumprissem suas tarefas ou, do jeito que o casal se encontra, é possível que fiquem de castigo até o fim do ano.

Sasuke subiu para o seu quarto particular, que há mais de oito meses não era o mesmo que Naruto. Quando ambos completaram 15 anos e manifestaram suas naturezas, alfa e ômega respectivamente, os pais fizeram testes genéticos e descobriram que os dois possuíam um nível de compatibilidade dificilmente encontrado: 98%. Não houve outro caminho. Foram obrigados a noivarem e casarem mesmo que não soubessem o nome um do outro. Na casa em que vivem há tantas décadas, eles decidiram ter uma espécie de quarto duplo conectada por um banheiro grande - grande mesmo, cabia aos dois e a todos os filhos que tiveram ao longo de 30 anos de matrimônio.

Para todos os efeitos, eles tinham um casamento de sucesso. Invejável por todos da pequena cidade onde residem. Um negócio com boa renda financeira - os dois são donos de uma madeireira especializada em móveis planejados, decorações com este material e semelhantes, sendo que Naruto é o designer e Sasuke é o carpinteiro principal. Tiveram, ao todo, 17 filhos - quase um a cada dois anos e estavam todos vivos porque receberam boa assistência, mesmo os que nasceram doentes.

Já desfrutavam da posição de avós uma vez que seus filhos mais velhos, o primeiro par de gêmeos - uma mulher e um homem - e mais quatro - três mulheres e um homem - tinham filhos.

A família crescia tão rápido quanto os negócios, a cidade e o próprio mundo.

Sua compatibilidade genética criava condições de extrema fertilidade, algo que alimentava o orgulho dos pais de Naruto e Sasuke, pois viam os filhos deles serem produtivos - ainda que não ao ponto absurdo de 17 crianças nascidas em onze partos.

E depois de tanto tempo, os dois continuavam juntos. Essa era a expectativa, não a realidade. Desde quando casaram, os dois por cento pesaram no relacionamento. Eles criaram os filhos da melhor forma que a total inexperiência do começo permitia e para tanto, estabeleceram três regras que regeriam a realidade daquela família. Nunca expor os conflitos de casal na frente dos filhos. Nunca retirar a autoridade do outro após uma ordem. Nunca deixar o outro sozinho num problema de família. Este sistema funcionava até alcançar o desgaste e eles irem para a terapia de casal.

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