Conto 3 - O que os Olhos não Veem, o Coração Sente - Parte 2

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Continuando...

A chuva diminuíra um pouco, mas ainda mantinha sua força natural. Sorte que por cima de seu paletó um pouco caro, havia uma casaca para chuva. O policial verificou seus documentos enquanto o guarda se aproximava para lhe falar. E no meio disso tudo, Sasuke ainda queria saber onde o taxista se meteu naquele mar de carros parados, que até reduzira naqueles minutos em que ficou com Naruto.

-Ele não tem multas na CNH. - o guarda avisou ao devolver seus documentos. - Senhor, tem prática de direção? - Sasuke assentiu. - Precisamos que leve o carro daqui, pois está obstruindo o trânsito. O dono do veículo foi retido e levado para a delegacia por briga em público com outros cinco condutores. - ele assentiu e recebeu as chaves do táxi.

Sasuke entrou no lugar do motorista e encarou Naruto, que tentava compreender o que estava se passando ali.

-Sasuke?

-Sou eu.

-O que houve?

-Parece que o taxista foi preso por brigar em grupo. - ligou o carro e procurou por uma rota de saída. Lembrou-se do endereço da casa de Naruto e seguiu a avenida até virar numa esquina à esquerda.

-Que azar... - ele comentou. - Para onde está indo?

-Vou te deixar em casa. - avisou e viu o rosto dele corar abaixo dos olhos, que não estavam mais cobertos pelos óculos. - Eu... - suspirou ao lembrar que era daquela cor que estava quando apartou seus lábios da boca dele. - Desculpa pelo beijo... - tentou dialogar enquanto prestava atenção nas ruas molhadas. - Eu não sei bem o que estava fazendo, eu te vi chorar e...

-Eu gostei. - Naruto falou alto, interrompendo Sasuke, novamente o surpreendo. - Foi repentino, mas... Não foi invasivo, se é isso que te preocupa. - ainda sentia seu rosto queimar. - Acho que... Não sei, eu só gostei do beijo.

-Eu também. - Sasuke admitiu, sorrindo de lado, mais relaxado por saber que não lhe ofendera ou fora intrusivo. - Na verdade, foi o meu primeiro beijo gay.

-Não brinca? Você é um 100% hétero? - notou o ar ficar mais leve, pois ele não falara aquilo com tom de deboche. Era clara surpresa. - Quer dizer que eu te roubei o seu BV gay? - sorriu abertamente.

-Eu roubei um beijo, mas fui eu quem perdi algo. - comentou sem tom de humor, da forma séria que costumava, e isso provocou uma gargalhada espontânea em Naruto. - Até antes da sua boca, eu tinha certeza que era 100% hétero, agora...

-Antes da minha... Boca? - ele falou lentamente, não só percebendo a ambiguidade da fala, como fazendo Sasuke dar-se conta do que dissera.

O berro interno que ele deu o fez pisar fundo no freio, sacudindo o carro inteiro de repente e fazendo Naruto bater o rosto contra o recosto do motorista. Sorte que foi no sinal fechado, porque não assustou o veículo que vinha logo atrás. Sasuke inclinou a cabeça sobre o volante e tentou entender por que diabos dissera aquilo. Desde que decidiu ajudar aquele cego, só estavam falando coisas comprometedoras sobre si mesmo.

Pigarreou forte para tentar limpar a garganta, esfregou o rosto com força para diminuir o rubor, guiou o carro para o endereço e tentou não pensar mais naquilo, mas sua mente estava tomada pela boca de Naruto e o fato de que era boa. Devia ser culpa do estresse se comportar de forma tão desnorteada e a aleatória, o dia inteiro de coisas erradas, mas... Não chamaria aquele beijo de erro. Talvez fosse a única coisa boa naquele dia chuvoso. Não mentiria: a oportunidade de beijá-lo mais uma vez seria bem-vinda, mas nem iria pedir e nem iria provocá-la, já bastava a mortificação interna que estava passando.

Naruto esfregava sua testa para amenizar a dor que lhe acometeu de repente. Colocou os lábios para dentro, afundando-se no banco, para sentir novamente o gosto da boca daquele estranho. Não, Sasuke não era mais um estranho para si. Podia não saber sua idade, onde morava, qual o número do seu telefone ou mesmo a aparência dele, além dos olhos, mas aquele curto tempo em que estivera sob os cuidados dele, Naruto sentia que podia continuar daquele jeito, sob as mãos cálidas de Sasuke, por muito mais tempo do que esperava.

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