Conto 3 - O que os Olhos não Veem, o Coração Sente - Parte 1

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Conto dedicado para Lee Popuri e Lucy Messias.
Por quê? Dentre as mil razões que eu tenho, uma me disse que precisava chorar e outra disse que Naruto cego é sua religião.
Então vamos simbora.  

Sabe quando dia começa pronto para literalmente lhe destruir e tudo o que você quer é que acabe logo, mas quanto mais você deseja, mais demora a passar? Era exatamente assim que o dia de Sasuke Uchiha se encontrava e já durava uma semana inteira. Maldita sexta-feira que não findava, parecia que cada hora durava 24 horas e que nunca chegaria o momento de desaparecer pelo próximo século em sua casa. Melhor, em seu quarto.

E ainda era o dia mais patético do ano. Dia dos namorados. Só de pensar nas melosidades e nos sorrisos falsos, sentia náuseas. Passavam o ano todo brigando, comendo um ao outro vivos, quase saindo no braço, mas no dia 12 do mês de Junho, repentinamente o céu se abria, o arco-íris surgia e unicórnios saltitavam. Era tudo muito lindo, romântico e amoroso.

Ele achava que seu dia não poderia piorar mais do que já estava depois de uma manhã exaustiva de correções e verificações de relatórios financeiros, mas piorou. Porque o que tem de acontecer, vai acontecer, disse certo Murphy certa vez. Mal Sasuke colocou os pés no piso térreo do prédio onde trabalhava e um estrondo ecoou pelo mundo, anunciando uma chuva torrencial. Justo no dia que mandou seu carro para a oficina, por causa da revisão semestral que fazia, o mundo acha interessante se desabar em água em plena seis horas da noite.

Só não xingou a chuva com seu vasto conhecimento de insultos porque sabia que, para alguns, aquela água era esperada há anos, então conteve-se a reclamar de si mesmo, que não fizera a revisão do carro no começo da semana ou não deixara para o dia seguinte. Por sorte, talvez a única que tivera durante todo o dia, trouxera um guarda-chuva, visto que percebeu o céu nublar logo cedo da manhã. Ao menos não se ensoparia enquanto esperava um táxi.

Já do lado de fora, percebendo que o fluxo de pessoas e veículos reduziu absurdamente, Sasuke estava se questionando se teria que voltar a pé para sua casa quando ouviu uma voz. Fitou o lado direito de onde estava e percebeu que, na mesma marquise onde estava abrigado da chuva, havia um outro homem, com óculos escuros diante do rosto e uma longa bengala. Na camisa, havia um bottom com os dizeres "Eu sou Cego". Aquilo fez sentido.

Ele questionava a toda pessoa que passava por si onde estava e se havia algum táxi por ali, porém era ignorado pela maioria, que tinham pressa de chegar aonde quer que fossem por causa da chuva. Não devia, dizia a si mesmo observando o desprezo das pessoas, não devia, mas Sasuke cedeu ao seu coração. Devagar, se aproximou e pigarreou para chamar a atenção do cego, meio que se "anunciar".

-Com licença, moço. - disse calmo. O rapaz lhe fitou com algum espanto, mas suavizou as expressões rapidamente ao sentir o toque em sua mão. - Perdido?

-Bom... Só preciso de um táxi ou uma carona para ir para casa. - respondeu com sinceridade e calma. - Não sei se estou perto de um ponto de táxi.

-Sei... - Sasuke abriu seu guarda-chuva, segurou na mão do cego com delicadeza e rumou para o final da calçada, protegendo-o com o objeto. - Vou chamar um táxi para você. - avisou ao pararem.

-Oh. Obrigado. - o cego lhe mostrou um sorriso tão lindo de sincera gratidão que fez o rosto de Sasuke aquecer-se. - Você é um homem muito gentil. - aproximou-se mais dele, enlaçando o braço com o seu, para assim ficar melhor protegido da chuva.

Sasuke engoliu em seco quando um ônibus parou lentamente na frente dos dois, para evitar que água do esgoto espirrasse neles, e vislumbrou a si e ao cego através do reflexo das portas traseiras fechadas. Da forma como estavam quase abraçados, eles pareciam um casal apaixonado abrigado debaixo de um guarda-chuva, daqueles que são bem cheios de bobagens melosas. Seu rosto ficou vermelho quando o ônibus partiu e ele respirou muito fundo, soltando o ar devagar, para se acalmar posto que era coisa da sua cabeça, nada mais.

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