Capitulo I - Flores.

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Estava frio o suficiente para que eu precisasse de um casaco comprido, um preto, que eu havia pego de meu pai.

Os vestidos nunca esquentam o suficiente, e meninas devem usar vestidos. Que papinho.

Vivo nessa vila desde que me lembro, com meus pais e meu irmão mais velho, Jeongin. Desde sempre eu soube que era adotada, todo mundo sabe. Meus traços são tragicamente diferentes dos meus pais, a cor dos cabelos, dos olhos, e, principalmente, a etnia. Eu claramente não pertencia à essas terras, mas agora hei de pertencer.

Em um mundo onde ômegas são raras e indispensáveis, não importa de onde eu vim.

Agradeço todos os dias por não ser uma beta.

Sabe uma coisa que eu sempre amei na minha vila? As flores.

Claro, fui eu quem as plantei.

Cada uma delas, pensei na escala de cor e na combinação do local, além de ter que levar em consideração a luz do sol.

— "Lizayah!!" — Meu irmão correu pra mim, eu me virei, ainda com as mãos sujas de terra, e esperei que me alcançasse.

— "Pois não?" — Ri levemente com o desespero dele, que chegou até mim quase sem conseguir parar a tempo de não me atropelar.

— "O-o rei.. o rei" — Ele tentava dizer, ainda que sem fôlego — "O rei chegou, chegou! Ele está lá em casa... falando com papai! Mamãe pediu pra vir te chamar! Oh céus, por que estava tão longe? Nunca corri tanto.." — Jeongin se apoiava nos próprios joelhos.

— "Estou plantando, como não tem espaço perto de casa, eu vim aqui.." — Ri, me levantando e batendo as mãos na saia, para tirar a terra das mãos, evitando sujar o casaco de papai.

— "Não faça isso! Já está toda suja! Liza, o rei está literalmente na nossa sala, ele vai te ver assim... mamãe vai surtar!" — Ele esbravejou, tentando limpar minha saia.

— "Me deixe! A maneira que eu estou não importa para rei algum, oppa! Isso é bobagem.." — Eu ri, pegando minha cesta e andando com ele pra casa.

— "Você é a ômega filha do alfa da vila, e o rei veio pra cerimônia que faz o seu irmão, no caso eu, o alfa da nossa vila! Você é importante!" — Ele pegou minha mão, fazendo carinho — "Eu sei que você não enxerga seu valor, mas eu te amo, Irmã. Você é a menina mais linda que eu já vi na vida, além disso, se eu pudesse fazer você minha luna, sabe que eu faria.. mas isso significa que teríamos que ter filhos e.." — Ele fez uma careta engraçada, pensando na possibilidade de ter que transar comigo — "Eca.. você entendeu" — Realmente.. eca.

— "Ta bem, oppa, você me ganhou no linda" — Eu ri, achando graça o jeitinho dele — "Eu também te amo, mas precisamos correr ou a mamãe vai dar esporro na gente de novo" — Puxei ele pela mão, caminhando mais rápido até em casa.

O cheiro era diferente. Normalmente, tudo que eu sentia quando entrava em casa era o cheiro do meu pai e do meu irmão misturados, e as vezes com um toque do que a minha mãe cozinhava, mas hoje? Hoje o cheiro não era de nada disso.

As janelas e portas estavam abertas, como sempre ficam quando temos visitas, para não concentrar o cheiro.

Mesmo assim, eu sentia um cheiro específico. O melhor aroma que já tive o prazer de sentir.

— "Filha! O que aconteceu com você? Liza do céu.." — Minha mãe se desesperava, chegando perto de mim e me limpando da melhor maneira possível — "O que eu faço com você? O rei está aqui! Jeongin, vá lá pra dentro e diga que sua irmã foi se trocar, que não devem esperar pra comer" — Mamãe disse, visivelmente irritada com a situação, e meu irmão assentiu, fazendo o que ela mandou imediatamente.

— "Desculpe, mamãe, eu não sabia que o rei viria hoje..." — Menti. Claro que eu sabia, mas não me importo por nem um segundo. Mulheres não fazem negócios nesse sistema doentio, e eu me virava melhor com minhas flores no jardim.

Uma parte de mim desejava que esquecessem da minha existência e me deixassem com minhas flores, assim eu não teria que me encontrar com desconhecidos.

Por falar em desconhecidos, esse cheiro ainda me intriga.

Subi com minha mãe, ela me ajudou a escolher as roupas, logo após meu banho.

O vestido era o mais lindo que eu tinha, na minha opinião. Minha mãe gostava dos mais espalhafatosos, mas eu gostava desse. Rosa, sempre foi minha cor favorita, com alguns brilhos, mas nada muito desconfortável aos olhos, ou ao corpo. Me servia bem, me fazia sentir bonita, até o decote, que é um problema para mim que tenho peitos quase inexistentes. Era um corte redondo, que até me valorizava nesse sentido.

Acho que era o melhor dos mundos, ou dos vestidos, nesse caso.

Descemos juntas e caminhamos até a sala de jantar, onde todos estavam reunidos.

O cheiro ficava cada vez mais forte, mas esse não era o maior problema.

As flores tem um cheiro leve, alguns mais doces e outros mais cítricos, mas, o aroma é leve, exige que aproxime o nariz para sentir. Cheiros muito fortes sempre me enjoaram. Uma dor de cabeça infinita com certos perfumes, e até cheiros de comida, remédios, ou essências concentradas.

Mas esse cheiro? Não.

Eu precisava sentir mais dele, e conforme eu andava em direção à sala de jantar, pior ficava.

Quem eu quero enganar? Melhor ficava, a cada segundo, meu coração acelerava e meu ventre contraía. Eu estou no cio? Deveria avisar minha mãe? Ela sentiria se eu estivesse, meu cheiro denunciaria.

Que diabos está acontecendo?

— "Venha filha" — Minha mãe abriu a porta para que eu passasse, e eu sorri pra ela, entrando na sala.

— "Minha filha! Essa é minha caçulinha, vossa alteza!" — Meu pai, animado como sempre, chamou a atenção de todos pra mim. Não que isso seja um problema, eu sempre amei ser o cento das atenções — "A irmã mais nova do nosso novo alfa. Sei que ela não puxou o papai ou a mamãe, mas nosso coração bate no mesmo ritmo, não é, Liza?" — Jaesang, meu pai, se aproximou, pegando minhas mãos.

Olhei para o homem que meu pai estava falando, e não consegui decifrar a cara dele.

Mas senti o líquido que vinhas das profundezas do meu ventre escorrer pelas minhas coxas, algo que estava evitando ao máximo, já que o cheiro agora devia ser óbvio.

Os olhos afiados, mesmo que pequenos, me fizeram entender todas aquelas histórias de amor, quando amantes sabem o que sentem pelo olhar. Eu nunca fui boa em decifrar pessoas, e sempre achei bobagem essa mágica romântica de quando os olhares se cruzam, mas...

Mas eu sabia exatamente o que ele queria de mim com aquele olhar.

Eu sabia exatamente onde aquela boca perfeita, formada pelos lábios mais completos e rosados que eu já havia visto, queria estar nesse momento.

O cabelo loiro com as ondas mais lindas, parecia tão macio, meu corpo todo formigava, me coagindo a tocar aquelas mechas.

Sentir mais de seu cheiro.

E eu sabia que ele compartilhava desse sentimento. Eu conseguia sentir pelo cheiro.

E então, a ficha caiu.

O cheiro que vinha sentindo, vinha dele. Daquele homem enorme, que provavelmente tinha quase 1,90 de altura e os ombros largos como o oceano. O cheiro que me intoxicava era dele.

— "Filha, não seja mal educada, cumprimente o Rei" — meu pai me acordou da minha fantasia.

Rei?



- Notas da Autora -

Oi gente! O primeiro capítulo é realmente mais curtinho, funciona mais como uma introdução. Os próximos serão maiores, terão fotos, as vezes vídeos, músicas referentes aos capítulos, tudo organizadinho. 
Espero que tenham curtido esse começo, não esqueçam de comentar e clicar na estrelinha, ajuda bastante no alcance da fic, e assim eu posso interagir com vocês nos comentários. 
Fiquem à vontade! Até o próximo cap <3

Laços {Stray Kids}Onde histórias criam vida. Descubra agora