prólogo / capítulo 1

2K 50 2
                                    

S/n estava nervosa, parada em frente ao portão de sua nova escola refletia sobre tudo o que vinha acontecendo em sua vida nos últimos meses.

Seu pai tinha recebido uma promoção no trabalho, oportunidade única, um projeto de cinco anos na construção de um shopping agregado a um condomínio. Coisa grande. Receberia uma boa moradia, um bom salário, vale refeição e até mesmo plano de saúde para toda a família...Só tinha um "problema", era em Barcelona, Espanha.

Teria de se mudar justo no seu último ano de escola, não iria de formar com seus amigos, nem se despedirem no tempo certo... mas iria para Espanha. Estava até que feliz, aliás, quem não gostaria de ir visitar um lugar como a Europa algum dia?! Só não esperava que fosse ser agora, justo agora e por bastante tempo aparentemente. No auge de seus 17 implorou aos pais para pelo menos, terminar o último ano no Brasil e depois se mudar com eles, mas foi em vão. Logo teria 18 e as oportunidades de faculdade pareciam melhores em sua nova moradia, não tinha o que reclamar, era uma ótima oportunidade, de fato.

Fazer as malas foi fácil, pegar o avião foi fácil, chegar na casa nova, enorme e maravilhosa, foi extremamente fácil. Difícil foram as despedidas, amigos e familiares.
Apesar de não ter certeza do que queria fazer profissionalmente, essa mudança não estava nos planos.

E agora aqui estava, parada na porta da nova escola, apertava as alças da mochila em nervoso, era fluente em inglês desde os 14, e apesar de saber o básico do espanhol, e ser uma língua não tão difícil para os falantes de português, ainda estava insegura, afinal, ia ter aulas em espanhol, viver em uma sociedade da qual falava espanhol direto, e ainda catalã.

Respirou fundo e se pôs a andar, finalmente entrando, recebia alguns olhares, provavelmente reconheciam alguns novatos, mas no geral não era tão diferente das garotas do local. Digo, seria pior se fosse para uma escola em algum lugar como o Japão, onde a diferença de aparência seria algo bem notável.

Tirou o papel do bolso da calça e conferiu pela milésima vez o número de sua sala, no terceiro andar. Foi seguindo o caminho que lembrava da visita na semana passada, com a diretora, e apesar de meio confusa conseguiu chegar.

Após sentar em seu lugar, reparou em volta, já tinha um grupinho de garotas em um canto conversando, uns garotos espalhados e algumas outras sentadas. Pegou o celular e foi mandar mensagem no grupo que tinha com seus amigos do Brasil, contando como estava nervosa, do uniforme bonitinho com saia e blusa social, da estrutura elegante da escola que mais parecia um grande palácio. Uns minutos se passaram e a sala foi enchendo, os alunos foram escolhendo seus lugares e logo um sinal tocou, indicando o início das aulas. Um professor entrou e fechou a porta, começou a se apresentar e disse que daria aulas de biologia. Começou a apresentação dos alunos e S/n conseguia entender praticamente tudo bem tranquilamente, chegou sua vez de se apresentar e, apesar de nervosa, conseguiu pronunciar, com um espanhol meio fajuto, seu nome, idade e um pouco de sua história. Todos pareceram ficar interessados no fato de ser brasileira, mas a aula se seguiu, quase no final da primeira a porta se abre com força e um garoto com um uniforme diferente do dos outros entrou, ele vestia um uniforme de futebol, time, Barcelona. usava tênis comuns brancos mas em uma mão carregava chuteiras obviamente profissionais, pendurada a sua mochila, estava uma bolsa com uma bola dentro.

- Pablo, atrasado no primeiro dia... - reclamou o professor com cara de desgosto.

O menino tirou os fones sem fio do ouvido.

- Que?

O professor revirou os olhos e o mandou ir sentar, enquanto os meninos davam uma leve risada e as meninas olhavam admiradas, suspirando. S/n tentava entender o motivo de tanto alarde, será que era alguma celebridade? Não devia ser pela beleza, pois na mente da garota ele era comum, bonitinho, mas comum. De cara já não gostou muito dele, chegou desse jeito todo engomadinho, passou por ela e sentou ao seu lado, um dos únicos lugares vagos. "Folgado", foi o que passou por sua mente, ao ver que o garoto continuava de fones e nem tinha se dado o trabalho de tirar o material da mochila.

Decidiu parar de encarar e voltou seu foco para matéria, tentando entender os termos biológicos em espanhol.

Boa parte da manhã passou bem tranquila, a turma era agradável e o menino atrasado estava dormindo desde então, o sinal para o primeiro intervalo logo tocou e todos desceram. O refeitório era grande e um cheiro bom de comida se espalhava, a garota entrou na fila com sua bandeja e umas meninas que reconheceu de sua sala vieram falar com ela.

- Então você é a novata brasileira? - perguntou uma loira de bochechas bem rodadas e sorriso amigável.

- Sou sim - sorriu também - Vocês são María, Carmen e Laura certo?

Elas concordam e passa a rolar uma conversa, perguntas e comentários s/n gostou daquelas garotas. Pegaram seus lanches e foram para uma mesa, onde a conversa se seguiu.

Uma gritaria começa e um tumulto de pessoas em um canto, para saída do refeitório em direção ao campo de educação física.

- O que é aquilo? - perguntou a brasileira terminando de comer sua salada de frutas.

- Gavi. - respondeu Carmen sorrindo boba.

- Quem?

- O menino que chegou atrasado na nossa sala hoje, Pablo Gavira. Ele tem a nossa idade mas já é jogador do Barcelona, um astro do futebol, provavelmente vai até jogar na copa esse ano. - Explicou María terminando seu suco.

S/n arqueia uma das sobrancelhas, surpresa e ao mesmo tempo construindo mais um pouco de sua aversão ao garoto. "Deve ser um mimadinho".

- Ele é tão novo e já carrega essa baita responsabilidade - completa Laura.

- Vamos lá ver um pouco do treino - Carmen enfia o resto de seu pão na boca e levanta animada, logo as meninas acompanham a de cabelos curtos até a arquibancada, onde alguns garotos estavam se aquecendo e vários outros alunos assistiam animados.

S/n não era uma das maiores fãs de futebol, não entendia muito do assunto apesar de morar no "pais do futebol", curtia sim as copas e sempre torcia para o Brasil, sabia que tinham grande peso em tal modalidade e se orgulhava de falar sobre, mas nem sequer torcia para algum time. Enquanto suas novas amigas assistiam interessadas o treino de futebol dos garotos, a brasileira pegou o celular e foi responder as mensagens de familiares e amigos quando do nada sente uma pancada forte na cabeça, tudo começou a girar e girar e por um momento achou que fosse desmaiar, conseguia ouvir as vozes das meninas perguntando de estava bem e após alguns segundos conseguiu entender o que tinha acontecido. Tinha levado uma bolada, bem na cabeça.

- O Gavi te acertou sem querer, mas fica tranquila nem ficou galo nem nada - disse María a olhando realmente preocupada. Alguns alunos encaravam outros voltaram sua atenção para o campo. Alguém atrás delas jogou a bola de volta e o jogo continuou.

- Aquele garoto mimado nem pediu desculpas - S/n reclama com a mão na cabeça.

(...)

As aulas continuaram e a dor de cabeça também, o garoto, agora mais acordado ao seu lado, nem sequer perguntou se ela estava melhor. Provavelmente nem tinha reparado, nem se importava. Não que isso fosse uma grande preocupação, ela também não se importava.

O dia escolar chegou ao fim, e com isso pode ir para casa.

untied shoelace - Pablo GaviraOnde histórias criam vida. Descubra agora