Capítulo 1 - essa cidade fede a merda!

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Eu já estava entrando em desespero, por que demora tanto??? Eu já estava a horas trancada no mesmo carro que meu irmão e meu pai, apenas por esse motivo eu já me arrependi de não ter ido de bicicleta ou até mesmo a pé; Além disso tudo, tinha Natalya, nossa pequena irmã de 5 anos, eu tentava a todo custo distrair ela, porém era um pouco complicado, ainda mais quando se tinham duas figuras escrotas na sua frente claramente te julgando por qualquer "a" que surgisse no banco de trás. Estava totalmente desconfortável, além de mim e da minha irmã haviam as malas de roupa que não couberam no porta-malas, resumindo: estávamos apertadas e coladas na porta por +/- 5 horas. Alexei mal olhava na minha cara, preferia encarar a paisagem, e eu preferi fazer a mesma coisa, qualquer ação é melhor do que ficar 1 minuto falando com ele; uau, árvores e mais árvores... Nossa! Mais um monte de árvores!

No rádio tocava uma música qualquer do Bee Gees, e isso era o que "quebrava o silêncio". Tudo corria "bem", até o Sr. Andreev teve a brilhante ideia de começar a fumar com os vidros totalmente fechados, o cheiro no carro já estava me asfixiando, logo se estava me asfixiando provavelmente estava bem pior para a pequena garotinha no meu colo. Alexei parecia não ver diferença naquilo, provavelmente porque ele também fumava e cheiro o fazia bem.

— Pai, apaga essa merda... o cheiro tá me sufocando — falei começando a tossir.

— Olha a boca, sua peste, eu não sou seus amigos trombadinhas pra você falar comigo desse jeito.

Os amigos trombadinhas eram as pessoas do clube de teatro que nunca fizeram mal a ninguém.

A minha salvação foi uma placa escrito "Bem-vindo à Hawkins", graças a Deus eu teria um quarto para me trancar. Na intenção de aliviar aquele cheiro tenebroso abri o vidro do meu lado, porém o cheiro lá de fora era extremamente pior... fedia a merda, merda de vaca, cavalo... sei lá, eu apenas sei que fedia a merda.

— Eu não disse? Essa cidade fede a merda, sempre fedeu e sempre vai feder... E é tudo culpa de quem mesmo, Nat? — Alexei riu e finalmente olhou para nossa irmã, mas ria com ódio... não era culpa dela, nosso pai era ganancioso demais para enxergar a verdade.

— Nossa, cala a boca! Ninguém te perguntou porra nenhuma! — sem querer elevei meu tom de voz, agora sim eu tava fodida.

— Não levante o tom de voz com o seu irmão, sua idiota! Em casa nós vamos ter uma conversa bem séria, escutou, mocinha?

Por que aquele inútil sempre defendia a Alexei??? É uma conspiração contra mim?

Finalmente chegamos na casa nova, e o caminhão de mudanças chegou logo atrás de nós, fechei o vidro e abri a porta, saindo do carro. Claro que fui amigável mesmo começando meu dia da pior forma, ajudei os rapazes a retirar os móveis, que eram muitos, mas muitos mesmo, porém isso não demorou tanto, e logo eu já estava com o meu quarto praticamente pronto, só faltava colocar as roupas de cama e arrumar o guarda-roupa, era simples, mas para mim era o suficiente; senti falta apenas dos pôsteres que meu pai jogou, alegando que aquilo ocuparia espaço demais e que não tinha precisão.

Assim que terminei de fazer tudo, olhei para a janela e vi que o céu já estava num tom rosado, alaranjado e lilás em algumas partes, tá brincando que o dia já acabou? Amanhã eu teria escola, mas que belo inferno que eu estou.

California Dreamin, cover do The Beach Boys tocava baixinho em meu rádio, que foi uma das únicas coisas que eu consegui salvar além da vitrola, das fitas cassetes e dos discos, já que a desculpa usada foi "era da mamãe". Natalya estava junto a mim, ela gostava de ouvir quando eu falava da minha infância que foi quase inexistente, já que tive que virar praticamente uma adulta aos 13 anos. Estava prestes a sair do quarto, para fazer sua mamadeira, porém a porta foi aberta de uma maneira totalmente bruta, se fosse outra pessoa eu iria ficar surpresa.

— Por que levantou o tom de voz com seu irmão?

— Papai, não é minha culpa que a gente teve que se mudar! A situação não estava boa lá, a gente não teve opção! — foi a desculpa que eu usei para acalmar minha irmã.

— Você acredita somente na sua própria versão porque você não quer reconhecer a sua culpa! Você não tem o direito de gritar com seu irmão mais velho! — Dimitri Andreev apontou o dedo em meu rosto, como se fosse algo novo.

— Natalya, tampas os ouvidos, agora! — me senti mal por falar aquilo, mas ela não pode descobrir a verdade tão cedo — Não é culpa da Natalya, Dimitri! Em momento nenhum ela pediu pra você engravidar a sua esposa. Sua ganância em ter outro menino foi maior do que qualquer coisa, não foi? Eu sei que foi; Eu sei que você queria outro Alexei no lugar de uma Yekaterina e de uma Natalya, mas pelo visto não foi o que aconteceu, né? — falei olhando em seus olhos, usando todo o sarcasmo que eu havia aprendido com ele.

— Cala a sua boca!

Confesso que toda a vontade que eu tinha em viver uma vida nova naquela cidade foi por água abaixo. Dimitri, o mais novo detetive de Hawkins deu um tapa em meu rosto, porém aquilo não iria o prejudicar, já que as únicas pessoas que sabiam que isso acontecia era ele, meu irmão e Nat.

— Sai do meu quarto! — num berro e numa explosão de força consegui o empurrar para fora do quarto.

Tentei não chorar ao máximo, não por conta da dor, mas sim porque minha irmã estava ali, segurando o choro por ver toda aquela confusão. Minha mãe, era a única mulher da casa além de mim antigamente, se eu pudesse eu faria de tudo para voltar no tempo e reverter a situação, salvar ela desse cara terrível que eu sou obrigada a chamar de pai. Jurei para ela que jamais deixaria isso acontecer comigo, porém como ela se foi agora eu me tornei ela, às vezes eu realmente sinto falta dela. Bom, pelo menos consegui tirar ele do quarto, penso por esse lado. Sentei-me na minha cama novamente, e respirei fundo.

— Kate...

— Ei... não!!! Eu tô bem, olha; só fez um dodói, já já passa!

— Mas você sempre fala que não se deve bater em ninguém, especialmente quando um homem bate em uma mulher... — seu biquinho de choro me dava um nó na garganta, ela era nova demais para aquilo.

— O papai não aceita que somos mais inteligentes que ele, Nana; Por isso ele faz isso... se em algum dia da sua vida qualquer homem levantar a voz pra você, faz o que eu te ensinei, tá?

Mamãe me ensinou como deixar um homem babaca inconsciente e eu passo os mesmos ensinamentos para minha irmã, já que muito provavelmente ela faria o mesmo. A acalmei por mais um tempo e ela acabou por dormir; a cobri e me deitei ao seu lado, a partir daí eu não lembro se realmente dormi ou se só desmaiei de desidratação.

My Worse Romance - Billy HargroveOnde histórias criam vida. Descubra agora