NARRADORA
Rio de Janeiro, 12 de Dezembro de 2015Era o último ensaio antes do espetáculo.
Giovanna entrou na sala, encontrando Alexandre no piano arriscando alguns acordes.
Ela deixou suas coisas no canto, e caminhou lentamente até o homem, enquanto prendia o cabelo.
Alexandre notou a presença dela, e a encarou.
"Boa tarde." Ele cumprimentou e Giovanna terminou de prender o cabelo e apoiou a mão na cintura.
"Posso fazer uma pergunta?" Ela perguntou, parecendo um tanto mansa.
Alexandre tirou as mãos do piano e encarou a morena.
"Vá em frente."
"O que você estava pensando quando foi até a minha casa ontem?" Ela perguntou e Alexandre levantou rindo com ironia. "Você tá louco?"
"Você não quis conversar comigo aqui. Tive que apelar." Ele explicou e Giovanna semicerrou os olhos.
"Eu não tenho nenhum assunto para tratar com você, Alexandre!" Ela disse e ele cruzou os braços.
"Ah não?" Ele debochou. "Agora é minha vez de te fazer uma pergunta." Ele disse.
Giovanna sentiu seu coração começar a bater mais forte, como se soubesse que algo ruim iria vir.
"É uma pergunta para resposta de sim ou não. Bem simples." Alexandre avisou, chegando perto da ex-namorada.
Giovanna cruzou os braços, esperando ele prosseguir.
"Inã é meu filho?" Ele perguntou na lata, fazendo Giovanna quase perder a cor.
Aquilo, definitivamente, não estava nos planos dela.
Giovanna se afastou, passando a mão no rosto.
"Do que você está falando?" Ela perguntou, querendo fugir do assunto.
Alexandre levantou as sobrancelhas.
"Agora perdeu a postura, não é?" Alexandre começou a se irritar. "Giovanna, responde sim ou não."
A morena olhou para os lados, se martilizando por ter resolvido aparecer antes do horário no Estúdio para enfrentar Alexandre.
"E se for, porque raios você escondeu? Não me contou porquê? E por favor, me dê um motivo plausível." Alexandre pediu.
Giovanna comprimiu os lábios, sem saber o que responder. Ela não queria falar, sabia que depois do sim, sua vida mudaria drasticamente. Mas mentir era quase impossível. Alexandre não acreditaria, piorando a situação, a deixando numa corda bamba.
Giovanna suspirou e encarou Alexandre.
"Sim. Inã é seu filho biologicamente falando." A morena disse, tentando se manter firme. Chorar ali, naquele momento, não era certo.
Alexandre abriu a boca surpreso, sem reação. Ele piscou algumas vezes, sem acreditar naquilo.
Seu coração batia rapidamente, e ele encarava Giovanna, que tentava se manter neutra.
"Não que isso vá fazer alguma diferença agora.." Ela comentou. "Vamos ensaiar." Ela disse, dando as costas, segurando as lágrimas que davam sinais.
Alexandre negou, sem entender.
"Não. Nem vem." Ele disse. "Eu quero saber porque que você não me contou." Alexandre puxou o braço dela. "Isso não foi justo comigo."
Giovanna riu irônica, se virando para ele.
"Justo com você?" A morena puxou o braço. "Você não tem noção de nada do que aconteceu depois que foi embora. Não tem propriedade para falar sobre o que é justo ou não." Giovanna esbravejou e Alexandre não se afastou.
"Se você tivesse me contad.." Ela o interrompeu.
"Eu não contei porque sabia que não faria diferença! Você escolheu a porra da tua carreira em vez do nosso relacionamento. Eu não ia te atrapalhar." Giovanna explicou, com as lágrimas brotando em seus olhos definitivamente.
"Mas um filho é outra coisa, Giovanna."
Giovanna riu irônica novamente.
"Como se naquela época fosse fazer alguma diferença para você." Ela se afastou. "Nós não precisamos de você naquele tempo, e também não iremos precisar agora." Ela ditou.
Alexandre negou.
"Se ele é meu filho, eu tenho direitos. Você não pode fazer isso, eu sou o pai dele." Esbravejou.
Giovanna cruzou os braços.
"Ele já tem um pai, Alexandre." Giovanna disse e Alexandre sentiu sua raiva borbulhar. "E você vai embora de novo, não é? Karen disse que estão apenas de passagem. Eu não vou submeter meu filho a esse sofrimento. Fazer vocês se aproximarem, contar à ele que tem outro pai, e bum! Você vai embora sem deixar rastros." Giovanna disse e Alexandre revirou os olhos.
"Leonardo não é pai dele."
"Ah não? Quem foi que criou Inã comigo? Quem era que estava lá quando Inã era só um bebê? Quem passava horas acordado comigo quando Inã estava doente? Quem, Alexandre? Eu tenho certeza que não foi você." Ela apontou para ele.
"Não foi eu, por que eu não sabia! Caralho, Giovanna. Se você tivesse me falado, eu teria ficado. Teria mudado todos os meus planos para criarmos Inã juntos." Alexandre lamentou.
"Não ia. Eu sei que não ia." Ela se aproximou. "Você é egoísta e pronto."
Alexandre riu irônico.
"Tão egoísta que estou aqui te ajudando."
Giovanna negou.
"Não mistura as coisas. Você sabe que estou falando da sua atitude ridícula de nem ter me consultado antes de resolver ir para outro continente."
"Éramos novos, Giovanna. Uma puta oportunidade, e você acha que ia deixar passar?"
Giovanna sorriu abrindo os braços.
"Aí está! É disso que eu tô falando." Ela ficou séria novamente. "Eu tive que abrir mão de tudo que eu tinha planejado. Parei de dançar por que tinha outras coisas na minha vida que precisavam de atenção. Precisam de mim!"
"Tá bom." Alexandre passou a mão no cabelo, tentando se acalmar. "Você pode continuar irredutível, mas eu tenho direitos. E eu vou atrás deles." Ele avisou. "Não tem Giovanna e nem Leonardo que vá me impedir de me aproximar do meu filho."
Giovanna sorriu, o desafiando.
"Vá em frente, Nero." Ela disse, se lembrando da forma como chamava ele.
Ela deu as costas para ele, saindo da sala.
Alexandre suspirou, num misto de felicidade por saber que Inã era seu filho e de raiva por Giovanna ter escondido aquilo dele por tanto tempo.
As coisas ficariam interessantes.
