NARRADORA
Rio de Janeiro, 18 de Dezembro, 2009.
Estúdio de Dança Antonelli."Busco menos, não mais."
Giovanna encarou o relógio no topo do espelho gigantesco da sala de ballet pela octogésima vez em 15 minutos.
Era seu aniversário de dezenove anos. Tinha marcado com a irmã de irem à um bar naquela noite, porém, a mãe de Giovanna e Alessandra também parecia ter planos para a filha mais nova
Seus pés doíam e sua cabeça girava de tantas piruetas que já tinha dado num curto período de tempo
Quando a música cessou, Giovanna se jogou no chão, sentindo todo o cansaço no corpo.
Passou a ouvir conversas paralelas de suas colegas de palco pela sala, e suspirou, sabendo que não conseguiria chegar ao local marcado no horário combinado. E ficou ainda mais chateada por lembrar que a irmã e o cunhado tinham que voltar para casa o quanto antes por conta da filha deles.
"Estão liberados." A voz de Suelly soou como quem não tivesse gostado do resultado do ensaio.
A mais velha caminhou à passos curtos até a filha, que permanecia deitada no chão após todos se retirarem da sala.
"Achei que quisesse ganhar essa competição." A loira disse e Giovanna se sentou.
Ela encarou a mãe, sem querer esconder todo o cansaço que sentia.
"Eu quero ganhar a competição. Eu só não quero me matar." A morena disse e suspirou. "Mãe, hoje é meu aniversário. Eu queria ter passado o dia com a minha irmã, ter aproveitado a praia.." Ela disse e Suelly cruzou os braços negando.
"Você não precisava disso, Giovanna. Precisava ensaiar! Nem está conseguindo finalizar um giro." Suelly reclamou e Giovanna bufou, se levantando.
"Eu estou exausta." A morena disse, indo pegar seus pertences no canto da sala. "É por isso que não consigo. Já são 21h, e você me prendendo aqui! É inacreditável."
Suelly riu fraco.
"Você está sendo ingrata. Eu estou apenas tentando garantir seu lugar numa academia renomada!"
Giovanna negou.
"Não, não está. Tu tá querendo acabar com a minha vida." Ela resmungou baixo. "Eu já disse que dou conta, que vou conseguir passar nesse bendito teste. E mesmo que eu não passe, existem outras oportunidades. O mundo não vai acabar."
Giovanna passou pela mãe, que apenas a olhava incrédula.
"Eu não sei que horas volto." Ela avisou, deixando-a sozinha na sala.
Suelly era professora desde os 27 anos, quando se aposentou dos palcos. A mulher era referência no exterior e no Brasil, e quando Alessandra mostrou aversão pela dança, toda a responsabilidade de ser a "bailarina perfeita" caiu sob os ombros de Giovanna, que dançava desde os 5 anos de idade.
E mesmo que amasse os palcos, Giovanna já sentia que toda aquela pressão e necessidade de estar sempre no topo era desgastante, independentemente do da sua paixão por dança.
Giovanna passou rapidamente no banheiro da academia para desfazer o coque - o qual ela não tinha se dado o trabalho de fazer direito naquele dia - e vestir o vestido rosa que escolhera para passar o aniversário. Deixou sua bolsa perto das coisas da de sua mãe, e instruiu a recepcionista, pedindo para que ela avisasse Suelly de levar aquelas coisas para casa.
Conseguiu um Uber e foi direto para o bar que tinha combinado com a irmã.
Ao chegar no local, não demorou para achar Alessandra e Rodrigo.