O sacrifício da escolha

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Parecia um grande acampamento semipermanente. Cabanas, porém não firmes o suficiente para que durem para sempre, mais parecendo construções improvisadas para refugiados; caminhos marcados por terra e pedregulho, mais como se feitos pela constante passagem de pessoas do que por um cuidadoso arquiteto urbano; muralhas de madeira e corda cercando partes estratégicas do acampamento, com tocos de árvores cortadas estendendo-se ao horizonte.

Logo à entrada, dois homens em mantos e capuzes cinzentos, com máscaras de caveira, impediram momentaneamente a passagem de Niao, colocando suas lanças no pescoço da mulher assim que seus companheiros de viagem passaram pelos portões.

Não pretendiam matá-la, era apenas uma ameaça, um "você não pode passar daqui".

As mãos de Niao foram direto à sua espada, instintivamente. Teria puxado a arma e degolado o desgraçado mais próximo, movida somente pelo instinto e pela súbita raiva por bloquearem o seu caminho, mas Khulad foi mais rápido. Pôs a mão nos ombros de um dos guardas e fez-se ouvir:

"Cavalheiros, vamos! Não estão vendo que esta é uma convidada muito especial da sua própria família?"

Armas foram abaixadas e, por pouco, Niao não adicionou outro nome mortal à sua longa, porém há muito sem atualizações, lista de vítimas fatais.

Niao rapidamente notou como todos pareciam se vestir seguindo algum padrão: mantos e capuzes cinzentos com máscaras de caveira guardando templos e prédios de aparência importante, mais fixa que as cabanas que cobriam a vista, conduzindo ritos funerários, sempre em pequenos grupos, com foices e arcos ao alcance; guerreiros de armaduras médias, com capas camufladas e uma versão bem mais clara do brasão que Varis sempre trazia consigo em seu broche, pintados em seus escudos ou armaduras, bem mais relaxados e risonhos que os "guardas da caveira"; nos jardins e plantações, pequenos grupos em capas azul-marinho estreladas, como a de Khulad, segurando cajados; entre muitos outros.

O que Niao esperava ser uma pequena vila semipermanente era muito maior do que acreditara. Chegava quase ao nível de uma pequena cidade. Enquanto caminhavam, Vanaris contava, solene, sobre as oito linhagens principais do clã, das quais tanto ela quanto seus dois primos fazem parte, e como por sua herança, estava predestinada desde sempre a se tornar uma White Skull.

"Predestinada"; como se seu futuro já tivesse sido decidido por ela, mesmo antes dela nascer.

"Predestinada"; como se seu futuro já tivesse sido decidido por ela, mesmo antes dela nascer

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Niao atentou-se mais às palavras e expressão de Vanaris.

Era... cinzenta. Como aquele manto e máscara que logo estaria usando.

Niao não era capaz de identificar felicidade nela, porém nada manifestou a esse respeito. Estava curiosa. Perguntava-se onde estava o poder de escolha da alegre, heróica garota da capa branca nisso tudo.

Sentiu um forte senso de dever emanando dela.

Quando Niao notou, estavam de frente a um templo de pedra, de aparência bem mais permanente que as cabanas simples de madeira no restante da cidade. Quatro dos guardas com máscaras de caveira guardavam a entrada e, ao verem Vanaris, vieram em sua direção. A garota virou-se aos seus três companheiros de viagem.

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