Mau Agouro

Para não esquecer, por outros motivos

Vanaris Silvereye.

Extraído do diário de Niao, poucos dias após separar-se de Vanaris.

Não serei hipócrita, nem uma romântica ingênua como os protagonistas de tantas histórias que já vi em peças de teatro e canções de bardos por aí. Já vi diversas mulheres lindas, fortes, poderosas, inteligentes e com outras grandes qualidades em minhas muitas vidas; seduzi muitas delas em minhas missões por Yeenoghu, infiltrei-me profundamente em suas vidas, então não é nada disso que faz Vanaris ser especial.

Já tentei me responder muitas vezes, de maneira lógica e prática, o que seria então. Enquanto esperava todos esses dias no balanço desse barco, cheguei à conclusão de que é simplesmente por Vanaris ser Vanaris. Ela é bela, bondosa, honesta e heróica, como tantas outras mulheres que já conheci. Ela é determinada, ambiciosa, vê sempre o melhor nas pessoas, características que, em isolamento, talvez não sejam tão incomuns assim. Ela acredita firmemente em seu propósito na vida, assim como nos meus propósitos. Ela me fez permitir que ela se aproximasse de mim, que eu a tomasse como uma amiga e uma genuína aliada, a primeira que tive desde que deixei os ranques do Grande Açougueiro. Ela fez coisas por mim, e me disse coisas, que ninguém jamais fez; que talvez teriam feito, caso as circunstâncias fossem outras, caso eu tivesse lhes dado uma chance, caso eu tivesse sido uma mulher comum e mortal como elas eram e não a criação sem emoções de um pretenso conquistador. Mas não fizeram, Vanaris foi quem fez; ela quebrou o reino das possibilidades e se tornou uma realidade, a primeira e única, e me trouxe ao seu pequeno mundo secreto com total intenção de lá me acolher, mesmo com a desconfiança de todos os outros de seu clã.

Varis Redhair.

Um patrulheiro ruivo e atlético com um grande faro para passagens interplanares, um típico aventureiro que regozijava-se com a emoção da batalha e gostava de encher a cara e dormir com desconhecidas por todas as vilas por onde passávamos. Agia como um protetor irmão mais velho para Vanaris e demonstrava um heroísmo similar ao dela.

O excesso de cicatrizes na cara, resultado da quantidade de vezes que pulou na frente de monstros sem parar para avaliar suas chances de sobrevivência (algo muito importante para mortais) ou se valia a pena comprar aquela briga, o fazia parecer mais velho e durão do que realmente era, mas a verdade é que ele nunca nem chegou perto de vencer no um-contra-um comigo, mesmo quando vendei meus olhos e mantive minha mão esquerda às costas para lhe dar uma chance. Zoar com ele e vê-lo se humilhar pelo próprio excesso de competitividade sempre foi um ótimo passatempo. Sempre tive cuidado de não criar mais cicatrizes no corpo dele, no entanto. Não queria dar a ele esse gostinho: ele sempre usava suas cicatrizes para encantar camponesas de vida entediante e facilmente impressionáveis sobre qual dragão ancião causara cada uma de suas cicatrizes. Não, ele nunca nem sequer viu um dragão ancião.

Khulad Bluespirit.

Entre os três, Khulad era o ser mais lógico e racional. Servia como um líder para os primos e, sinceramente, eu acho que se eles sobreviveram até me encontrar foi graças aos seus feitiços druídicos de cura e ocultação. Ele gostava de pensar antes de agir. Gostava disso, sobre ele. Planejamento é uma arma essencial para sobrevivência, principalmente em casos onde você se encontra em desvantagem. E considerando as limitações dos três naquela época, eles estavam quase sempre em desvantagem.

Digo naquela época porque Vanaris é filha de quem é, o desejado receptáculo de quem é, da linhagem de onde veio. Khulad e Varis dificilmente evoluirão muito além de onde chegaram, são aventureiros pouco acima da média e só. Vanaris, por outro lado, pode se tornar alguém incrivelmente poderosa no futuro.