Segunda-feira, 08 de abril
Bati a folha na mesa da recepção do dormitório, a pedra eu coloquei em seguida com mais calma.
Jenna ficou agarrada no meu braço. Não disse muitas coisas desde que eu cheguei.
— Vocês não tinham que estar na escola, meninas? — disse a recepcionista sem nos olhar.
— Perdão pela pergunta, mas, qual o seu nome? — Ela não respondeu então procurei na sua blusa. — Sra. Blair, certo? Bom, creio que a senhora tenha acesso às filmagens das câmeras de segurança, certo?
Ela fez que sim com a cabeça, e então voltou o olhar para Jenna.
— O que ela tem?
— Sra. Blair, precisamos ver quem foram as responsáveis por isto aqui — Toquei na pedra e no bilhete. — Vamos denunciar a ameaça e precisamos saber quem foram as responsáveis.
Ela pegou o bilhete, colocou seus óculos, e segundos depois seus olhos se arregalaram. Assim que terminou de ler, ela pousou o papel sobre a mesa e suspirou pesadamente.
— Sinto muito meninas, não posso mexer nas filmagens de segurança.
— Por que não?!
— São regras, não posso entregar pra vocês as filmagens.
Não é possível uma coisa dessas. Não acredito, não, como vamos provar isso?!
— Sra. Blair, jogaram isso ontem logo pela manhã. Por favor, eu preciso que isso seja resolvido logo — Jenna decidiu se pronunciar. — Eu não me sinto segura nem estando aqui, falando com a senhora. Por favor, me ajuda.
Ela respirou fundo, analisou outra vez o bilhete e depois olhou para a pedra de novo.
— Sinto muito, meninas. O que eu posso fazer para ajudar é reforçar a segurança daqui durante o dia e à noite.
— Mas, Sra. Blair, e se essas vândalas atacarem a Jenna?!
Eu estava revoltada. Não é possível que nós sejamos mais conscientes do que os adultos. ADULTOS.
— Olhando esse bilhete eu só posso ver ameaças sem cabimento. Cão que late muito não morde. Fiquem tranquilas, nada de ruim vai acontecer.
Jenna soltou uma risadinha debochada. Nem ela estava acreditando.
— Por favor…
— Vou acionar a direção sobre isso. Agora vão pra escola, estão perdendo aula!
{ . . . }
Todos os olhares foram direcionados à Jenna quando entramos durante o intervalo da troca de período.
Algumas soltaram uma piada com "tesoura logo no sábado de manhã" e todas riram. Os cochichos foram parando depois de um tempo.
Durante a aula, vi jogarem bolinhas de papel em Jenna. Ela pegava as bolinhas e se levantava para jogar no lixo sem ler nenhuma.
Quando a aula estava acabando elas pararam. Jenna foi a primeira a sair da sala, não disse nada, não se despediu de mim e nem sequer olhou para mim.
Será que ela se arrepende?
Indo para casa a pé e sozinha, parei para pensar que isso tudo é culpa minha. Se eu não insistisse tanto em ter algo com ela, Jenna estaria vivendo a vida normalmente. Ninguém estaria fazendo essas coisas idiotas.
Não. Eu não posso ser a culpada disso tudo. Não fizemos absolutamente nada de errado! O que elas querem? Estamos no século vinte e um!! Como que a homofobia ainda existe?
Quando eu cheguei em casa fiz tudo o que tinha para fazer o mais rápido que consegui. Pedi uma comida diferente da habitual e arrumei a mesa. Minha tia chegou um tempo depois, e sem dar tempo dela dizer que como sempre eu jantaria sozinha, disse que precisava conversar com ela.
Agora aqui estamos nós, uma de frente para a outra.
— Temos um novo caso de homofobia na escola.
Ela tomou um pouco da taça de vinho antes de dizer algo.
— Aí, Merlina, não me dê mais dor de cabeça.
— Tia, isso é algo sério! Olha isso aqui! — Coloquei o bilhete em cima da mesa. Ela nem tocou nele, o manteve em uma distância razoável, para que ela pudesse ler sem precisar tocar. — Isso foi amarrado em uma pedra e tocado na porta da vítima. Tia, estão ameaçando ela!
Ela soltou um longo suspiro.
— "Espero que você morra sua sapatona nojenta. Você merece ser estuprada pra aprender a gostar de homem. Se eu ver você na minha frente vou arrebentar a sua cara pra aprender a ser mulher de verdade."
Ela leu com tanto desinteresse. Não precisou nem abrir a boca e eu já sabia o que ela iria dizer.
— Tia…
— Não vou perder meu tempo.
Não é possível.
— Tia, mas isso é uma ameaça! Ela está sendo ameaçada por nada!
— Merlina, isso foi feito só para assustar. Seja lá quem for essa menina, diga apenas para se cuidar, se ver algo estranho acione a polícia. Simples.
— Mas, tia—
— Merlina, já chega! — Ela bateu na mesa. — Não posso fazer nada fora da escola. Quer que eu faça o que, inferno?!
— Discipline as suas alunas! Aquelas cobras homofóbicas já estragaram a vida de muita gente que não fez nada de errado!
— Eu não posso mudar todo mundo, Merlina Evans. E outra, se eu vir a comentar sobre esse bilhete, é capaz de piorar a situação. Quero paz naquela escola.
Me levantei da cadeira abruptamente, sentindo minha raiva querer tomar lugar de fala.
Sinto que vou explodir. E se eu explodir não vai ser bom. Eu não posso me estressar. Não posso.
— Mas você poderia, pelo menos, dar apoio às vítimas. Ajudar. Lutar pela igualdade, nós somos humanos também!
Merda.
Aí essa não. Não não não não não.
— "Nós"? Como assim "nós", Merlina?! — O tom de voz dela mudou. — Por um acaso é você quem está sendo chamada de sapatão?! Você é lésbica?!
Queria poder dizer que sim, eu queria muito poder gritar para todos ouvirem que eu sou lésbica e estou apaixonada pela garota mais incrível da droga desse país. Mas infelizmente, fiquei em silêncio. Não tem como me defender. Não consigo pensar em nada para responder, eu não consigo. E também não posso contar a verdade a ela.
Isso é um pesadelo.
— Os homossexuais são pessoas normais. Não vejo motivos para uma pessoa ser condenada por simplesmente amar!
— Não vamos entrar em discussão sobre isso — ela disse. — Lave a louça, limpe toda essa cozinha e não quero ouvir mais um piu sobre essa história.
Minha tia limpou delicadamente os lábios e levou a taça e a garrafa de vinho para o quarto junto com ela.
Jamais vou entender o que se passa na cabeça dessa gente.
Ouvi meu celular apitar do quarto indicando e chegou mensagem. Era a Jenna, pelo som da notificação. Prontamente fui ver do que se tratava, e assim que abri a mensagem eu me enchi de coragem outra vez.
Jeh ! 🏀
———————————————:a senhora blair me entregou uma imagem da menina que jogou isso na minha porta
:lina, ja sei quem foi que fez isso
CHUPA EU SABIA QUE IA DAR CERTO
:amanhã a gente vai na direção falar com a sua tia?
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𝘁𝗼𝗱𝗮𝘀 𝗮𝘀 𝘀𝘂𝗮𝘀 𝗰𝗼𝗿𝗲𝘀 . jenna ortega
Fanfiction★ 𓂃 𝘁𝗼𝗱𝗮𝘀 𝗮𝘀 𝘀𝘂𝗮𝘀 𝗰𝗼𝗿𝗲𝘀 " Ela é como uma estrela brilhante que eu jamais poderei alcançar. " Merlina está apaixonada pela garota da Califórnia, a quem lhe faz companhia todas as manhãs, com um sorriso contagiante, olhar encantador...