014 - Monstro

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Na quinta-feira, ontem, a Merlina não apareceu na escola

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Na quinta-feira, ontem, a Merlina não apareceu na escola. Eu ficaria menos preocupada se ela respondesse às minhas mensagens, mas ela visualiza e não responde nada.

Me sinto aflita por isso…

Eu deveria ir ao apartamento dela? Se ela não responde e nem aparece, deve haver algum motivo. Me recuso a ir conversar com a Jully.

A cada menina que entra nessa sala e não é ela eu me sinto mais ansiosa ainda. A sala já está quase cheia com todas as nossas colegas mas nada dela. Emma foi a última que entrou, e ela veio direto na minha direção. Apressada e estranha.

— Jenninha, você precisa ir num lugar. — Ela sussurrou em meu ouvido. — Tem uma área nessa escola que não é monitorada por câmeras porque a que fica lá faz dois anos que está queimada. Basta você seguir o corredor depois dos banheiros, você vai ver uma porta de dois lados. Entre nessa porta e suba as escadas até chegar próximo ao terraço. Ela está lá, te esperando para conversar.

— O que? Por que? Como assim?

— Ela me pediu para falar com você. Agora vai antes que a professora Charlotte apareça!

Saí da sala assim que ela terminou de falar.

Por que ela precisa que a gente se encontre em uma sala não monitorada? Não entendi.

Caminhei tão rápido que não percebi que o caminho até era longo. A porta não faz nenhum barulho quando abre, e não sei dizer se isso é preocupante ou não. Assim que terminei de subir as escadas, vi que havia outro lance de escadas virado para a direita. Quando virei à direita, encontrei a Lina escorada na parede, parecia imersa enquanto encarava o chão. Quando me viu, ela correu ao meu encontro se jogando nos meus braços. Não demorou para que eu a ouvisse chorar.

— O que aconteceu, Lina? O que foi? — Achei que ela ficaria calma se eu acariciasse seus cabelos, mas ela apenas apertou o abraço que me dava e chorou ainda mais. — Meu amor… Por que está chorando?

— Ela sabe de tudo, ela sabe de tudo, Nana. Ela sabe de mim, sabe sobre nós.

Senti o corpo gelar, na hora não pensei em mais nada. Isso não deveria ser um problema… Não é justo que seja.

Afastei-a o suficiente para ver seu rosto, ela estava com os olhos inchados e o rosto todo vermelho.

— Ela bateu em você? — Sequei as lágrimas que caíram de seus olhos. — Lina, ela bateu em você?

Ela balançou a cabeça negando. Dava para perceber o quão exausta estava, as olheiras embaixo dos olhos indicavam péssimas noites de sono.

— Ela não me bateu, Nana. Nunca fez isso. Mas, você sabe… As palavras doem muito mais. Elas deixam rasgos permanentes na alma, e eu não sei se um dia vou conseguir apagar isso da minha memória.

Tem tanto ódio que vem sendo acumulado dentro de mim, sinto que vou explodir a qualquer momento.

Queria poder reverter tudo isso.

— Vem, senta aqui. — Levei ela até os degraus e peguei água da minha mochila que ainda estava comigo. — Você precisa ficar calma, ok?

O que ela não deve ter ouvido para estar assim?

— Quando eu voltei para casa depois do dia que passamos juntas ela estava me esperando na sala. — Merlina respirou fundo antes de continuar. — Eu não sei como, mas acho que ela sabia sobre nós duas. E eu praticamente me entreguei, mas não tinha percebido… Ela pediu o meu celular e pediu para eu tirar a senha… E então ela…

Outra crise de choro…

— Tudo bem, não precisa continuar. Vem cá. — Ela deitou a cabeça em meu peito, abraçando o meu corpo com força enquanto não parava de chorar. — Tem alguma coisa que você possa fazer?

Ela ficou um tempo em silêncio.

— Esperar eu ser maior de idade para poder morar sozinha. Dinheiro não é um problema, essa sorte eu tenho, mas de resto…

— E o seu pai, Lina? Ele sabe que você é lésbica?

— Não. Ainda não contei para ele. Mas de que adianta agora? Minha tia com certeza vai falar com ele… Não acho que ele vá reagir de forma negativa, mas agora tenho medo.

Beijei o topo de sua cabeça. Ela se aconchegou melhor em meu abraço, e ficamos assim durante um bom tempo. Queria poder acabar com isso que ela está sentindo agora, mas a única coisa que consigo oferecer agora é o meu apoio.

De repente, foi como se uma lâmpada acendesse em cima da minha cabeça.

— Lembra ontem? Quando fechei a janela? — ela apenas assentiu. — Espero que eu esteja errada, mas, acho que sua tia mandou alguma aluna seguir você.

— O que?! — Merlina se levantou em um pulo. — Como assim, Nana? Do que está falando?

Mordi o lábio. Vai ser difícil dizer isso.

— Eu vi uma menina parada atrás de uma árvore, naquela praça de caminhada, sabe? Ela tinha uma câmera na mão. Eu não sei quem era, era difícil de reconhecer.

— Tem certeza que ela estava olhando para a sua janela? Não foi um engano, Nana?

Tenho certeza que não foi um engano.

— Se fotos nossas aparecerem naquele site, nós vamos ter certeza. Mas, sinceramente, não foi um engano. Quando ela percebeu que eu a vi, ela entrou em desespero e se escondeu atrás da árvore. Tenho certeza que não foi engano, Lina.

Ela escondeu o rosto nas mãos. Acho que já não tinha mais lágrimas para derramar, pois ela não chorou, ela ficou com raiva.

— Ela é um monstro, Nana. A mulher que me criou é um monstro.

𝘁𝗼𝗱𝗮𝘀 𝗮𝘀 𝘀𝘂𝗮𝘀 𝗰𝗼𝗿𝗲𝘀 . jenna ortega Onde histórias criam vida. Descubra agora