Culpa

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Pode conter gatilhos!

27 de setembro.

Julie Molina

Nós vemos certas coisas acontecendo em filmes e programas de TV e aí pensamos "isso nunca vai acontecer comigo", lembro de ver um episódio de Greys Anatomy com uma situação idêntica a essa, eu lembro de pensar que seria algo impossível de acontecer, eu realmente achei mas eu estava enganada.

— Só mais um pouco de força, Julie! você consegue! — a enfermeira tentava me dar apoio mas eu já não tinha mais forças nenhuma pra continuar.

—Julie, amor, continua — foi aí que lembrei que Luke estava ali, ele segurou minha mão com os olhos molhados de tanto que ele chorava.

Usei meus últimos segundos de força para finalmente acabar e quando acabou, eu não me senti melhor, eu me senti pior ainda porque ainda me restava um pouco de esperança que foi esmagada quando o quarto permaneceu em silêncio, sem um choro de criança, sem nada e então a enfermeira se virou pra mim, eu não sabia oque dizer, se tinha que dizer, não sabia oque sentir, eu não fazia a mínima ideia de praticamente nada nesse momento, eu só tinha uma certeza, meu mundo acabou.

— Você quer pegar ela? — foi a primeira coisa a se ouvir naquela sala.

—Ela? — Luke perguntou com um sorriso triste nos lábios— A gente nem... a gente nem teve tempo de... a gente nem... iríamos descobrir essa semana e...— e agora oque era possível ouvir, era o choro do garoto só meu lado.

Entregaram o corpinho sem vida da garotinha em meus braços e eu levei meus dedos até seu rostinho, um rostinho perfeito, 5 meses, faltava tão pouco, eu não pude segurar ela só mais um pouquinho, eu a perdi, eu perdi e eu não sinto absolutamente nada, eu não consigo sentir.

—Ela tem o seu nariz— Falei sem pensar e Luke levantou os olhos, eu só percebi que estava chorando quando Luke limpou minhas lágrimas.

—E a sua boca, ela é perfeita— falou pegando ela dos meus braços e podendo observar ela melhor.

Um mês depois...
27 de Outubro.

 A sensação que vai ter um filho é inexplicável, é muito difícil superar a perda, eu nunca vou superar essa perda, eu amei estar grávida, viver a maternidade, sentir ela se mexer, eu simplesmente amei isso com todas minhas forças, ela estava ali, crescendo na minha barriga durante alguns meses e carreguei para todos os lados, era minha filha que amava e que ainda não conhecia, me sinto sofrendo sozinha e sentindo solidão apesar do apoio da família.

Tentei sorrir pra acalmar os que me amam mas só sinto a tristeza de perder um bebê, eu sei que nunca vou esquecer minha Melodia, Melodia, esse era o nome dela pois foi a música que fez com que eu o pai dela nos unirmos e agora, todos os dias quero acordar e ver que tudo não passou de um sonho, eu me sinto no meio do mar, me afogando em dor profunda, peço todas as noites que a minha dor e a minha tristeza se torne em felicidade mas cada dia que passa, parece que isso nunca vai ser possível.

Esses dias tem sido horríveis, um pior que o outro, eu não tenho forças pra nada, toda a dor, tristeza que habitavam em mim se transformaram em um pesado sentimento de culpa, minha mãe tem me dado banho nos últimos dias, me tranquei no quarto e nem sei se ainda sei usar minhas pernas porque não dá, eu não mereço estar aqui, não mereço estar nesse mundo.

Eu não consigo olhar pro Luke porque ele deve me odiar, ele sem dúvidas me odeia e me culpa assim como eu me culpo e eu não posso, não consigo olhar pra ele e nesses dias em que ele tentou vir aqui me ver, eu não o deixei entrar, pedi para mandarem ele ir embora, ele deve estar doido para entrar e dizer na minha cara que eu não sou útil nem para gerar uma criança, que ele me odeia e que tudo isso é culpa minha mas eu não sou capaz de aguentar isso mesmo sabendo que é culpa minha.

—Julie, você tem que falar com ele— Medeia falou,  Lindsay e Flynn estavam com ela no meu quarto de frente pra mim enquanto eu encarava um ponto fixo na parede.

—O Luke tá sofrendo muito, assim como você, vocês dois perderam muito, não podem perder um ao outro— Flynn segurava minha mão tentando fazer com que eu finalmente fizesse contato visual.

—Juls, já tem um mês, eu sei que dói, sei que suas forças acabaram mas não pode continuar assim, você tem que seguir, tem que lutar pelos seus sonhos, segurar a mão do seu homem e superar isso junto com ele — Lindsay falou e então pela primeira vez nesse tempo todo, eu olhei pra outro ser humano, finalmente deixei de encarar o canto vazio da parede.

—O Luke deve me odiar — falar, uma coisa tão simples estava parecendo quase impossível de ser feito, parecia que eu estava aprendendo novamente.— Eu estraguei tudo.

Elas se entrolharam surpresas com o fato de eu ter me comunicado mas logo depois me olharam sérias.

—Julie, o Luke ama você, ele nunca seria capaz de te culpar por uma coisa dessas— Medeia disse e eu neguei com a cabeça.

—Eu não tô pronta pra isso, não dá, não consigo, não agora— falei nervosa e elas suspiraram.

Quando dei por mim, elas estavam me contando as fofocas dos últimos dias, as coisas que aconteceram na vida delas, Flynn conversou com o pai dela sobre minha situação na pizzaria e ele entendeu, Alex e Willie estão quase namorando oficialmente, Reggie escreveu várias músicas que segundo elas estão ótimas, por alguns momentos eu senti que as coisas podiam voltar ao normal, até eu ficar sozinha e perceber que não.

Destined - JukeOnde histórias criam vida. Descubra agora