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— Qual foi, diretor? O que tá pegando? – tô curioso e ansioso.

— Pode sair. – diz pro agente.

Jamerson sai da sala.

— Tem medo de ficar sozinho comigo não, diretor?

— Não. – coloca a arma sobre a mesa — Eu vou ser direto, porque eu acho que você deve estar atrasado com o seu banho de sol, café da manhã e essas coisas que os detentos têm horário marcado. Eu não quero mais saber dessa arruaça. É a segunda vez que tu vai pra solitária em menos de sete dias.

— Pode ficar tranquilo, diretor. O assunto foi resolvido. Pode crê que eu não pretendo mais ir pra lá. É daqui pra rua.

— Há há há. Tui é muito engraçado. Tu acha que vai ter mesmo o privilégio de sair daqui por bom comportamento? Acorda, miliciano.

— Pode dizer o que quiser. O deputado Adriano não vai me deixar aqui por mais tempo não. É só passar as eleições.

— Tem certeza disso? – coloca os pés sobre a mesa.

Sim, esse cara é tudo o que o Jamerson disse. Ele é muito pau no cu mesmo e não vai facilitar nem a minha e nem a vida de ninguém por aqui. Acho até que ele vai fazer de tudo pra piorar o que já não é bom.

— Eu tenho contato com o deputado. Ele não me falou de você. – coloca duas mãos sobre a pança — Quando fui designado pra vir pra cá, eu fui informado que tu estaria aqui e eu pensei: tava mesmo precisando de um desafio.

— E você viu o Adriano por aí?

— Sim. Jantei com ele e a esposa dele outro dia.

— Hmm..

— Fica com essa cara não. O deputado é um homem ocupado, só no gabinete dele ele dá conta de umas cinquenta pessoas. – risos — Diz pra mim. Qual foi o esquema?

— Que esquema, comédia?

— Teu com ele?

— Não sei do que tu tá falando.

— Não foi ele que mandou matar o Flávio?

— Flavio? Não sei do que tu tá falando.

— Sabe sim. Flávio, o secretário do gabinete dele. O Flávio sabia demais nera não?

— Diz logo o que tu quer? Tu não me chamou aqui só pra me ameaçar. Fosse isso teria mandado alguém fazer.

— Rapaz esperto. De início era só pra te conhecer mesmo. Vou falar com todos os detentos mais problemáticos. Acho que a gente vai se dar bem. – ele levanta uma sobrancelha e esse simples gesto me deixa cabreiro com esse cara.

O que ele tá querendo dizer com "se dar bem"?

Também acho que ele tá sabendo demais sobre um assunto que não era pra ter tanto conhecimento.

É verdade que o Adriano me disse pra não falar demais dele, mas eu tô em casa. Esse pessoal todo arrota santidade, mas são uns arrombados pervertidos do caralho.

Coço o saco com a mão dentro do short. Não sei fazer isso sem pegar no meu pau.

— E ai? – o diretor pergunta.

— O quê?

— Venceu? – risos.

— Hãm?

— Vai tomar banho, Victor, e não esquece o que eu disse. Quero que tu ande na linha. Posso facilitar a tua vida ou transformar ela em um inferno. Só depende de ti.

— Pode deixar, diretor. – dou aquela rápida cheirada na mão que eu cocei o saco e... acho que ele tá certo. Preciso de um banho — Queria pedir um favor pra tu.

— O que é? – ele fica interessado.

— Queria pedir pra tu me deixar fazer uma ligação pro deputado.

— Mas você tem o seu direito de fazer uma ligação.

— Do seu celular. Ele não atende o telefone da cadeia.

— Há há há!!! Deixa de palhaçada, Victor. Mal cheguei e tu já tá com essa de fazer piada com a minha cara, baitola?

— É sério.

O cara me olha de cima a baixo.

Já estou em pé, eu tava de saída quando pensei nessa possibilidade.

— Tua família não tem vindo aqui, né?

— O papo é contigo, diretor. – dou uma nova coçada no saco com a mão por dentro da roupa.

— Vou pensar no teu caso, seu lascado do carai. Sai da minha frente.

Saio da sala do cara me sentindo um merda.

Sabe quando que eu fui tratado assim quando tava à frente das milícias? Nunca. Quando a gente faz parte do crime, a gente não encontra muita gente que trate a gente assim porque as pessoas respeitam a gente e tals. Eu não sou de conversar muito não. Eu mato logo.

Foi, eu matei o Flávio, mas pra mim nem foi tão difícil assim fazer o serviço. Sim, eu sou um matador de aluguel também. Acredito que sou uma máquina de matar desde sempre. Cresci com isso e fui desenvolvendo à medida que passava por setores na polícia.

Fui pro exército quando eu era mais novo, mas foi só depois que eu consegui entrar na polícia civil que as coisas foram melhorando. Meu pai tinha um sonho de me ver nas forças armadas, mas ele comemorou quando eu passei no concurso da polícia civil. Se eu estudei? Claro que não. Ninguém estuda pra isso. A gente compra a prova. Já fui fazer o bagulho com a certeza que ia passar.

Infelizmente, depois de três anos servindo a coorporação, vi que não tinha mais para onde eu crescer dentro dela e pedi desligamento.

Há há há. Claro que eu não pedi pra sair de lá, fui colocado pra fora depois da ézima operação na qual eu matei o vagabundo. Porra. Vagabundo bom é vagabundo morto. Por isso comecei nas milícias em seguida. Tá certo. Não foi bem assim também. Eu já tava na milícia, porque dentro da coorporação existe um sistema e tals e um cara acaba convidando a gente e quando a gente se dá conta já tá envolvido até o pescoço. Todo mundo sabia, mas fazia vista grossa e então eu matei a minha primeira vítima política.

O Adriano me achou depois de as minhas histórias terem se espalhado e ele me contratava pra fazer segurança dele e eventualmente matar pra livrar a cara dele como quando tive que dar um fim em um jornalista que estava fazendo uma matéria sobre escândalos de corrupção envolvendo familiares ou quando ele me pediu pra dar um susto em um outro deputado que tava pedindo a cassação dele por crime de responsabilidade. A política tá cheia dessas coisas. Tudo que eu fiz até aí pro Adriano foi suave, mas foi quando matei o Flávio que as coisas ficaram de cabeça pra baixo. Fui preso e não teve como o cara me livrar da cadeia, o Adriano foi no meu julgamento pra falar com o juiz, mas não deu. Chega um momento na vida da gente (que faz coisa errada) que não tem amizade certa que consiga dar um jeito.

Fui preso, mas nunca deixei de acreditar que o Adriano me tiraria daqui. 

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