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Victor narrando

Escoro na parede e observo enquanto o Ceguinho e o Raimundinho alopram pra cima do "duende".

— Que é porra? – o cara diz — Vocês num deram a visão dos carai todo? Vão ficar embaçando aqui na minha vida, é porra?

— Fala direito com nois que ninguém tá aqui pra aguentar abuso teu não. – Ceguinho diz — O que tu tem aí dentro dessa sacola?

— Agora deu. É meu, cumpadi. Minha mãe trouxe pra mim.

— Ai tem bem uma pica de plástico porque ele não quer dizer pra gente. – Raimundo ri da piada paia.

— Bora, anão! Manda o papo reto. Diz o que tem nessa merda ai. – digo sem me aproximar.

— Vão se fuder, vocês. – pausa — Tô ligado. – olha pra mim — Tu num tem coragem de fazer nada comigo e ai manda o teus capacho, né miliciano da porra...?

— Fica na tua. – chego junto na brutalidade — Tá pensando que é quem? Vai querer crescer pra cima de mim de novo?

— Tu teve sorte que a mina te salvou. – ele me encara feio.

— Se liga porque tu num vai ter mais chance não, anão do cacete. Agora tu tem que fazer tudo o que eu mandar se não vai dar ruim pra tu.

Saio do caminho e Raimundo dá um soco na barriga do cara.

Ceguinho puxa a sacola que o cara tem na mão e um guarda aparece.

— Que tá pegando aqui?

— Nada não, chefe. – respondo e coloco um palito de fósforo (que eu peguei na cozinha) na boca.

— Se liga que a tua batata tá assando, Victor. Melhor tu andar na linha.

— Andar na linha o trem pega. – dou uma risada e os cara ri junto comigo.

— Vai rindo, vagabundo. – o agente sai de perto com um sorriso na cara.

Não sou amigo de todos os agentes dessa merda, mas eles mantêm um nível legal de respeito comigo porque sabem que eu sou da mesma laia deles. A gente faz parte das mesmas jogadas (ou fazia). A diferença é que eu consigo ser mais mortal do que eles. Mas confiar mesmo, só confio em mim, primeiramente e depois no Jamerson que é o cara que ajeita as parada tudo que eu preciso aqui dentro dessa porra.

— Fica de bico de fechado. – olho pro carinha — Aqui tem que dividir as paradas que tu receber da mamãezinha. A máxima dessa porra é que quem tem mais tem que dividir com quem não tem nada.

— E isso tá escrito onde? – o carinha tá encolhido na parede.

— No teu cu! – cresço pra cima dele — Eu faço as regras e mudo elas se eu achar necessário.

Puxo a sacola da mão do Ceguinho.

— O que tem aqui? – dou uma chafurdada dentro do monte de coisa — Hmm... Sabonete, cuequinha, short, camisinha... – olho pra ele — Tú é safado pra caralho né não vagabundo? – dou uma risada de deboche. — Hmm... bolinho da mamãe?

Pego sabonete, shampoo e o pedaço de bolo.

— Meu bolo, porra.

— Tô com fome e a comida da cadeia não é gostosa. – jogo a sacola no chão. — De resto nada disso me interessa não, valeu? Tô comendo ninguém nessa porra e também tuas roupa passa nem nas minhas pernas.

— Pô tô precisando mesmo de sabonete. – Raimundo sai do meu lado esfregando as mãos.

— Pega. – entrego um sabonete pra ele — Divide com o Ceguinho.

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