Claro que eu não vou atender nada agora.
Coloco minha saia, blusa, calço minha sapatilha bonequinha e coloco uma bíblia dentro da bolsa junto com o celular silenciado.
Na rua, percebo que alguns homens olham pra mim. Quando passo perto de um bêbado, ele faz gracinha, mas eu não dou trela. Não gosto dessas coisas e ainda mais quando o dito cujo é um homem que poderia ser o meu avô.
— Jemima! – grito do portão da casa dela.
— Oi, mulher! – ela vem toda feliz — A paz do senhor, irmã. – me abraça e eu não gosto do cheiro de perfume de cravo que ela usa.
Jemima é uma ótima pessoa, sempre alegre e muito temente a Deus. Nunca tive nada de ruim pra falar dela, pelo menos até hoje.
— A paz. – digo.
— Entra ai, irmã. – me dá espaço.
Passo pelo portão e adentro na casa um pouco mais humilde do que a minha.
Existe luxo na favela?
Sim. Existem pessoas que conseguem manter um padrão confortável, mas depende muito da organização e das posses de cada um. Lá em casa a gente até tem uma mesa de madeira boa, um sofá que a minha mãe mantém por décadas com capas desagradáveis por cima pra não rasgar, sujar ou manchar de maneira alguma, o piso foi revestido com cerâmica em alguns pontos da casa e as paredes são reformadas uma vez a cada dois anos ou sempre que precisam e isso pode demorar mais do que dois anos. Mas o quintal não é bem um luxo e o restante do nosso terreno não tem o zelo que poderia possuir tendo em vista que somos donos, de praticamente, a esquina inteira.
— O que vocês tão querendo fazer? – pergunto.
— Nada demais. – ela se aproxima colocando os fios louros cacheados atrás da orelha.
— Tipo?
— Amiga, chamei você, a Jocélia e a Ruth pra gente conversar. – dar de ombros e senta no sofá pondo os pés sobre eles — A gente pode falar de outras coisas além daquelas da igreja, né não?
— Sim. É verdade.
— Já ficou sabendo?
— O quê?
— Parece que a Jocelia também entrou no propósito pra casar. Ela e o Abrão já tavam se falando há um tempo.
— Sério? – fico tímida porque me sinto errada só de estar comentando sobre a vida de alguém sem que essa pessoa esteja presente.
E me sinto ainda pior porque na igreja do Abimael, nem mulher e nem homem podem ficar mantendo contato sem casar ou ter um compromisso de casamento antes. O pastor é bem rígido, ele sempre insiste que moças e rapazes tem que sentar em lados opostos se não forem casados ou membros da mesma família. Ele sempre diz que isso é pra conseguir manter a ordem e fazer com que os jovens foquem na palavra e não fiquem de gracinha.
Em parte, eu concordo com o pastor. Mesmo com todo esse cuidado ainda tem cada coisa que acontece.
— Jemima! – as meninas acabaram de chegar.
Jemima levanta e vai atender a porta.
— Oi! – ela diz.
— Eu trouxe umas coisa pra gente fazer brigadeiro. – não estou vendo porque fiquei no sofá enquanto a anfitriã atende o portão, mas pela voz acho que é a Jocélia.
— Eu não sei mexer no fogão. – Jemima ri alto.
— Armaria mulher. Vai casar nunca não é?
— O meu marido vai ter que contratar uma empregada. – continua brincando.
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Visita Íntima (morro) COMPLETO
RomanceCOMPLETO NA AMAZON, LINK NA BIO TRECHO: Acho que o que eles chamam de Pitbull é o cara que vi lá atrás. Estou perplexa que tudo isso esteja sendo feito por conta de uma coxa de frango. É real? Como pessoas pré-históricas, os homens que assistem come...