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Antes de tudo o terreno já foi murado, tem uma porta (chumbada ao tijolo cru) e ela está aberta.

Entro na propriedade e de cara vejo Osvaldo sem camisa carregando material de um lado a outro da construção.

— Ô de casa! – digo em tom bem humorado.

— Oi! – Osvaldo abre um sorrisão.

— Trouxe bolo e café pra merendar!

— Eba! – lá vem o Joaquim (o pedreiro de confiança do meu pai) — Essa vai ser uma boa esposa.

— Vai sim. – Osvaldo me olha todo besta e eu não consigo tirar os olhos dos peitos dele.

Osvaldo está sempre com o corpo coberto e usando roupas que não marcam. Ver ele usando apenas uma bermuda jeans e um boné é novo pra mim. Gosto do que vejo e me sinto um pouco atraída por ele. Claro que não é comparável com a estrutura do Victor, mas tem o seu espaço mesmo assim.

— Osvaldo. – entrego uma xícara de café pra ele e disfarço enquanto olho para os seus peitos de vez em quando.

— Aqui, Joaquim. – entrego o café — Querem bolo?

— Sim. Um pedaço bem grande. – Osvaldo ri alto.

— Aqui. – entrego o que ele pede — Aqui pro senhor. – dou o pedaço do pedreiro.

Pego a minha parcela de café e meu pedaço pequeno de bolo.

— Vai comer só isso?

— Eu não preciso de tanta energia. – mostro um sorriso.

— Entendo. – Osvaldo sorri como uma criança.

— Como estão aqui? Tá dando tudo certo ou algo não tá indo bem?

— O terreno é umido e a gente debateu como que ia ser melhor pra construir. Mas o baldame da casa vai ficar todo pronto ainda hoje.

— Vai ser uma casa linda.

— Você já consegue ver? Por que eu consigo imaginar tudo já.

— Aos poucos eu vou começar a vislumbrar. A gente tem tempo, né? – fico desconfortável.

— Ketlen. – ele para de mastigar e assume uma expressão mais "pesada" — Eu tava fazendo contas ontem e pensando nas coisas. A gente não vai poder fazer um festão de casamento não. Pelo menos não agora, mas pode ter certeza que mais pra frente vai dar certo.

— Eu entendo.

— O pastor já tá ajudando aqui com o material grosso e tu sabe que gasta muito cimento e...

— Não se preocupa com isso. Por mim pode ser tudo uma coisa muito simples. A gente se casa na igreja, assina os papéis no cartório e mamãe e eu fazemos umas comidas pro pessoal da igreja e vai ser isso. Não tenho essas vaidades não, Osvaldo.

— Obrigado por ser tão compreensiva. Eu tenho muita sorte que Deus colocou você no meu caminho.

— Vai dar certo. – não consigo ser recíproca com ele agora. Não sinto a mesma coisa. Ainda não tô vendo esse casamento como um ato de sorte e nem de amor. Pra mim são apenas convenções criadas pelo meu pai pra me livrar de um pecado que ele cometeu quando abandonou minha mãe sozinha comigo na barriga e depois engravidou ela novamente.

****

— Bora pra igreja, Jonas! – mamãe tá na sala gritando com o meu irmão como sempre.

— Aff, mãe. Eu não quero ir.

— Mas vai. Depois eu não quero as pessoas dizendo que eu não tenho moral e que enquanto eu tô na igreja buscando a Deus você tá no mundo fazendo festa com o anti-cristo.

— Eu não me importo com o que as pessoas vão pensar. Aff. Coisa chata. A gente vive em função do que o outro vai achar do que o outro vai dizer.

— E eu não quero o pastor jogando indireta na hora da pregação.

— Ele não vai fazer isso. Ele nunca nem se preocupou em ser pai.

— Cala a boca. Escuta uma coisa, menino: eu ainda sou a tua mãe e tu ainda é menor de idade. Quando tu tiver idade e emprego pra se mandar ai você vai poder fazer o que quiser da vida, mas enquanto estiver debaixo do meu teto, vai andar conforme a minha música. Lá na frente se a sua vida der errado, você nunca vai dizer que deu errado porque tu não tinha uma mãe.

— Pelo menos uma mãe, né? Porque pai mesmo a gente só tem contato com ele porque vamos à igreja, mas o papai não tá nem aí pra gente. Ele raramente vem aqui em casa; é uma vez por ano e ainda é pra ser feliz. Pensa que eu gostava quando os pivete me chamavam de filho do tiquim na escola e eu não podia dizer que o meu pai é o cara mais malaca do morro?

— Cala a boca. – mamãe diz de novo e eu sei que ela tá no limite.

— Para com isso, Jonas. Para de infernizar a mamãe. A gente não tá preocupada com o que ninguém vai dizer não, a gente não depende dos outros pra se salvar não. A salvação é individual e quem fala mal que preste contas com Deus depois. Mas se podemos te fazer ouvir um pouco da palavra de Deus pra tentar salvar você, então é isso o que faremos.

— Falou a santinha do pau oco. Não pode falar mal daquele canalha aqui dentro de casa que a mamãe fica irritada. Que foi? Eu sempre achei que a senhora ainda sentia alguma coisa por ele.

— Cala a boca! – mamãe dá uma tapa tão segura no jonas que o pescoço dele entorta pro lado — Tu vai pra igreja bem caladinho e eu não quero mais ouvir essa falta de respeito com o teu pai, não. Quando eu te repreendo, não é pensando nele não. É pensando em ti. Tu pensa que vai chegar onde com essa marra e essa falta de educação toda? Os presídios tão cheios de gente assim e enquanto eu puder te ensinar alguma coisa boa, eu vou fazer isso! Respeitar pai e mãe é um mandamento bíblico e tu vai seguir porque é só isso que tu tem que fazer! E o teu pai me deu essa casa que a gente mora. Tem homem dentro da favela que nunca deu nem bom dia pro filho. – arregala os olhos pra ele — Agora passa! – enxota ele que nem cachorro — Passa! – insiste porque ele faz corpo mole pra não sair de casa — Vamo todo mundo pra igreja! – mamãe não desiste nunca.

— Depois dessa lição de moral toda não tem nem como eu dizer que não vou. Se eu levei um tapa por falar a verdade, imagina o que a senhora não vai fazer se eu me negar a ir pra igreja...

— Aff. Deixa de falar besteira, Jonas. – digo enquanto meio que empurro ele pro lado de fora pra ver se apazigua mais a situação. 

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