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— Minha mãe ficou sabendo antes de eu descobrir que estava grávida. Ela me pegou com ele na sala de casa, mas não tinha o que ser feito. Ela me proibiu de ver o cara, mas eu nunca aceitei essa proibição. – pausa — Mas se você tá com medo de alguma coisa, fica assim não. Eu falo que você e Osvaldo vão ter trabalho porque são virgens. Quer dizer: você eu sei que é, mas ele a gente não sabe, né? Eu digo essas coisas, mas não é verdade. Na hora vocês vão saber como encaixar as coisas.

— Tá. – estou pensando em como vai ser.

— Você se toca?

— Como?

— Lá em baixo. – revira os olhos.

— Quando eu vou me lavar. – respondo com um pouco de constrangimento.

— Nunca sentiu nada? Nunca fez nada?

Eu não acredito que tô tendo essa conversa. Logo essa conversa. Quero procurar um buraco para enfiar a minha cabeça dentro. Acho que vou morrer de tão encabulada que estou.

Não posso continuar essa conversa. Não tenho uma relação muito boa com essas coisas. Se eu já toquei lá sem ser na hora de me lavar? Já! Mas não foi legal. Quer dizer: na hora foi muito bom e eu lembro de ter ido até o "céu", mas depois me senti a pior pessoa do mundo. Ninguém me viu, mas eu sei que Deus viu e não gosto de ter que pensar nisso. Eu sei que essas coisas são condenáveis e me deixam um pouco mais distante de Deus sempre que ouso fazê-las.

— Pode confiar. – Ruthe ainda está esperando a resposta.

Um carro para do outro lado da rua e buzina.

Olho na direção do barulho e reconheço o automóvel.

— É o Osvaldo. – aceno.

— Ele veio só no cheiro. – risos.

Osvaldo não parece estar aqui só para dar um "oi".

— Acho que ele quer que tu vá lá. – risos — Nada mais justo, né? Só não inventa de dar um bitoquinha nele porque se o pessoal na igreja ver vão dizer que tu vai casar grávida. – Ruthe adora uma piada.

— Vou lá ver o que ele quer. – levanto com a casquinha na mão e caminho na direção do carro.

— A paz do senhor, amor. – ele diz.

— A paz do senhor. – respondo tentando chupar o restante do sorvete às pressas antes que ele me suje toda.

— Tá fazendo o que ai essa hora? – olha o relógio no painel do carro.

— Vim tomar um sorvete com a Ruthe. Quer?

— Não. Obrigado. – sorri cínico e eu conheço esse sorriso do pessoal da igreja muito bem — Não é bom que fique andando com a Ruthe. – franze a testa — Eu não quero parecer que estou tentando te controlar ou mandar na sua vida. Nada disso. A gente vai casar e quero que seja dona de si. Quero que seja uma mulher independente. Vai trabalhar se quiser ou não, mas como seu futuro marido, quero o melhor pra tu, Ketlen e a Ruthe não é o melhor nem pra ela mesma.

Que tipo de pessoa ele pensa que eu sou? Talvez o Osvaldo acredite que eu sou uma pessoa facilmente manipulável, que não tem opinião e que vai pela cabeça de qualquer pessoa. Não gosto do tom que fala da Ruthe. Ela é tão digna de estar comigo como qualquer pessoa e que tipo de tesouro eu poderia ter no céu se escolhesse apenas as pessoas "santas" para andar comigo? Ruthe se sente sozinha e precisa de uma amiga. Não vou abandoná-la por conta do preconceito do Osvaldo e nem de ninguém.

Minha mãe, com toda a simplicidade dela, sempre prefere me deixar fazer as minhas escolhas. Não quero que o meu marido tente colocar algemas em mim.

— Obrigada pelo seu carinho e preocupação, mas estou fora de perigo ao lado da Ruthe. Pode confiar. Se estou com ela é porque quero ajudá-la.

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