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— Você é virgem e eu entendo o seu medo e suas dúvidas, mas entenda que não tem nada que você queira fazer hoje que não possa ser feito com o Osvaldo ao seu lado. – pausa — Eu não quero que seja como as outras garotas, não quero que sofra se misturando demais com as coisas do mundo e perigando perder o seu espaço no reino de Deus.

— Tá certo, pai.

— Também não quero que sofra por conta do pecado da sua mãe. A gente até vem do pecado, mas não somos obrigados a viver com essa maldição nas costas. – pausa — E sua mãe e seu irmão?

— Meu irmão saiu e minha mãe, acho que ela não tá bem.

— Hmm.. A idade chega primeiro na mulher, né filha? E seu irmão tá ficando sem controle. Sua mãe tem que dar um pouco mais de atenção a ele, naquele dia na pizzaria, ele quase conseguiu me deixar constrangido com as coisas que tava falando.

— Vou conversar com ela.

Ficamos calados olhando um para o outro.

— Era só isso. Agora vamos embora. – sorri — E você está muito bonita hoje. Meu orgulho. – passa o braço envolta do meu ombro depois que saímos da sala — Você tá se tornando uma mulher temente a Deus. Isso me dá muito orgulho filha.

— Tá certo. Tenho que ir também pai, acordo cedo pra ajudar na padaria.

— Ok.

Dou as costas e saio da igreja.

Como que eu posso continuar me sentindo bem depois de ouvir o que ele espera de mim? Como eu posso pensar em viver a minha vida quando fico sabendo pela boca do meu pai que tenho muito mais a pagar ao mundo do que cobrar dele? Já nasci com dívidas que vão além do meu entendimento. Depois de conversar com o pastor, descubro que preciso pagar até mesmo pelo erro da minha mãe. Respiro fundo e caminho pela rua rumo a minha casa.

— Ketlen. – Osvaldo para o carro ao meu lado.

— Osvaldo. – olho pra ele sem entusiasmo nenhum.

— Entra ai. Te levo pra casa.

— Não precisa.

— Faço questão. Depois, o que as pessoas vão dizer se você não entrar? Vai parecer que já começamos a brigar e nem estamos casados ainda. – sorri.

Entro no carro pra fazer o gosto dele.

— O que achou do culto? – ele pergunta.

— Achei legal. – não é uma completa mentira.

— A palavra do seu pai foi pra mim. Eu sabia que Deus ia mandar algo pra ele depois da conversa que tivemos.

— Por que você tem que contar tudo pra ele? Como eu vou poder confiar em ti pra ser o meu marido. – estou irritada com esse comportamento de cachorro vira–lata do Osvaldo.

— Nossa. Calma, Ketlen. O que aconteceu? Abimael é o nosso pastor. Sempre acho que ele tem os melhores conselhos.

— Toda vez que você vai falar com o pastor, ele faz alguma coisa, me chama a atenção, me faz cobranças e me pressiona. – nossa. O que tá acontecendo, não tô conseguindo me controlar, simplesmente estou deixando todo o meu estresse ser expressado.

— Desculpa.

— Desculpa. – noto que ele murchou com o meu tom de voz alterado — Desculpa é que às vezes parece que é tão difícil...

— Eu entendo. Eu sei como é. – o carro para em frente a minha casa — Eu tenho que trabalhar e sustentar a minha mãe e as coisas não tão fáceis lá no trabalho. Seu pai é o mais perto de um pai pra mim e ele me disse que depois que nós casarmos vou poder ir trabalhar com ele, mas ele quer que eu tome a frente de uma igreja que ele pretende abrir também.

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