Capítulo 2

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Elena Góes

Já passa das dez. Se eu demorar mais um pouco, vou perder o último ônibus para o meu bairro. E eu não tenho grana para um Uber. Dessa forma, assim que Clara cruza a porta da clínica veterinária onde trabalho, para a troca de turno, agarro minha bolsa, distribuo beijos no ar e vou me despedindo.

— Tchau, tchau, até amanhã!

A outra ri da minha pressa.

— Calma, garota? Onde é o incêndio?

— Estou tentando chegar em casa sem ser assaltada ou algo pior! Lembrando que você devia estar aqui há quinze minutos! — grito, já da calçada, apontando o dedo.

— Me perdoe! — ela vem até a porta de vidro me gritar de volta. — Prometo que não vai acontecer de novo!

— Vamos ver! — e corro até o ponto que fica no meio do quarteirão.

Em torno de dois minutos, meu ônibus para no meio fio. Suspiro aliviada, já no carro. Ao menos nesse horário há sempre um assento vazio. Acomodo-me em um deles e suspiro. Estou cansada. O dia foi longo.

Entrei no serviço às três e fiquei a tarde toda, assim com a noite, num turno que não é o meu. Costumo ficar no período da manhã, mas Clara me pediu que trocasse, para que ela fosse ao médico. No dia seguinte é minha folga. Graças a Deus! Tenho muita matéria da faculdade para colocar em ordem.

Trabalho numa clínica veterinária que nunca fecha suas portas. Como hoje é domingo, o ritmo por lá foi tranquilo e até pude estudar um pouco. Mas, em compensação, as ruas estão vazias, principalmente nos bairros mais afastados do centro, que é onde moro. A apreensão já me domina.

Queria poder morar num lugar um pouco melhor e não tão distante. Porém, outras opções custam dinheiro e nem eu, quanto Lorena, uma amiga com quem divido aluguel, temos como pagar. Outro suspiro, enquanto olho pela janela paisagem de pedra, como costumo chamar, por conta dos prédios, que passa. Já está bem complicado pagar a faculdade! Que dirá investir numa moradia melhor?

Pelo reflexo do vidro, noto o olhar insistente de um homem. Fico alarmada imediatamente e abraço minha mochila, não demonstrando que percebi o interesse dele. Homens me dão medo. Meu pai é o responsável por isso. E aquele é assustador, com seu capuz enfiado na cabeça, como se quisesse se esconder do mundo. Minha respiração se agita, mas tento disfarçar. Não quero deixar meu medo transparecer.

Quando o ônibus para no meu ponto, rogo a Deus que o homem não me acompanhe e que mais pessoas desçam comigo. Por sorte, um casal e uma senhora me acompanham e o sujeito estranho não.

Minha casa fica no quarteirão de baixo e há pouca iluminação por lá. É sempre uma tortura quando tenho de vir embora de ônibus à noite!

Para meu descontentamento, os outros ocupantes que desceram viram uma esquina antes de mim. Respirando fundo, sigo caminho.

Não demora e ouço passos atrás de mim. Alarmes soam na minha cabeça! A vontade de correr é imensa! Tento pensar que pode não ser nada, apenas outra pessoa seguindo caminho, mas minha mente já montou um cenário horroroso, onde sou assaltada ou... Corto o pensamento seguinte imediatamente e acelero meus passos. Infelizmente, quem quer que seja que está seguindo o mesmo caminho que eu, também o faz.

Estou a poucos metros da minha casa e, quando ensaio sair em disparada, sou agarrada pelos cabelos e puxada contra um muro, sob algumas árvores, o que torna o lugar muito escuro. Uma exclamação de horror me escapa e o grito fica preso na minha garganta. Começo a me debater, numa tentativa de escapar, mas logo sinto a lâmina gelada sob meu queixo e fico mortificada, imóvel, em choque!

Uma noite com o bilionário - Virgindade leiloadaOnde histórias criam vida. Descubra agora