Capítulo 6

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Eu preferia estar em casa.

Um programa como netflix e besteiras para comer parecia um caso tão especial na minha mente, mas algo meio utópico quando todas as minhas amigas querem jogar boliche, numa daquelas vontades espontâneas que a vida as vezes traz. E sim, eu fui arrastada pra isso.

Eu gosto de boliche, mas não sou tão boa. Nenhuma de nós, aliás. Mas é engraçado. Ver Kate jogar a bola na pista do lado e derrubar os pinos de um estranho foi o melhor momento.

Cindy até tentou, mas a bola mais leve nunca chegava a tempo, e nisso, ela precisava segurar com as duas mãos, e seu lançamento acabava sendo fraco demais.

Alice prendeu os dedos nos buracos da bola e um funcionário veio ajudar.

Sam, surpreendentemente, era a melhor de nós, mesmo não fazendo as posturas engraçadas que o cara da outra pista fazia nos strikes dele. Ela era como todos seus gestos, naturais e perfeitos. Mas tropeçou e deslizou algumas vezes, não se pode negar.

-- Eu quero jogar sinuca. -- Apontei para a mesa num canto mais distante, perto do bar. Cindy levantou os dedos no ar e os balançou, comemorando algo que finalmente era de seu agrado. Kate aceitou e ela e Alice formariam uma equipe, contra eu e a baixinha. Sam alegou estar cansada de ganhar, e quem somos nós para julgar?

Netflix, então, me pareceu um plano a ser concluído quando eu voltasse para casa.

Alice tinha estatura para comprar o que quisesse. Com seu corpão e suas feições, nenhum barman desconfiou dela ser menor de idade, por isso ela conseguia bebida alcóolica para as garotas mais uma vez, e assim como das outras vezes, eu não fazia parte daquilo. Embora Alice fosse a mais embriagada, Sam não perdia o posto de segundo lugar. A gente riu quando a loira se desequilibrou num daqueles banquinhos mais altos, mas no fim, estava tudo certo.

-- Acho que nunca a vi tão bêbada. -- Kate comentou. Ela estava passando um pouco daquele giz na ponta de seu taco, prontamente ao meu lado. Sorri e assenti, pois era óbvio que falava de Sam. Alice ficava bêbada o tempo todo.

-- Sammy me disse que só gosta quando somos só... nós. -- A garota cerrou os olhos, rindo no final.

-- Bom saber disso... -- A encarei.

-- Por quê?! -- Kate pigarreou.

-- Nada. Você também não bebe muito.

-- Eu prefiro dirigir com segurança... e não curto muito depender dos outros pra ir e vir. -- Logo a frente, Cindy usava um molde triangular para ajeitar as bolas acima da mesa, enquanto Alice e Sam conversavam.

-- Eu tenho uma pergunta. -- Encarei minha amiga, vendo seu semblante malicioso.

-- Já que você tem tanta certeza... o que quer perguntar?

-- Você e Sam se beijaram aquele outro dia.

-- De novo alguém perguntando sobre isso... olha, somos amigas. Aquilo foi uma brincadeira e é claro que tem amigos que brincam disso. Não é nada demais.

-- Mas você daria uns pegas nela? Tipo... de verdade? -- Arregalei meus olhos, negando rapidamente e tirando aquela imagem da minha cabeça antes que virasse uma loucura.

Acho que continuei negando pelos próximos dois minutos, enquanto Kate tentava argumentar prós e contras, e mesmo assim eu me fechava quanto aquele assunto.

Não que eu veja problemas, mas eu não quero que Sam seja uma das que eu 'dou uns pegas' ou algo do tipo. A gente não está a esse nível! Nem nunca estivemos! Eu a amo com todo meu ser, tenho um carinho maior do que imenso pela nossa amizade, cujo chega ser até mais do que discutível, e a resposta é óbvia. Sam se envolve com quem ela quer, e eu não sou uma dessas pessoas. Sou a que consola depois pelos erros, ou que parabeniza e fica feliz pelo sucesso.

-- Eu não a beijaria por nada dessa vida.

-- Mas e se acabar acontecendo?

-- Aí vai ter tido uma razão e um sentimento por ela, e o caso será outro totalmente diferente, Kate. -- Ela assentiu, se aproximando da mesa para dar a primeira tacada. -- Afinal, por que você e Alice querem saber a mesma coisa, basicamente?!

-- Ah... Acho que... bate uma esperança. Um sentimento de que vocês são mais shippaveis do que imaginávamos e sei lá. -- Kate bateu na bola branca, e sorriu quando uma das outras caiu num dos buracos. -- Alice. -- Chamou. -- ...as menores são nossas.

***

Com um placar vitorioso, onde eu e Cindy deixamos Alice e Kate no chinelo, estávamos com a bola preta na mesa, e o outro time ainda tinha cinco delas.

-- Eu preciso ir ao banheiro. -- Cindy falou. Alice, brava por estar perdendo, não demorou a falar.

-- Logo agora, Cindy Berman?! -- Cindy riu e encarou a mais alta desafiadoramente.

-- Por que?! Uma saidinha minha não vai fazer diferença no placar. Continuaremos ganhando de vocês duas até se Sam entrar no meu lugar.

-- Eu aceito. -- Então houve a gargalhada de todas nós, e a cara de bunda que Cindy fez, pois estava brincando e sabia que Sam poderia estragar tudo, contando o números de tacadas que ainda poderiam acontecer no jogo.

-- Ela aceita, Cindy. O que você vai fazer, uh?! -- Alice provocou. A baixinha bufou e virou.

-- Eu vou ao banheiro. -- E quando entregou o taco para Sam, por muito pouco não pegou na cabeça da mesma, que errou a mira na hora de segurar o objeto. Acho que todas nós gargalhamos, vendo Cindy se afastar, não sem antes dar o dedo do meio.

-- E como segura isso? -- Sam perguntou, olhando o objeto e colocando sobre a mesa o lado mais grosso.

-- Não, Sammy. Usa o outro lado... -- Me aproximei da loira e mostrei como fazia com os dedos, e ela repetiu meu gesto. Só segurei sua mão para colocar mais alinhada com a direção da bola branca e onde ela deveria bater.

-- Não tira a mão, preciso de ajuda. -- Pediu.

-- Eu estou te encoxando. -- Sorri, me afastando. Sam me encarou por cima de seus ombros e piscou o olho direito, rindo em seguida. -- Você consegue sozinha... acerte a bola preta.

Sam bateu e gargalhou quando conseguiu acertar a última bola no buraco, ouvindo as reclamações de Alice e as gargalhadas minhas e de Kate.

-- Não é possível! Sam está tão bêbada que a mira dela corrigiu, ficou boa e ela acertou isso! -- Kate comentou.

******

Sam precisou ser carregada até meu carro, pois as pedras do calçamento estavam atrapalhando todo o seu equilíbrio. Além disso, ela estava tão bêbada que decidi levá-la para casa e poupar um pequeno sermão de seus pais. Não que tia Dani e tio Ale fossem superprotetores e tals, Sam só estava realmente bêbada.

E isso era difícil de notar, enquanto ela dormia no banco do carona.

Dirigir foi tranquilo, exceto pelos momentos que ela me chamava, ria, e voltava a dormir.

Quando chegamos na minha casa, toquei seu braço e ela murmurou qualquer coisa.

-- Sammy, chegamos...

-- Isso é bom... -- Sam deitou seu corpo no meu e suspirou. -- Boa noite.

-- Eu juro que te amo muito pra lidar com esse tipo de coisa... -- Comentei, rindo sozinha, e notando ela sorrir em seguida.

Kissy Kissy Boo Boo ➸ Sameena IntersexualOnde histórias criam vida. Descubra agora