Capítulo 22

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-- Eu queria ter uma arara azul, aí eu chamaria ela de Plínton. -- Cindy disse, quebrando completamente o silêncio da mesa do refeitório.

Péssima hora, pois o leite que eu tomava saiu todo pelo meu nariz - sorte que eu tinha um guardanapo perto -, e só foi piorando de acordo com a risada das minhas amigas.

-- Eu sempre acho que você tá projetando uma espécie de avanço na sociedade, mas é isso que se passa na tua cabeça, Cindy Berman? -- Alice perguntou, milagrosamente não falando alto para provavelmente causar mais impacto.

-- Tinha uma arara no livro de biologia hoje mais cedo, eu fiquei pensando nela. -- Kate deu um tapinha na mesa, chamando nossa atenção.

-- E por falar em biodiversidade-

-- Ah não, Kate, fala traduzido. -- A loira de cabelos curtos reclamou. Um hábito seu de não entender o que Kate fala na maior parte do tempo, porque a garota insiste em explicar tudo muito rápido e com palavras difíceis quando fica ansiosa, faz ela a ignorar, às vezes, mas é engraçado. Assim, pelo menos, sabemos que Alice quer prestar atenção.

-- Duas palavras Alice; Deveríamos acampar. É de sua compreensão? -- Rapidamente fitei Sam, enquanto uma pequena discussão se iniciava naquela mesa.

Bom, tínhamos planejado, no caso eu e Sam, de irmos acampar juntas quando eu atingisse a maioridade, mas de repente, se fossemos para algum lugar possivelmente seguro, como um acampamento mesmo, pois sim, eles ainda existem, seria uma ideia aceitável. Nossos pais poderiam facilmente concordar com a ideia. Mas óbvio que eu deveria protestar isso em voz alta.

-- Meus pais só deixariam se fôssemos a um lugar especial para isso, Kate. -- Cindy assentiu para meu ponto, girando lentamente sua maçã acima da bandeja vermelha.

-- Ah, eu já pensei nisso. Na verdade, daí que veio a ideia: o melhor amigo do meu padrasto trabalha com acampamentos de verão, e como estamos quase entrando nessa época e muitos funcionários já começam a trabalhar lá, ele perguntou se eu não tinha interesse em ir conhecer, levar alguns amigos... vocês morreriam de fofura se o vissem; Senhor Fredricksen, como gentilmente o apelidei por tamanha semelhança com o personagem do filme up - altas aventuras. -- Sam apertou as próprias bochechas, escorando o cotovelo na mesa pois só eu tive a paciência de assistir aquele filme cinquenta vezes e em todas elas consolar seu choro. Acabei rindo, ao lembrar. -- Ele é uma cópia fiel, só que é um pouco mais baixo que Cindy-

-- Santo Deus, a quantos palmos ele está do chão, então?! -- Alice, como sempre, zoando a vítima que farejasse. E Cindy apenas riu. Quem vê de fora pensa que Cindy Berman fuma muita maconha podre ou cheira muita cocaína na areia.

-- Enfim. -- Kate continuou, após se recuperar de uma breve risada.

E eu olhei para baixo quando senti a mão de Sam na minha coxa, me pegando completamente desprevenida, mas não que aquilo fosse sexual. Pelo contrário. Nossa conexão era tão forte, que seus gestos passavam despercebidos por ela. Mas não por mim.

Vi os olhos da minha melhor amiga se moverem em minha direção, e quando olhei para baixo sinalizando, Sam corou e puxou a mão para si, me fazendo virar os olhos e puxar de volta, não bastando sentir seu toque, querendo mais, assim que coloquei minha mão sobre a sua. Sam sorriu, no final.

Então uma casca de banana acertando a bochecha da minha melhor amiga me fez arregalar os olhos e fitar Alice, obviamente, a causadora da aleatoriedade.

-- Ew! Achem um quarto! -- E óbvio que a gente riu depois.

Mas não posso negar que fiquei um pouco envergonhada com a colocação sexual da frase e a minha tensão com Sam que há dias...

Kissy Kissy Boo Boo ➸ Sameena IntersexualOnde histórias criam vida. Descubra agora