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O movimento de um corpo é uma ligação minuciosa de várias partes, que no final tornam-se uma só. São como teias de aranha em uma enorme proporção e em um tamanho minúsculo dentro de nós. Isso é bom. Nos dá a capacidade de nos expressarmos melhor com cada parte nossa quando sentimos algo tão intenso no coração, exatamente como Sam fazia quanto seu nacionalismo, se movimentando, só que de forma mais livre, ao som de uma música do Just Dance com sua irmã, Sofia.
Era legal ver elas dançando assim, na verdade. Era legal como nossa família se dava bem, e, hoje, no aniversário do tio Alejandro, era legal pensar em como o destino havia trabalhado tão bem a ponto de nos reunir como se fossemos Johnson-Fraser, ou Fraser-Johnson.
Isso me arrepiou dos pés até a cabeça, na verdade. Não sei a razão, talvez eu apenas tinha gostado muito da combinação dos nomes e de pertencer aos Frasers... e como eu queria que esse tipo de festa acontecesse todos os dias.
Sam girou a irmã, e como se não bastasse estar tão rápido, meu coração errou a batida quando recebi um sorriso da minha melhor amiga, notando que ela se aproximava ofegante após ser trocada por um violão pela própria irmã.
Sam sentou ao meu lado, mas mesmo assim não consegui parar de observar ela. E isso me assustaria um pouco se eu não estivesse tão impressionada com sua beleza.
Em seu sorriso, em seus olhos, e em tudo que faz ela sortuda pelos genes que compõem seu DNA. Vai ver, é porque nunca busquei a beleza externa de alguém, só que a sua me pareceu impossível de não reparar.
-- Tem alguma coisa no meu rosto? -- Perguntou. Sua pele brilhava por conta do pouco suor que sua breve dança tinha causado, mas não era definitivamente um problema.
-- Não... -- Eu respondi, colocando seu cabelo atrás da sua orelha, pois mesmo amarrado ele continuava com alguns fios bagunçados. Na verdade, esse detalhe combinava com Sam. Ficava bem nela.
Notei suas bochechas tomarem uma cor mais rosada, e acabei rindo.
Sam aproximou seu rosto de mim, me deixando um pouco perdida, mas logo recuperei minha cabeça, acariciando sua nuca com a mesma mão que anteriormente estava encarregada de afastar os fios de cabelo da frente de seu rosto.
-- Acho que... Aqui não é um bom lugar pra gente demonstrar carinho dessa forma, Sammy... -- Comentei. Ela riu, negando em seguida.
-- Ainda bem que você falou... -- Tocou minha mão, que não tinha sequer saído da região do seu pescoço. -- ... quer... subir para o meu quarto? -- Cerrei meus olhos, não resistindo quando ela fechou os olhos, sentindo meu toque, e sorrindo mais uma vez no final.
-- Tudo bem. -- Sam assentiu, agora tomando minha mão para levantar de onde estávamos.
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A primeira coisa que vi assim que chegamos no quarto da minha melhor amiga, foi a janela aberta com o balançar leve das cortinas. A visão do quarto de Sam era para a rua da frente, então nela pude ver as casas que comportavam aquele condomínio abaixo de um céu estrelado que merecia ser visto por todos, hoje. O barulho da porta que chamou minha atenção, apenas.
-- Você não vai ligar a luz? -- Perguntei. Não que aquilo me incomodasse, eu até achava melhor. Notei que ela negou, e começou a dar passos curtos.
E sim. Eu estive pensando sobre nós. Muito, até. Mas não me soquei em momento algum, até porque estou num processo lento de aceitar tudo isso que está acontecendo entre eu e Sam, ou melhor, aceitar os meus sentimentos sobre ela, sobre quando a vejo. Posso, na verdade, até dizer que estou tendo bastante sucesso em aceitar e não me sentir tão mal.
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Kissy Kissy Boo Boo ➸ Sameena Intersexual
FanfictionO afeto é o maior bem que o ser humano pode sentir pelo outro, óbvio, logo depois do amor e também o respeito. São coisas genuínas, que somente o tempo e a convivência - ou presença, se preferir chamar - proporcionam. Entretanto, Samantha descobriu...