Capítulo 13

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Ser e estar são palavras parecidas. Elas, na verdade, têm significados quase semelhantes. Se eu sou alguma coisa, entretanto, isso é o que me define, é o que me forma como pessoa e me faz desenvolver esse senso comum de ideias que aplico com minha vida, mas dependo totalmente do estar para tal condição.

Claro que estar feliz pode te tornar um ser alegre, mas é indiscutível que sorrir o tempo todo não significa uma felicidade utópica que a gente insiste em acreditar. Todos temos nossos momentos de recaída, e assim como não sabemos por muito tempo como ou quem somos, sabemos que estamos, em maioria dos casos.

E enquanto não sabemos quem somos, nossa identidade cobre isso com a ironia de termos nome e sobrenome. Isso, ao menos é ser alguém. Como nos sentimos e como estamos varia, e agora, enquanto vivo minha adolescência, sou apenas Deena Johnson, embora eu seja muitas outras coisas ao mesmo tempo, pois elas estão em mim, como estive destinada a me sentir dessa forma uma vez.

Eu sou intersexo, mas só porque me orgulho disso.

Eu sou sortuda, pois ninguém consegue me fazer tão bem quanto as pessoas que estão ao meu redor conseguem.

Ou seja: eu não sei quem sou, mas estou me sentindo o tempo todo.

-- Bom dia. -- Falei, me juntando à mesa onde só faltava Alice. Cindy e Kate responderam do mesmo jeito, Sam me sorriu como de costume, e eu pisquei um olho como sinal de cumprimento para lhe dar atenção. -- Onde está Alice?

-- Precioso que tenha sentido minha falta, mas eu estava com dor de barriga. Alarme falso, gente. -- A loira exclamou, de repente aparecendo e me empurrando para sentar também. Coitada de Sam, que quase foi lançada para fora do banco. -- Acho que estou nervosa.

-- Por quê? -- Kate perguntou, após rir da gentileza nada sutil e real da loira.

-- Fiz um teste no Buzzfeed, ele disse que eu ia morrer virgem. Então eu vou ficar tanto tempo sem fazer sexo outra vez que minha virgindade vai voltar? Isso é tipo abrir um iogurte; Você pode até tentar deixar para depois, mas certamente não vai ter a mesma graça porque lamber o plástico é o que torna aquilo emocionante. Estou apavorada...

-- Se faltar ser humano na terra, você me tem, Alice. -- Cindy estendeu a mão, me fazendo rir e arregalar os olhos com a probabilidade delas juntas. A loira sorriu e tocou os dedos de Cindy, colocando os dela ao lado. -- Jesus, que dedos enormes... olha, eu retiro a oferta.

-- Graças a Deus. Eu não ia cortar minhas unhas, e a parte gay do nosso grupo está COFnaminhadireitaCOF. -- Levantei a sobrancelha, pois mesmo que falasse rápido, eu ainda entendi a zoeira.

-- SIM, e com muito orgulho.

-- Eu não estava falando de você, Deena. -- Então eu gargalhei, notando que as bochechas de Sam, que estava quieta abrindo um chiclete anteriormente, nunca tinham ficado tão vermelhas por um simples comentário completamente pretensioso. Por tanto, eu não fui a única que riu, somente Sam que deixou de o fazer, levantando o dedo do meio para Alice.

No fundo, a gente sabia que não era nenhuma acusação séria. Era somente o jeito que Alice se apropriava para brincar, e a conhecendo bem, aquilo não era feito por mal.

-- Está tudo certo para nossa festinha particular na próxima semana? -- Alice perguntou, recebendo afirmações de todas as partes, e levantando em seguida. -- Tá. Cansei de vocês, tchau. -- Disse, nos fazendo rir e simplesmente se retirando logo depois.

-- Vocês querem ir na biblioteca comigo? -- Kate perguntou. Cindy respondeu positivamente, e bom, era algo que eu também estava disposta a fazer, isso antes de sentir Sam segurar minha mão por baixo da mesa. Eu a olhei, e talvez ela quisesse conversar sobre algo que só conseguia confiar a mim, então eu optei por dispensar o convite de Kate, que somente sorriu e juntamente de Cindy se afastou.

Sam soltou minha mão e não disse nada, pegando o celular ao invés de falar comigo.

-- O que está fazendo? -- Perguntei. Ela franziu o cenho, me olhando.

-- Jogando. Olha, eu sou um unicórnio e preciso aumentar meu território sem ser atingida por outros animais. -- Ri, escorando meu queixo em seu ombro e a assistindo jogar.

-- Você queria que eu ficasse para te ver jogar? -- Sam riu, negando sem tirar os olhos do aparelho celular.

-- Eu quis que ficasse porque... gosto de estar sozinha com você, confesso.

-- Isso pareceu tão malicioso na minha cabeça, mas tudo bem, vamos fingir que não. -- Ela rapidamente me encarou, pois estava ainda jogando.

-- Eu disse que gosto da sua presença, safada... -- Ri, assentindo. Era no mínimo acolhedor ter alguém como Sam. Eu não me sentia assim com mais ninguém, e isso era a prova da imensidão de nosso carinho uma pela outra. Isso era definitivamente ser melhor amigo.

-- Okay. Gosto da sua também. -- Confessei. Sam sorriu, mas deu uma espécie de grito abafado quando morreu no jogo, e eu gargalhei com sua irritação.

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É chato quando somos postos em posições que não nos pertence, e nos tornamos obrigados a lidar com isso pois ninguém confia no que gente diz, ou no que revelamos sentir.

Alice, por exemplo, insistia que eu e Sam tínhamos um relacionamento amoroso e escondíamos, nisso criou teorias, e uma delas era de que o Sr. e a Sra. Fraser eram homofóbicos, o que não faz sentido, já que sou assumida e sempre bem recebida naquela casa. Na verdade, nada disso se encaixa, pois até já cansei de negar estar em um relacionamento romântico com minha melhor amiga.

-- Alice, muitos melhores amigos dão selinhos despretensiosos e nada acontece depois. Eu sinto carinho por Sam, mas não atração... -- A loira virou os olhos, fechando o armário ao lado do meu e se encostando em seguida. Aproveitei para fazer o mesmo.

-- Tá! Okay, tudo bem. De qualquer forma, eu tenho essa prima que vive pegando o melhor amigo e os dois parecem irmãos. -- Franzi o cenho, notando que ela fez o mesmo em seguida. -- Como irmão... É forma de expressão, eu não quis dizer que eles cometem incesto-

-- É... então, se sua prima da selinhos no melhor amigo e não faz diferença.

-- Selinho? Selinho, selinho na amígdalas dela, só se for. -- Gargalhei, fazendo cara de nojo em seguida. Eu e Sam não... a gente não é assim... eu acho.

-- Pare de tentar me convencer a beijar Sam... -- Alice deu de ombros.

-- Não era você que fazia isso por sentir carinho? Acho que ela não se importaria com mais carinho. -- Será? Bom, seria engraçado ver sua reação caso eu a beijasse de verdade, sem dúvidas. E Sam entende que o que sentimos é nada além de carinho. -- Você está pensando sobre- eu sabia! Eu sabia que vocês estão-

-- Não! Talvez seja engraçado a reação dela... só isso. Não sei se vou beijá-la, não há necessidade... -- Alice resmungou, batendo a porta de seu armário e virando.

-- Vocês só fazem cu doce. Tomara que morra virgem, Deena! -- E sim, essa parte ela gritou alto, fazendo todos do corredor prestar atenção unicamente em mim, que sorri amarelo.

-- Eu sofro de insegurança... -- Menti, vendo as cabeças voltarem ao seus afazeres e me ignorando completamente, após as expressões completamente chocadas de todos.

Qual o problema dessa gente?! Bando de precoces!

Kissy Kissy Boo Boo ➸ Sameena IntersexualOnde histórias criam vida. Descubra agora