Capítulo 3

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-- Deena, você sabe o porquê do cachorro ter entrado na igreja? -- Meu pai perguntou, enquanto passava por trás de mim e ria sozinho.

-- Você já contou essa piada, pai.

-- Ela nunca vai perder a graça.

-- Michael, nunca teve. -- Minha mãe exclamou, me salvando daquela ao mesmo tempo em que me fazia sentir culpa por deixá-lo decepcionado.

-- É, eu vou melhorar isso. -- Eu tinha excelentes pais. Sem dúvidas.

-- Bom, Taylor já foi dormir, e eu farei o mesmo. -- Afirmei. Na verdade era só uma desculpa, pois eu precisava falar com Sam ainda, e eles provavelmente ficariam atrapalhando e elogiando minha amiga.

Assim que deitei na minha cama, coloquei os fones de ouvido e esperei a loira atender, então ela o fez.

-- Deena!

-- Hey, Sammy. Desculpe a demora para retornar... fui jantar e sabe como meus pais são... -- Ela riu.

-- Sem problemas, Dee. Bom, na verdade, eu liguei para chamar sua atenção nas minhas mensagens... mas já que estamos falando por aqui.

-- Você mandou mensagem? Ops, eu não vi... Desculpe, continue falando.

-- Eu queria saber se você poderia me indicar alguma música, só.

-- Sabe, você está falando com a pessoa certa... vou colocar no meu laptop aqui e a gente fica conversando e ouvindo música. Tudo bem?

-- Claro! -- E um minuto depois, eu já estava encolhida em baixo dos meus lençóis. A minha playlist começava a tocar baixinho, e Sam ainda conseguia ouvir perfeitamente pela ligação, então estava tudo certo.

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O silêncio quem guiava nossa chamada, agora, exceto pela música que tocava. Eu tinha meus olhos fechados, completamente relaxada. Sam respirava tranquilamente do outro lado da linha, e isso eu ouvia por conta do meu fone.

-- Como estão seus pais? -- Perguntou do nada, até me assustando.

-- Estão bem.

-- Eles são as melhores pessoas... lembra quando você tirou a carteira e uma semana depois seu pai pediu pra um amigo dele... aquele que é policial... te parar na rua e dar um sustinho? -- Ri baixinho, lembrando daquela história que era verdadeira.

Um amigo de infância do meu pai me parou na rua, desceu apontando arma e tudo, me fez descer da picape que eu tinha recém ganhado na época, colocou algemas em mim e disse que aquele veículo tinha sido roubado e que eu estava presa. Nunca senti tanto medo na minha vida.

Aí fomos até a delegacia e meu pai estava roxo de tanto rir quando cheguei e o encontrei lá. Foi um dia confuso. Aí Mike gravou tudo e postou na Internet.

Com essa razão todo mundo me conhecia, por conta dele e da minha mãe. Desde então, os dois têm um canal no YouTube, que está com quase quatrocentos mil inscritos, e minha vida virou um inferno nas horas vagas, assim como a da minha irmã, que também já sofreu com a zoeira da família Johnson.

O pior era quando meus pais chamavam minhas amigas para sacanear comigo.

Sam já participou. No dia, eles a adotaram e não me avisaram. Pior ainda; me ignoraram completamente. Até minha melhor amiga.

-- Você nem fale na loucura desses dois... senão já fico com vontade de chorar. -- Sam gargalhou. -- Acredita que ainda não me pagam uma psicóloga?!

-- Oh dó... se bem que você merecia...

-- Nah... eu tenho você. -- E um silêncio bom se instalou no quarto, até eu ouvir Sam bocejar. -- Caralho... já é duas da manhã...

-- Sim... Olha, o papo foi muito bom, mas estou quase apagando...

-- Tudo bem. Boa noite, Sammy. Durma bem.

-- Você também. -- Outro bocejo. -- Dee... Boa noite. Obrigada pelas músicas...

Então eu achei que ela iria desligar, mas aparentemente, Sam simplesmente capotou, e eu fiquei ouvindo ela ressonar baixinho.

Ri daquilo e suspirei, finalizando a chamada.

******

Vi Alice molhar o dedo na boca, logo levar o mesmo até a orelha de Cindy, que deu um pulo e franziu o cenho. Precisei segurar a risada nessa hora, pois a professora de álgebra era um cão de brava, e se notasse que havia alguém brincando na sua sala enquanto passava conteúdo, ferraria tal aluno sem dó nem piedade.

Mas quem disse que ficar sério era fácil quando se tem Alice na sala de aula?

Graças a Lana Del Rey o sinal bateu, e enquanto todo mundo tirava foto do quadro, minhas duas amigas vieram em minha direção. Cindy chegou e disse oi, logo depois começou a viajar, e Alice olhou para todos os lados antes de falar.

-- O que foi aquela coragem de Sam para te dar um selinho na festa de sexta?! O que está acontecendo, vocês duas... -- Levantei minha mão, a cortando enquanto minha confusão deveria aparecer nítida nas minhas feições.

-- Foi um desafio. Que você mesma lançou. Amizades como a nossa não são influenciadas por essa brincadeira de selinho... eu acho. -- Alice estava contendo sua zoeira. Isso era evidente pela forma que ela mordia o lábio e dava pulinhos que somente quem convive com ela é capaz de notar.

-- Você não ficou coisada? Feliz? Realizada?

-- Se você quer uma desculpa pra me dar um selinho também, não precisa ficar fazendo voltas em quem já teve oportunidade, Alice. Vem, aproveita sua chance. -- Fiz um biquinho, e Alice, com seu jeito Alice de ser, meteu a mão na minha cara, cobrindo ela toda pelos dedos tamanho Edward mãos de tesoura.

-- Que nojo sua nojenta. -- Sorri. -- Viu?! Maioria das amigas reagem assim uma com outra.

-- Mas você nunca pode generalizar as coisas. Isso entre nós é diferente, e foi só um selinho. Estávamos brincando, você sabe disso. -- Alice virou os olhos.

-- Po-ti-popopo- -- Cindy começou a rir e encaramos a garota ao mesmo tempo. -- No que você acha que ela está pensando? Em que lugar Cindy se encontra?"

-- Talvez ela esteja em New York, no Central Park com o Joey, o Chandler, o Ross, a Mônica, a Rachel e a Phoebe fazendo uma performance de Smelly cat. -- Alice gargalhou do meu comentário, porque sim, ela amava essa série assim como... o resto de nós.

-- Já eu penso que ela está recolhendo o lixo espacial dos anéis de Saturno enquanto ouve JLo. -- Franzi o cenho. -- Kate quem me disse que os anéis tinham isso.

-- E a terra que tá cheia de pessoas deixa gente como o Trump andar na rua... Isso é tão deprimente... Por que o mundo ainda não tem um anel desses?

-- Tem. Não um anel...

-- Ugh... está faltando espaço...

-- Filósofa contemporânea Johnson, Deena. Uh, além disso, Júpiter é gasoso. Parece que tem forma sólida, mas não é.

-- A terra é plana?

-- Se não fosse, o horizonte do mar seria íngreme.

-- Geóloga e Astrônoma Hart, Alice. -- Cindy nos fitou e arregalou os olhos.

-- O que?! A terra plana?! Não viaja Alice! -- Ri sozinha, visto que a mais alta fez uma careta engraçada na mesma hora.

-- Po-ti-popopo... Não viaja... Pelo amor, né Cindy, olha quem tá falando...

Kissy Kissy Boo Boo ➸ Sameena IntersexualOnde histórias criam vida. Descubra agora