vinte e sete.

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Point of View: Maya.
[🦋]

A casa estava escura e confesso que pensei em voltar pra casa algumas vezes, mas não custa tentar, né?

Na real, custa minha dignidade, dependendo do que vou encontrar ou ouvir.

Mas vale.

Apertei a campainha e fiquei encarando a porta, sem um sinal de vida lá dentro. Apertei a segunda vez e ouvi os latidos do Juan, mas nada. Ok, entendi que é um sinal do Universo pra eu desistir da ideia, aquietar e ir dormir.

Ai caralho, a luz acendeu.

- Oi... - Soltei assim que ele abriu a porta, de bermuda, all-star de cano alto e uma camisa xadrez ainda por fechar. Ficou me encarando por alguns segundos e me mediu, rindo.

- Já voltou do almoço? - Começou a fechar a camisa.

- Nós podemos conversar?

- Eu estou saindo. - O olhei. - O que? Não é só você que tem seus encontros. - Disse irônico e eu revirei os olhos, entrando.

- Ta, não acho que vá demorar. - Fechei a porta e só então vi o quanto ele tava lindo, cheiroso que só por Deus.

-To bem? - Perguntou debochado quando percebeu que eu o media.

- Ta lindo...

- Valeu, o foda é que eu realmente estou atrasado. Tem como falar outro dia?

- Não tem como, então pode falar pra ela esperar mais um pouquinho.

- Maya, não tem nada pra gente conversar. Porra, eu tenho cara de otário?

- Não, mas eu devo ter, né? De não poder ficar com mais ninguém, enquanto você...

- É diferente. - Foi pra cozinha e o acompanhei.

- Diferente no que, Oscar? O que você tem direito de fazer, eu também tenho. Se você quer uma mulher que abrace esse discursinho de "você é minha, mas eu sou de todas", pode procurar outra, porque em mim você não vai encontrar.

- E é isso que eu to indo fazer. Te falei assim que chegou. -  Eu ri baixinho, olhando pro teto, na intenção de disfarçar que meu olho ficou cheio de lágrimas.

- Tá... Isso é a sua cara, não sei porque achei que comigo seria diferente. - Obviamente a tática não deu certo e as lágrimas cairam. A humilhação só piora. 

Ele ficou me encarando, mas não falou nada, enquanto eu revirava os olhos, saindo da cozinha.

- Maya... - Andou até mim assim que abri a porta, a fechando com a mão.

- Não! Acho que agora realmente não temos mais nada pra conversar. Faça bom proveito hoje, espero que ela aceite ser sua cadelinha do jeitinho que você gosta.

- A diferença é que... - Respirou fundo, olhando pra cima. - A diferença é que eu sei que você gosta dele. Aparentemente você pensa muita merda de mim, mas acredite ou não, não ando me relacionando com mais ninguém, e mesmo se tivesse, poderia fuder com qualquer mulher desse bairro, meu último pensamento ainda seria você. A única filha da mãe capaz de entrar aqui. - Colocou minha mão no peito dele. - Foi você.

- Oscar

- Enquanto você sai pra almoçar com ele, sai pra conhecer a família dele. E eu sei muito bem como essa merda vai terminar. - Se afastou, voltando pra cozinha. - Essa é a diferença, Maya. Quer que eu fale mais alguma coisa?

- Oscar... - Passei a mão no rosto. - Eu e o Chris somos apenas amigos. Ele me pediu ajuda com a família dele hoje e eu fui, é isso que amigos fazem.

- Eu percebo a forma que vocês se olham, Maya. Não me joga essa de amigos que eu fico me sentindo mais otario ainda.

- Com carinho. Coisa que amigos também sentem um pelo outro. Aparentemente você pensa bastante merda de mim também, né? - Ele suspirou.

- Não penso. Mas sei o quanto você é foda, enquanto eu não tenho nada a te oferecer. Maya, eu sou apaixonado por você há anos e nem isso de forma clara consigo falar. Nem te mostrar o quanto é importante pra mim eu consigo. A vida me tornou assim, eu não me orgulho e sei que hora ou outra, você vai perceber isso. E te ver com um cara que é totalmente o contrário me deixa puto. Como disse, sei como isso vai terminar.

- Oscar, eu te conheço há anos e metade desse tempo, fui apaixonada por você. Mesmo de longe. Conheci outras pessoas, me envolvi e mesmo assim o que sinto por você continua. Acha mesmo que eu não vejo nada de bonito em você? Que eu te vejo vazio dessa forma? - Me aproximei dele.

- Pode até ver, mas ainda tem o fato da minha vida ser perigosa, niña. Não ligo se acontecer algo comigo, mas não me perdoaria se acontecesse alguma coisa com você por minha causa. - Passei a mão no seu peitoral, subindo pra sua nuca e roçando nossos labios, enquanto ele fechava os olhos.

- Estás seguro de que estás enamorado de mí?  - Olhei em seus olhos, ainda pertinho dos seus lábios.

- Muito. - Sussurrou, segurando minha nuca.

- Que bom, porque eu gosto de você. Gosto como meu homem, não só como amigo. E isso pra mim é o suficiente por enquanto... - Ele acariciou meu rosto, mordendo os lábios e me dando um beijo gostoso, cheirando meu pescoço em seguida.

- Minha gostosa. - Segurou meu rosto, enquanto eu já estava começando a derreter. Levei a mão até o bolso dele, pegando seu celular.

- Avisa pra ela que você não vai. - Beijei seu pescoço, enquanto ele dava uma risada safada, pegando o celular e colocando na pia. Fui abrindo os botões da sua camisa e quando terminei, ele se afastou. - O que?

- Vem cá. - Me levou até o banheiro, começando a encher a banheira. Eu sorri, tirei o salto e enquanto ela enchia, bolamos um beck e pegamos um vinho.

Ele entrou primeiro e após fazer um coque bem preso, entrei, ficando de costas, sentindo ele me abraçar por trás.

- Vou te falar uma parada, mas não quero que você fique se achando não, tá?

- Não posso prometer. - Eu ri.

- O Chris é gay. Não ficaria com ele nem se quisesse. Além do mais, a primeira pessoa que fiquei quando cheguei aqui foi você, e desde então permaneço assim. - Virei a garrafa de vinho, passando pra ele.

- Ele é gay? - Ri.

- Sim.

- E você sabia desde aquela época?

- Não, descobri esses dias.

- Tá, agora me surpreendeu. Mas, não ficar me achando depois de saber que sou o único homem de uma mulher dessas é dificil. - Ri, revirando os olhos. Ele subiu a mão até o meu pescoço e eu virei um pouco o rosto, recebendo um beijo molhado.

Eu realmente não queria mais nada.

Eu realmente não queria mais nada

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Delito | Oscar DiazOnde histórias criam vida. Descubra agora