Capítulo vinte e quatro.

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— Eu preciso fazer uma reverência pra essas pessoas que nem eu faço com
sua mãe?

Enid balança a cabeça, pegando um pequeno espelho cor-de-rosa com glitter para conferir a maquiagem.

— Não. Bom, sim, mais ou menos, mas não tanto. Uma pequena mesura basta e, sinceramente, lorde Henry nem é tão formal assim.

Estamos num SUV preto, a caminho do norte de Skye. Enid me contou que, até os anos setenta, a única maneira de chegar a Skye era de barco. Agora, graças a Deus, tem uma ponte. Eu e barcos não nos damos muito bem.

Claro, existe uma chance de esse fim de semana inteiro e eu não funcionarmos bem, de qualquer maneira. Não é como se eu esquecesse que Enid é uma princesa quando estamos em Nevermore – eu não conseguiria mesmo se tentasse –, mas este vai ser meu primeiro gostinho da verdadeira vida da realeza.

Eu me senti esquisita na casa de Jéssica por anos, e ela é apenas uma Pessoa Rica Comum. Não esse tipo de rica.

Com um suspiro, Enid guarda o espelho e se acomoda no assento.

— Você está nervosa.

Mostro o polegar e o dedo indicador quase se tocando.

— Um pouquinho — admito. — Mas sei que vou chamar lorde Henry de “meu lorde” e lady Ellis de “Sua Alteza Real” porque ela nasceu princesa e mantém o título. E sei que os copos pra água e vinho são diferentes e que vai ter um monte de talheres pra escolher.

Enid me dá um daqueles sorrisos que eu gosto tanto, dando um tapinha na minha perna.

— Olha só, acho que você está preparada!

Reviro os olhos, mas meu rosto está corado e o local em que ela está me tocando parece ainda mais quente.

Estúpida, estúpida, estúpida, eu fico me lembrando.

Essa paixãozinha por Enid é a coisa mais estúpida que eu poderia arrumar, por inúmeros motivos, mas desde o Poe Cup que as coisas estão diferentes entre a gente. Não só porque agora eu sei que ela também gosta de garotas, mas isso é parte da razão, preciso admitir. Meu cérebro quer me lembrar de que, a não ser pela sexualidade, Enid não é uma opção romântica para mim, mas é difícil lembrar disso quando ela está me olhando dessa maneira, quando estamos no banco detrás de um carro de luxo, avançando velozes através de uma das paisagens mais lindas que eu já vi.

Esse papo todo de princesa nunca me agradou muito quando eu era criança, mas isso? É, eu posso me acostumar com isso.

Então o carro está passando por uma longa entrada de cascalho e eu aperto as mãos de nervoso. O Lorde das Ilhas vive no primeiro Castelo de Verdade que eu já vi desde que cheguei à Escócia. Posso ter achado que Nevermore era um palácio na primeira vez que bati os olhos, mas, enquanto saio do carro e observo a estrutura à minha frente, eu percebo que Nevermore é apenas um colégio bem grande. Mas isso? Isso é um castelo.

Não é algo saído de um conto de fadas, todo bonito e delicado. Estranhamente, era o que eu estava imaginando mesmo. Isso é mais uma fortaleza medieval, com torres e muralhas, com seteiras na pedra para atirar as flechas.

— Por Deus, é monstruoso, não é? — Enid murmura ao meu lado, e olho para cima.

— É… incrível — digo finalmente, e ela olha para mim com os lábios levemente franzidos.

Eu queria poder ver seu rosto melhor, mas ela está usando um daqueles óculos escuros gigantescos de que ela gosta e, pelo menos dessa vez, o dia
está realmente claro e ensolarado.

𝙎𝙪𝙖 𝙖𝙡𝙩𝙚𝙯𝙖 𝙧𝙚𝙖𝙡 * 𝑊𝑒𝑛𝑐𝑙𝑎𝑖𝑟 (AU)Onde histórias criam vida. Descubra agora