CAPÍTULO 06

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Jantamos todos em silêncio, apenas Hadria tinha voltado para o quarto. Katherine ainda estava meio receosa e Zanya quase nem comeu.
 
  –Vou dar uma festa amanhã à noite, como um baile de máscaras.
 
  –Como? Ninguém tem roupas ou até mesmo máscaras. – disse Katherine.
  
–Mandei que algumas senhoras de confiança fizessem vestidos e máscaras para todos daqui, incluindo crianças.
  
–Mas por que vai dar uma festa, o que tem para comemorar? – perguntou Zanya franzindo o cenho.

   –Seria o aniversário de minha irmã, a mais nova. Faria 85 anos amanhã.
   
–Se a sua irmã mais nova iria fazer 85, quantos anos você tem? –  logo Katherine arregalou os olhos, aparentemente a pergunta apenas escapou de sua boca, mas esperou ansiosa pela resposta.

   –Não acho que isso seja de sua conta, mas tenho 90 anos.
 
   Se não fosse Pierre falando, eu com certeza não acreditaria que o mesmo tem essa idade. Ele parece mais jovial, como se tivesse uns 33 anos. Tem pele morena, olhos escuros quase preto. Seus cabelos são negros como a noite, nenhum fio sequer de cabelo branco. Lábios carnudos e rosados, era alto, devia ter pelo menos 1,85m de altura. Seu rosto era perfeito, mandíbula bem marcada, nenhuma mancha ou marcas, tinha também uma barba bem ralinha. Pierre, por mais desgraçado que tenha sido, é inteiramente atraente, tudo nele chama atenção.
  
–Então a lenda de que somos imortais é real?– perguntou Katherine com curiosidade.

  –Sim. Quantos anos vocês tem?

  –Tenho 25

  –Sou a mais nova, tenho 21– Achei que Zanya nem o responderia.
 
–Hadria tem 28 e eu tenho 32– falei.

  –Não sabia que era a mais velha.

   –Não sabia que você tinha 90 anos.
 
–O incêndio aconteceu há uns 80 anos, então creio que sua mãe ainda estava viva. O que me faz crer ainda mais que foram vocês que começaram o incêndio.

   –O que você sabe sobre minha mãe?

   –Sei que ela era bruxa, uma bruxa que tinha os mesmos poderes que você. Que teve duas filhas, mas apenas uma sobreviveu. Sua mãe morreu lutando por aquilo que acreditava, morreu defendendo seus direitos e tentando manter você viva e segura, já que seu pai descobriu o que ela havia feito e resolveu ir embora.
   
–O que ele descobriu?

    –Que sua mãe, a rainha Jezabel, colocou um feitiço nele. Seu pai, Rei Nikolau, sempre foi o mais bonito entre os reis. Seus cabelos castanhos escuros, olhos grandes e verdes como a grama do mais belo jardim. Sua pele morena por conta do sol o deixava ainda mais belo, seus olhos se destacavam. Era simpático e agradável com todos, não tinha quem não gostava dele –a não ser pelos reis que tinham inveja– era uma pessoa abençoada. Sua mãe o queria, queria intensamente que o homem mais belo fosse somente dela. Sendo assim, aprendeu a forçar laços de parceria, laços tão reais que seu pai nunca encontrou verdadeiramente sua parceira. Estava loucamente apaixonado por sua mãe. Uma noite, Jezabel foi condenada à fogueira por cometer bruxarias, ela até conseguiu fugir de todas aquelas pessoas que a cercavam –não sabemos como– e foi atrás de seu amado. Mas era tarde, Nikolau já havia partido.
    "Bruxos ou bruxas quando vão para a fogueira, perdem a metade de seu encanto, pois tiram deles todos aqueles acessórios que não queimam junto dela. No caso da sua mãe, foram pulseiras, colares, adagas e principalmente seu anel de casamento. Foi no instante que tiraram o anel dela, que o feitiço se desfez. Seu pai ficou enlouquecido, procurou outros bruxos para saber o que Jezabel havia feito. Ele não tinha certeza do que era, apenas um palpite, o qual ele queria que estivesse errado. Mas não achava normal ele ter parado de sentir qualquer coisa por ela do nada, pelo menos não sem um motivo. Foi aos bruxos e descobriu o que estava acontecendo, sem hesitar ou se importar com Jezabel, pegou suas coisas e imediatamente foi embora. Deixando para trás o reino e tudo que havia construído nele."
 
    Eu sabia que minha mãe era bruxa, mas tenho certeza que esse canalha está mentindo. Eu vou quebrar todos os ossos desse homem.
   
  –Depois que sua mãe voltou – continuou Pierre – ela se deparou com um castelo vazio, perguntou por ele a todas as pessoas do reino, mas ninguém o viu sair, a não ser pelos bruxos, mas os mesmos mantiveram silêncio. Jezabel passou dias trancada dentro do castelo, fechou as portas do reino para que ninguém pudesse lhe incomodar. Os que queriam queimar a mesma na fogueira foram executados, então pôde chorar e se aprofundar em sua depressão, dia após dia. Ninguém a viu mais, até uma vez em que apareceu uma menina de pelo menos uns 10 anos, no caso você. Ela voltou a abrir as portas do castelo, o reino todo deu uma festa de comemoração.
 
   Isso era verdade, me lembro como se fosse ontem que pedia para minha mãe se podia sair e brincar fora do castelo, mas ela nunca me deixou. Apenas com 10 anos, onde começou a me dar presentes –adagas, arco e flecha, roupas de couro para treino– os quais eu não tinha tanta vontade de brincar.
  
–Não tem como minha mãe ter feito isso, ela jamais forçaria um laço. Você está mentindo, e isso foi muito, muito cruel de sua parte.
   
–Não é mentira, se perguntar a qualquer um que vivenciou isso naquele tempo, vai lhe contar exatamente o que acabei de dizer.
 
  –Não acredito em você.
   
–Tudo bem, uma hora você saberá do que estou falando. Aliás, você sabe que Darren, seu querido parceiro, era um bruxo. Não sabe?

–Eu sei, mas não está insinuando que ele tenha feito algo assim, não é?

–De maneira nenhuma, afinal você o amava, creio eu.
   
Foi nesse momento que percebi o quão incerta eu estava em relação aos meus sentimentos por Darren nesses últimos dias. Mas até algumas semanas atrás eu ainda estava chorando por ele, então é claro que o amo. Mas por que estava com saudades do que tínhamos e do que ele foi pra mim ou apenas por um feitiço?
   
–Está tentando me colocar contra meu falecido marido?
   
–Não, apenas fiz uma pequena pergunta. Ficou incomodada?
  
–Não.
   
–Ótimo.
  
As meninas permaneciam caladas apenas escutando toda conversa, como eu queria sair logo daquele lugar. Queria dormir esses dois dias seguidos que ficaríamos aqui ainda.
 
  –Enquanto tiram as coisas da mesa, vamos voltar a falar sobre o baile. Vai ser a noite, espero que todos se divirtam, vou mandar entregar as roupas pela tarde. Todos entrarão para se limpar e ficarem apresentáveis. Espero que convença sua amiga a descer dessa vez e ficar conosco.
  
–Não tenho certeza se eu mesma vou participar disso.
  
–Claro que vai, é minha convidada de honra e vai dançar comigo.
  
–Quem te disse isso?

–Eu estou dizendo. Quero que seja minha companheira amanhã, não farei nada que não queira, mas terá que dançar pelo menos uma música comigo.
  
–É o que vamos ver.
  
–Por que ser tão cruel assim comigo?
  
–Você é podre.
  
–Não seja rude, eu sou um amor. Estou mantendo vocês aqui dentro e ainda vão ser bem tratadas como as belas damas que são, não estou lhes forçando a fazer nada que não queiram e além do mais, eu sou bonito. Qual mulher não gostaria de ter um homem bonito como eu disponibilizando tempo para ela?
   
Que homem convencido, não bastava ser só medíocre, tinha que ser convencido também. Não o respondi, apenas ergui uma de minhas sobrancelhas e me retirei da mesa.
   
Ouvi sua risada alta, eu queria esfregar a cara dele naquela mesa. As outras duas meninas vieram logo depois de mim, perguntaram se estava tudo bem, apenas assenti e permaneci em silêncio.
   
Hadria estava sentada em frente ao espelho quando entramos no quarto, ela mexia em seus cachos negros e volumosos. Fiquei um tempo admirando sua beleza de longe. Hadria era negra, herdou os olhos cor mel e o rosto perfeito de sua mãe. Tinha o quadril largo, sua cintura era bem marcada, pernas fartas e peitos pequenos. Os dons de controlar água herdou de seu pai, sempre fora mais conectada com rios e mares, se sentia leve quando estava na mesma.
   
Olhei para as outras duas, Katherine tinha os cabelos como um marrom chocolate, era lindo e brilhante. Seus olhos eram verdes, cor grama, era lindo e chamava atenção em qualquer lugar. Sua pele era branca, nem parecia que ficava no mesmo sol que Zanya, Hadria e eu. Tinha os lábios carnudos como os de seu pai, o seu poder fora herdado do mesmo. Uma coisa que peço para ela desde que nos conhecemos é para que fique invisível, principalmente para fazermos algumas vigarices. Saudades, por sinal. Seu corpo já era diferente do de Hadria, as pernas não eram finas e nem grossas, seus peitos eram pequenos e seu quadril também não era tão farto. Mas igualmente linda.
   
Já Zanya era loira, tinha sardas em seu rosto e era a mais baixa entre nós. Tem em média 1,60m de altura. Hadria tem 1,70m, Katherine entre 1,65m e 1,70m e eu tenho 1,68m. Zanya sempre fora a mais destacada entre nós, seu corpo parecia uma ampulheta, quadril largo, coxas grossas e seios fartos. Seus lábios eram grossos, igual ao das outras meninas e eu.
   
O meu era como o de Hadria, só com um pouco mais de peitos. Tenho a cor morena, mais clara que de hadria e mais escura que a de Katherine. Era satisfatório saber que seríamos para sempre jovens.
 
–O que foi? – perguntou Katherine.

–Nada, por quê?

–Está nos olhando fixamente sem falar nada.
  
–Desculpe, senhora, estava observando a beleza surreal de vocês.
     
Katherine gargalhou –Vou para meu quarto, boa noite para vocês.
  
–Boa noite – respondemos em uníssono.
  
–Eu posso dormir aqui com você? – me perguntou Zanya.
  
–Claro, pode sim.
    
Zanya pegou uma camisola dentro do roupeiro, o vestiu e foi correndo para a cama. Eu ri alto.
  
–Bom, eu também já vou para o quarto, espero estar viva amanhã. Sabe, não sei se vou conseguir dormir essa noite, pode ser que Pierre tente cortar minha cabeça enquanto durmo – disse Hadria.
  
–Não seja boba, ele precisa que a gente roube o livro pra ele, se for te matar, provavelmente será quando voltarmos.
 
  –Não tem medo dele? Ou vontade de estragar a vida dele.
   
–Estragar mais do que já está? Hadria, acha mesmo que Pierre é feliz? Pois tenho plena certeza que não.
   
–E como sabe? Tudo que vejo naqueles olhos são nojo de nós, vejo que se ele pudesse – ou quisesse – já teria nos matado.
  
–Sinto que ele não está bem, Pierre tem os olhos tristes e por vezes sombrios. Não acho que ele seja ou esteja feliz, algo me diz que Pierre nunca foi verdadeiramente feliz.
 
  –Você e essa sua mania de sentir o que os outros sentem. Bom eu vou dormir, boa noite a vocês.
   
–Boa noite, Hadria. Se ver ele em seu quarto, grite alto, eu o seguro para que corte sua cabeça como tanto deseja.
   
–Obrigada.
   
Procurei por algo para dormir e encontrei outra camisola, essa era branca e um pouco transparente. Quando fui deitar, ouço Zanya resmungando alguma coisa.
  
–Vamos comigo pegar água?
   
–Essa hora, Zanya? Deixa que eu vou, fique aí.
 
  A bonita não podia ter pegado antes? Vou o caminho todo resmungando.
 
  –Achei que tinha ido dormir, precisa de algo?
  
Ouço a voz de Pierre. Ele parece uma sombra.

Coroa de Sangue: Uma Vingança | Livro 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora