CAPÍTULO 16

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– Maya acorda, vamos nos atrasar, acorde!
  
   Dormi tão pesado depois daquilo que quase não acordei com Zanya me chamando.
   
– Calma, já acordei, já acordei.
   
– Finalmente. Sua roupa está dobrada em cima da penteadeira, se vista logo.
   
  Por que ela sempre acorda tão animada e com energia? Eu já acordo pensando em voltar a dormir.
   
  Me levantei preguiçosa e fui direto tomar um banho, Zanya disse que me esperaria lá embaixo, apenas assenti.
     
É hoje, é hoje que vamos para o meio daquela floresta. Pelo menos vamos pela manhã, a noite não deve ser tão agradável por lá.

Será que Eleanor vai conosco ou Pierre realmente mudou de ideia? Depois daquilo, não sei nem se quero ver Pierre.
     
– Bom dia, Hanover.
      
Me assustei ao escutar a voz de Hadria, estava perdida em meus pensamentos. Há quanto tempo ninguém me chamava pelo sobrenome?
      
Ela já estava vestida com sua roupa.
Aparentemente as nossas roupas eram iguais.

As calças cargo preta, uma blusa preta manga longa e um casaco marrom. Nas pernas tinham cintos que carregavam adagas, espadas, boomerangs e uma bolsinha que continham pequenas shuriken. As botas eram de couro preto e cano alto com cadarços.
    
  – Bom dia bonita. Já tomou café? – perguntei, me escorando na banheira.
     
– Ainda não, vou esperar você. Mas Zanya e Katherine já estão lá.
     
Quando Hadria falou no nome de Katherine, sua expressão mudou, pude fazer uma pequena linha se formando em sua testa.
       
– O que foi?
     
  – Nada demais, só… Katherine deve estar de mau humor nesses últimos dias. Falou que você sempre se atrasa para tudo, mandei ela calar a boca e ir cuidar da vida dela. Ela fechou a cara e depois saiu, não falei mais com ela.
     
Katherine realmente estava estranha nesses dias, mas nem estava dando tanta bola, às vezes ela tinha esses momentos.
     
– Deixe ela, deve estar naquele dias – falei dando risada.
      
– Vou sair para você se vestir logo, não demore.
     
– Obrigada. Mas espere no quarto mesmo, quero falar com você.
     
– O que eu fiz? – perguntou franzindo o cenho.
    
  – Ah não, você não fez nada. Mas Pierre sim. O que eu fiz foi certo? Não, mas agora já foi.
    
  – Aí Maya, não demore!
     
Hadria saiu rindo e me deixou sozinha novamente no banheiro. Segui seu comando e me apressei no banheiro.
     
Ele disse para Eleanor que me amava, que eu tinha seu coração. É verdade? Passei 10 anos odiando Pierre e desejando sua morte, assim como Malik matou Darren, para agora ele me amar? Ele me odiou igualmente? Eu realmente o odiei? E se eu amo Pierre? Ele não fez nada demais, sinto que posso confiar nele ainda.

O que me incomodou mesmo foi ele ter contado algumas coisas para aquela mulherzinha. Mas em uma coisa ela tinha razão: deixei Darren pegar minha coroa e tomar conta do Reino das Chamas.
    
Mas eu vou mudar isso, sou Maya Hanover, Rainha do Reino das Chamas, dona da coroa e de grande importância para um povo. Sou uma nobre, tenho sangue nobre. Eu vou tomar de volta tudo o que é meu por direito.
     
Sai do banheiro e vi Hadria deitada em minha cama. Para minha surpresa - ou desespero -, a vi com o anel nas mãos.
     
Oh porcaria.
   
– Você tem uma bela história para contar – disse seguido de uma risada sarcástica.
    
– Sim, tenho. Só não conte para as meninas.
    
– Você sabe que eu não conto.
   
Contei a ela toda a conversa que ouvi e as coisas que vi, tudo isso por culpa de uma dor de cabeça. Da próxima vez que sentir uma, eu com certeza não vou levantar.
   
A cada palavra contada, Hadria ria, ficava irritada, falava de Eleanor em tom de deboche.
    
– Espera, não me diga que depois de vocês se pegarem, ele ainda dormiu com Eleanor?
     
– Também pensei a mesma coisa, mas ele a segurou na cintura e a jogou no chão. Ela fez uma cara de malícia, pensou em outra coisa, mas Pierre a rejeitou. Disse para que saísse. Ela, óbvio, não aceitou, se levantou em um pulo e o beijou.
    
– Isso só pode ser brincadeira, que mulher maluca. Em pensar que ontem na festa a achei simpática, ingênuo da minha parte – Hadria falou com decepção, olhando para suas pernas.
      
– Ah não sei dizer o que senti quando vi ela – falei lembrei daquele momento e do que exatamente senti. Não me lembro.
     
– Tá, mas e esse anel, de onde você tirou? – vi a curiosidade dançar em seus olhos.
      
– Quando Pierre perdeu uma de suas jóias e nos mandou entrar pra limpar tudo até alguém encontrar, vi esse anel em uma caixa de vidro, você deve ter visto, estava em uma mesinha ao lado da escada.
     
Hadria ficou pensativa, provavelmente não notou nada, pois não liga para jóias ou essas coisas.
      
– Se vi, não me lembro. Mas continue.
    
  – Esse anel, em específico, sempre me chamou muito a atenção, toda vez que passava por ele eu ouvia ele me chamando, literalmente. Então ontem depois daquilo, resolvi pegar ele. Errado? Com certeza. Mas a gente vai para outro reino roubar um livro, não acho que um anel vá fazer alguma diferença.
       
– Verdade, nós vamos lá para roubar, tinha me esquecido disso – disse ela boquiaberta e desacreditada, provavelmente nunca roubou nada.
      
– Acho que não vamos só para roubar. Achei uma carta na mesa de Pierre, ele estava conversando com o outro Rei. Conrado o nome dele. Não parecia cartas de envio, sabe? Como posso explicar… parecia que estavam conversando por bilhetes, como se um mandasse para o outro depois de cada resposta. Mas enfim, na carta dizia que estão atacando o reino, provavelmente querem nossa ajuda para deter eles. Como uma pequena guerra, eu diria. Acho que a luta seria a palavra mais apropriada.
      
Antes que Hadria me respondesse, Zanya abriu a porta com tudo.
     
– Por tudo que seja sagrado a vocês, desçam logo. O café esfriou, os pães estão duros, os guardas e Pierre estão agitados às esperando para ir. Só faltam vocês. Andem logo.
     
– Estamos descendo agora mesmo – falei me levantando e indo em direção a porta.
    
– Ficamos conversando por tanto tempo assim? – sussurrou Hadria em meu ouvido.
     
– Pelo visto – falei, logo sorrimos – ah, me dê o anel, vou guardá-lo.
   
– Vai levar?
     
– Vou, não peguei para deixar escondido no quarto e Pierre encontrar.
    
Hadria me entregou o anel e o coloquei na pequena bolsa que estava em volta de minha cintura, onde se guardava as shuriken.
     
No final das escadas, Pierre esperava já impaciente, mas seu rosto mudou ao meu ver.
    
– Bom dia meninas. Maya vá tomar seu café, nós a esperamos. Mas não demore por favor.
     
– Não vou tomar café, já demoramos demais. Talvez eu coma alguma fruta, não estou com fome.
     
Pierre assentiu, ele sabe que não adiantaria discutir. Zanya, Katherine e Hadria foram para fora do castelo me esperar, pude ver Zanya aproveitando a brisa fresca e gélida da rua. Estava fresquinho hoje.
    
– Aqui está, Maya – disse uma voz para mim. Ella, a moça que estava em meu quarto na noite da festa.
     
– Obrigada, Ella – sorri e peguei as frutas que ela me trouxe, todas molhadas, já lavadas.
    
– Já se tratam pelo primeiro nome? – perguntou Pierre sorrindo para nós.
     
– Sim, senhora me deixa muito velha. E não vou chamar ela de criada ou algo assim.
    
– Está certa – sorriu – vamos?
     
Assenti e disparei em direção a porta.
    
– Não vão me esperar? – perguntou uma voz feminina. Era Eleanor. Mas que merda.
     
– Desculpa, mas te esperar por quê? – perguntei me fazendo de sonsa.
     
– Vou com vocês. Pierre não quer mais que eu vá, mas não me importo com o que ele quer, eu vou o pronto.
      
Os olhos de Pierre transbordavam raiva, ele realmente não queria que ela fosse.
     
– Por que você está fazendo isso? – indagou Pierre.
     
– Porquê quero provar a você que sou tão digna de aprovação quanto Maya.
     
– Que ridículo, achei que inveja não fosse do seu feitio – falei para Eleanor, e óbvio que ela retrucou.
     
– Eu com inveja de você? Ah, faça-me o favor. Eu só quero que Pierre confie novamente no meu potencial.
     
– Eu confio, você é uma ótima guerreira. Mas do que adianta ser uma ótima guerreira se é uma pessoa podre?
      
Eleanor não acreditou nas palavras de Pierre, tanto que fez pouco caso.
     
– Não sou uma pessoa podre, você só não me amou o suficiente.
     
– Você não tem amor a si mesma, por que acha que alguém teria? E aliás, você me traiu com Cadman. Com Cadaman.
    
Credo, que nojento. A olhei com os olhos arregalados, minha vontade era de rir, mas me contive.
    
– Ele me queria, você estava muito ocupado pensando nesse reino.
   
  – A gente pode só ir de uma vez? O tempo está passando – falei interrompendo a conversa antes que piorasse.
      
– Sim Maya, claro – disse Pierre pegando em minha mão e nos levando rumo a porta. Escutei Eleanor bufando atrás.
     
Ao sair, alguns soldados vieram nos entregar arcos e flechas, um mapa grande que mostrava todos os reinos e toda floresta e água em abundância.
    
  – A comida não terá como levar, mas darei um jeito nisso, não se preocupem – avisou Pierre.
    
  – O mapa ficará sob responsabilidade de Maya e Hadria, ou com quem vocês preferirem.
     
– Maya e Hadria são excelentes, elas são ótimas com mapas – disparou Katherine sorrindo. Sorri para ela em resposta.
    
   Já Eleanor, vi revirar seus olhos. O caminho seria longo e extremamente irritante.
      
– Me mostrem como estão seus poderes – ordenou Pierre, e assim fizemos.
     
Zanya fez galhos grossos subirem à nossa volta, nos colocando em uma jaula sem ter como sair. Pierre assentiu e sorriu em resposta.
      
Hadrian fez Eleanor se afogar e cuspir água pela boca.
     
– Sua idiota, eu vou acabar com você – gritou Eleanor avançando em Hadria. Mas a fiz parar com uma rajada forte de vento, a fazendo firmar muito mais os pés no chão. Fiz fogo dançar pelas minhas mãos e raios surgirem no céu.
      
– Você possui três tipos de magia? – indagou Eleanor, dando pequenos passos para trás.
      
– Sim – falei –, por quê?
      
– O fogo que você fez dançar aí, é um fogo antigo – falou olhando para mim e Pierre. – Como aprendeu a usar?
    
– Não sei bem, eu sempre tive esse poder, mas agora só está mais forte. Depois da guerra, para ser mais específica.
   
  – Foi você que explodiu em chamas naquele dia. Você matou metade da minha família – disse ela se aproximando de mim, vi seu punho se fechando e levantando para me dar um soco, mas antes que pudesse fazer, Katherine puxou seu braço e lhe acertou um soco no nariz.
     
– Você não foi a única que perdeu naquela guerra, todos nós perdemos alguém importante. Antes que machuque minha amiga, saiba, você vai se machucar primeiro – Katherine transbordava ódio na sua voz, mas me olhou com serenidade e se juntou ao meu lado.
     
– Por onde você chegou que não te vi? – perguntou Eleanor.
      
– Posso ficar invisível, e ah, a minha força multiplica quando desapareço, acho que você gostaria de testar. Todos nós já mostramos nossos poderes, e você, o que tem aí? – perguntou Katherine com curiosidade, embora sua voz carregasse o puro sarcasmo.
    
  – Sou rápida e forte.
     
– Não me pareceu isso a alguns segundos atrás – retrucou Zanya, fazendo até Pierre gargalhar.
      
– Eleanor só é rápida e forte quando vê o perigo em sua frente, se é inesperado, ela não irá se defender. Mas ela luta bem e tem ótimos disfarces – disparou Pierre.
     
– Ah ótimo, todos se juntaram para falar de mim agora. Dá só para irmos logo?
     
– Sim. Tem algo a mais que gostaria de nos dizer, Pierre? – perguntei.
     
  – Só para que tomem cuidado.
     
Assentimos e fomos em direção a floresta.
     
  – Maya espere – disse Pierre vindo em minha direção.
      
– O que foi? – mal terminei a pergunta e Pierre me beijou. Seu beijo foi lento e eletrizante. Quente e suave. Mas não demorado.

Senti suas mãos apertarem minha cintura e abracei seu pescoço. Eu sabia que estavam nos olhando, mas não me importei.
     
Pierre parou o beijo e encostou sua testa na minha, nossa diferença de altura fazendo ele se abaixar um pouco. Eu ri.
   
– Por favor, não demore para voltar – disse ele em meu ouvido. Lhe dei outro beijo como resposta, apertei sua mão e me virei de volta ao meu caminho, seria uma longa jornada, mas valeria a pena se no final eu encontrasse Pierre.
   
Eu o amo?

Coroa de Sangue: Uma Vingança | Livro 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora