CAPÍTULO 28

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Qual a chance de tudo isso acabar bem? Exatamente, zero. Pierre irá perder os amigos do reino, o restante de nós tenho certeza que perderá a sanidade indo atrás de Darren. É isso ou mais mortes. É isso ou minha família morta. A família que eu criei e me acolheu.
    
Ao cair da noite, Pierre garantiu que estaria tudo certo para nossa saída. O reino já não estava mais sendo atacado, pelo menos até o raiar do sol.

Voltamos para o quarto onde dormimos para Hadria e Mathew terem privacidade no deles, Pierre e eu contamos a eles como pegaríamos o livro, o que me fez perceber o quanto os irmãos são parecidos.

                  ****

    – Tudo bem, mas como faremos isso? – indagou Hadria – não sabemos onde está o livro e nem como procurar.
   
– Eu sei onde o livro está – disse Eleanor, parando em frente a porta. Eu havia me esquecido completamente dela, fiquei até feliz por vê-la bem.
   
– Então já era, ferrou – resmungou Hadria – o que vai querer em troca da localização?
   
Eleanor a encarou com desdém, me olhou de cima a baixo e olhou para Pierre. Algo passou por seus olhos, mas não soube o que era. Então entrou no quarto e trancou a porta, andou até mim e me abraçou.
   
– Fico feliz que esteja bem – sussurrou em meu ouvido. – E sabe, vocês até que combinam – Disse, se afastando e olhando novamente para Pierre, que assentiu como resposta.
   
– Vai nos dizer onde está o livro? – indagou Mathew.
   
– Sim, mas primeiro quero que saibam – disse ela, colocando as mãos nos bolsos do casaco aveludado – não vou ir com vocês, sei que talvez contassem comigo para algo, mas eu estou bem aqui. Vou ficar para ajudá-los. Não vou recusar ajuda caso vocês me queiram junto disso, vou arrumar minhas coisas com um único pedido seu, Maya. Mas se não for precisar, vou ficar aqui.
    
Eleanor não tinha porque ir junto, se ela não quisesse ir estava tudo bem, era uma escolha dela. Não poderia deixar que se arriscasse assim. Não queria que nenhum deles fizesse isso, Darren é perigoso e sabemos bem até onde ele iria para conseguir o que quer. Jamais pediria para Eleanor fazer isso. Aqui ela estaria mais segura.
    
– Está tudo bem, Eleanor. As meninas e Darren não são problemas seus e não vamos pedir para que você se arrisque assim com eles. Vamos pegar o livro e ir embora, sem mencionar você ou que esteve junto disso – disse a ela, que sorriu em resposta e suspirou, como se estivesse aliviada. E era verdade, Darren, Katherine e Zanya não eram problemas dela, não poderia pedir para que se envolvesse assim.
   
– O livro está em um chalé da cidade, sendo protegido por feéricos – disse Eleanor – a troca de turnos é de três em três horas, falta uma hora para a troca. Vou levá-los até lá e um de vocês entrará para pegar o livro. Não inventem de irem juntos, uma pessoa não chama tanta atenção como quatro. Principalmente como Mathew.
   
– O que você quis dizer com isso? – indagou Mathew.
   
– Quis dizer que você chama muita atenção, principalmente por ser estabanado.
    
Mathew a encarou desacreditado, arregalou os olhos e falou:
    
– Olha só, você não me conhece, não admito que fale assim de mim. Posso ser estabanado e brincalhão, mas sei me portar bem em situações que requerem seriedade.
   
Eleanor cerrou os olhos azuis em direção a Mathew, afastou os cabelos castanhos escuros do rosto e, quase como um sussurro, falou:
   
– Desculpe, não foi minha intenção insultá-lo.
   
– Nos diga como podemos pegar o livro sem ser pegos – falou Pierre, encerrando aquele assunto.
   
Eleanor recuou alguns passos para longe, como se quisesse sair logo dali.
   
– Feéricos são inteligentes e muito atenciosos em todas as situações, vocês precisarão ser mais inteligentes do que eles. Não tenho um jeito para entrar, já ajudei o suficiente dando a localização. Está na montanha mais alta da cidade, poucos vão lá e, quando vão, são mandados embora. Vão precisar de mais casacos, por ser montanha é mais frio.
   
Ao terminar, saiu do quarto e fechou a porta atrás de si, não esperou que falássemos mais nada. Pensei em ir atrás dela, mas Hadria chamou minha atenção.
   
– Tudo bem, mas como chegaremos lá? – perguntou minha amiga, mais para mim do que para os outros.
    
– Podemos chegar lá e falar: oi, viemos roubar um livro, pode nos deixar passar? – falou Pierre, estava tão sério e determinado, isso só poderia ser brincadeira.
    
– É uma boa ideia, irmãozinho, mas como chegaremos rápido lá? Precisaremos de cordas para subir – Mathew falava na mesma seriedade e determinação que Pierre. "É uma boa ideia"? Aonde isso é uma boa ideia?
    
– Vocês só podem estar brincando – falei – "uma boa ideia", o que diabos vocês têm na cabeça? Precisamos de um plano, não algo óbvio que possa tirar nossas vidas.
    
– Tudo bem, querida, o que sugere? – disse Mathew.
    
– Você chamou a minha querida, de querida? – perguntou Pierre, dando um passo à frente.
    
– Sim, algum problema irmão?
    
– Sim, resolveremos isso mais tarde.
   
Ambos caíram na gargalhada, me segurei para não rir também. Fiquei pensando, não temos outra opção a não ser subir pelas montanhas de corda ou dar sorte e escalar sem morrer. O jeito será dar sorte…
    
– Um momento, Maya – disse Mathew, enfatizando meu nome para Pierre –, posso teletransportar um de vocês até lá. Achei que Pierre tinha mencionado sobre isso, embora eu já tenha comentado uns dias atrás.
    
Tentei puxar na memória, mas aconteceram tantas coisas depois de encontrar Mathew… Por que ele não nos lembrou disso? 
    
– Não me lembrava disso – falei passando as mãos nos cabelos, estava atordoada com algo – tudo bem, então vamos arrumar nossas coisas e irmos logo, ouviram o que Eleanor disse, falta apenas uma hora para a troca.
     
Fui em direção a porta, eu precisava, por alguma razão, ficar a sós e respirar. Ao final da escada, encontro Vicente. Ele estava parado com os braços robustos marcados nos trajes de luta. Desde quando ele está aqui?
   
– Vicente? – chamei. Ele se virou rapidamente e abriu um sorriso ao me ver, o qual retribui.
   
– Maya, há quanto tempo – falou, me puxando para um abraço. Fiquei feliz por vê-lo ali, não nos falamos muito no reino de Brishighet, mas o suficiente para saber que ele é uma boa pessoa.
   
– Bom te ver – falei –, mas por que está aqui? Não me diga que Pierre te arrastou.
   
Ele riu e balançou a cabeça.
   
– Foi quase isso – rimos alto. Ainda não tinha visto Vicente fora do reino e nem sem seus trajes de mordomo do Rei. Ele não era feio, estava longe disso, Vicente parecia aqueles guerreiros habilidosos que treinam o tempo todo.
   
– Pierre sabe – disparou Vicente, afastando os cabelos dourados de seus olhos.
   
– O que ele sabe?
  
– Que você pegou o anel da caixa de vidro.
  
Parei de respirar por alguns segundos. Eu sabia que tinha errado em pegar o anel, mas eu nem ao menos lembrava dele depois que Mathew o pegou. Se Pierre sabia, por que não brigou comigo?
  
– Como ele soube? – perguntei, mesmo sendo óbvio a resposta, qualquer um daria falta daquele anel.
  
– Aquele anel é importante para Pierre, era da avó que faleceu. Ele a amava mais do que tudo no mundo, ele deve ter te contado apenas as partes ruins que teve com o pai, mas lhe digo: a avó dele também estava nessa história. Ela era doce e gentil, igual a mãe de Pierre, mas faleceu por um feitiço, Pierre ficou sem chão e sozinho com o pai. Foi horrível. Estou com a família dele desde o começo dos tempos, e em nenhum desses momentos vi o pai sendo amoroso com o filho, sempre o tratou com desdém. Com a menor ele era ainda mais ruim… O restante pergunte a ele, mas também porque só um igual pode pegar, como são parceiros, Pierre soube no mesmo instante que foi você.
   
Me senti mal por isso. Roubei o anel, escondi, quase o perdi, quase foi parar nas mãos - ou nas patas - de um fauno e agora está com Mathew. Como são irmãos, não acho que Mathew tenha perdido, seria importante para os dois. Mas ainda assim me sinto mal, não pensei que isso tivesse tanto valor a Pierre. E a Mathew.
  
– Eu não fazia ideia disso – falei, apertando os dedos e sentindo o coração acelerar. O motivo nem era tão ruim assim para me sentir desse jeito, por que estou assim?
   
– Está tudo bem, senhora, Mathew o entregou o anel, já está na proteção do rei – disse Vicente, me tranquilizando. Mas algo ainda estava errado.
  
– Não me chame de senhora, só Maya.
 
– Está bem, senhora – sorrindo, se afastou, deixando o caminho livre. Voltei a caminhar em direção a porta, eu ainda precisava de ar e agora meus pulmões pareciam funcionar menos. Subi correndo para o quarto.

             ***

   Eu sei, de algum jeito sei que o tempo está acabando. Preciso agir rápido. Já sei o que vou fazer…

Parei de arrumar as coisas para ir pegar o livro e procurei papel e caneta. Escrevi uma carta para Pierre e meus amigos.
    

Covardia os deixar? Não penso assim

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Covardia os deixar? Não penso assim. Estarão mais seguros longe de mim do que perto.

Amo ardentemente meus amigos e meu parceiro e sei que vão atrás de mim, mas por enquanto tenho que seguir sozinha.

Eu comecei tudo isso deixando que Darren me colocasse um feitiço… agora devo terminar.
  
Pelos meus amigos; por minha família; pelo meu parceiro e pela minha coroa de sangue

Coroa de Sangue: Uma Vingança | Livro 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora