CAPÍTULO 26

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    Maya

Se dormimos duas horas essa noite foi muito.

Nos levantamos cedo, ouvimos barulhos de bombas e gritos. Pierre e eu nos vestimos rápido, logo estávamos prontos para o que vinha.
  
Soldados e sentinelas rodeavam todos os cantos do reino, atacando qualquer coisa que estivesse pelo caminho.
   
Parei de me mover ao lembrar daquela guerra. Poderia passar quantos anos fossem, jamais me esqueceria do grito daqueles inocentes. Não deixarei que aconteça algo com esses.
   
Minhas roupas e cabelos estavam cobertos de sangue. Dos inimigos. Dos inúmeros soldados mandados para atacar o reino de gelo. Fico me perguntando, será que pensam em atacar os outros reinos também? Rezo aos deuses para que não.
    
O vento gélido daquele lugar parecia fazer os pequenos cortes das minhas mãos e bochechas parecerem piores do que realmente eram. Sentia o vento me cortando mais do que os soldados à minha volta. Minha magia do fogo não adiantava muito ali, fiz mais bom uso dos raios. Sentia a eletricidade pulsando nas veias, prontas para saírem novamente e eletrificar qualquer um. Deixei os raios tomarem conta das flechas que acertei nos soldados, vi o corpo deles caindo e se contorcendo no chão. Fiz bom uso da espada, cortei a cabeça de uns, atravessei o peito de outros… satisfeita, eu estava satisfeita.
    
Maya, ouço Pierre me chamar pelo laço. Você está bem?
    
Não o respondo, pois no mesmo instante, sinto algo chicotear meu rosto. Não vi nada vindo em minha direção, não sei o que era. Mas senti a dor que veio logo em seguida, senti o quente do meu sangue escorrer do rosto. Poderes da mente, deduzi, alguém me acertou com a própria mente.
   
Eu não sabia como estava meu rosto, mas a dor me deixou tonta, agoniada. Estava prestes a desmaiar ali mesmo. Caí de joelhos e vi o sangue escorrer para a neve branca. Minha visão falhou e fui com o corpo de encontro ao chão. Eu ainda sentia a dor.
   
Eu sabia que estava desmaiada, ou alguém tinha me atingido de forma brutal e eu morri, pois o lugar que eu estava agora vendo, não era o Reino de gelo.
    
O lugar à minha volta era escuro, ouvia-se inúmeros sons estranhos, bem no fundo, uma música de ninar. Apoiei as mãos no chão para me levantar. Cambaleei para o lado com a cabeça ainda girando, ao tentar me equilibrar, encosto em algo. Ou melhor, em alguém.
  
– Cuidado, meu bem. Você pode se machucar – "o alguém" falou em tom baixo, sua voz era grossa e profunda. Eu reconheci a voz. Era de Darren. Ele segurava meus braços com firmeza, como se estivesse com medo de que eu fugisse. Era exatamente isso que eu queria fazer, fugir dele.
   
Tentei me desvencilhar de seu toque, mas era inútil. Eu estava de costas para ele, senti quando passou os lábios na minha cabeça e cheirou meus cabelos. Em meu ouvido, sussurrou:
    
– Ah, eu senti tanto a sua falta – ele passava seus lábios agora pelo lóbulo de minha orelha, pescoço e ombro. Eu não podia me mexer. Não porque estava assustada, mas porque ele me paralisou. – Senti falta de te beijar, de fazer amor com você. Falta de você falando o quanto me amava.
    
Eu precisava me mover, sair dali. Precisava encontrar qualquer força dentro de mim que me fizesse tirar o feitiço dele e sair dali. Eu precisava acordar.
    
– Uma pena que você descobriu sobre a parecia – continuou ele –, se suas amigas não fossem tão enxeridas e chatas, talvez você ainda sentisse minha falta e seria tonta o suficiente para acreditar que eu a amava. Pobre Maya, acreditando em um final inexistente de felicidade. Mas tem uma coisa da qual eu sinto muita, muita falta – suas mãos agora saíram dos meus braços e desceram para minha cintura. Apertando e me puxando para mais perto de seu corpo. – De foder você. De sentir cada centímetro meu deslizando para dentro de você. Eu poderia fazer isso agora, sabe? Já que está paralisada e sob meu controle.
   
Darren solta uma risada rouca em meu ouvido, me apertando ainda mais contra seu corpo, fazendo eu sentir o volume no meio de suas pernas.

Eu queria vomitar, de nervosismo; nojo; raiva e tristeza. Eu não podia me mexer, falar e mal conseguia respirar no momento. Pedia aos deuses e a mãe para que me tirassem dali com vida. Ou para que pelo menos me desse força para conseguir me mexer.
    
Tentei falar, mas nada saiu, apenas sons estranhos e abafados.
    
– O que foi querida? Quer me falar algo? – esse desgraçado vai pagar muito caro quando eu botar as mãos nele. Esse filho da puta vai implorar para que  eu mate-o.
    
– Tudo bem, vou deixar você falar. Não desperdice essa oportunidade falando porcarias – disse ele dando uma risada sínica. Senti como se as fitas tivessem sido arrancadas de minha boca. Eu queria poder escolher as palavras certas antes de ser silenciada novamente, mas nada muito inteligente me passou pela cabeça.
   
– Aonde estou? Por que você está aqui? – questionei.
   
– Achei de verdade que você diria algo mais inteligente, ou talvez me mandaria para o inferno.
    
Não o respondi, tinha certeza de que a próxima coisa que eu faria era cuspir em seu rosto caso abrisse a boca de novo.

Coroa de Sangue: Uma Vingança | Livro 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora