CAPÍTULO 31

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Três desafios, três desafios e podemos ir embora. Três desafios e Darren será uma pessoa morta. Ou nós seremos pessoas mortas.

Depois de cuspir em minha cara, afirmando diversas vezes que ele venceria todos, Darren mandou que alguns homens me jogassem nesse lugar escuro e fedido. Não sei o que fez com Zanya e o restante dos meus amigos.

Como está Pierre? E Hadria, pela mãe, Hadria deve estar com tanta raiva neste momento, me dá medo só de pensar.
   
Primeiro desafio: achar a combinação certa de números do cadeado que tranca a sala de gás. Se não encontrar, serei uma pessoa morta. 
  
Segundo desafio: lutar contra a porcaria de um dragão. Eu nem sabia da existência de dragões nesse mundo, agora terei de vencer um.
  
Terceiro desafio: não me disseram. Então não faço ideia do que me espera.
   
Tentei observar o lugar, tinha uma cama ao lado esquerdo e uma pia ao lado direito. Os ferros davam a entender que estava em uma cela. Ótimo, presa por Darren de novo e sem meus poderes.

Para onde foram aquelas coisinhas que entraram em mim? Ainda os sinto correndo pelas minhas veias, implorando para serem soltos.
   
– Maya? – Ouço alguém chamar, não consigo ver quem é devido a escuridão daquele lugar. A voz era grossa e um pouco rouca, não tenho certeza de já ter ouvido.
   
– Olá? – mesmo não querendo, meus pés andaram até as barras de ferro.
   
– Darren mandou perguntar se já está pronta para seu primeiro desafio – disse, eu não conhecia aquele homem, quando chegou mais perto, pude ver seu rosto com mais clareza devido a pequena luz não muito clara que carregava consigo. Seus cabelos castanhos escuros caídos sobre os olhos verdes, tão verdes quanto o mais belo jardim. O encarei por um tempo, algo nele me chamava, vi nos seus olhos o mais puro carinho, um brilho tão verdadeiro que quase tive certeza ter um pingo de arrependimento ali.
   
– Maya? – chamou ele, me trazendo de volta de onde quer que eu estivesse.
   
Estou sempre pronta para qualquer coisa, embora eu nem ao menos tenha conseguido assimilar tudo que havia acontecido em tão poucas horas.

Pensei nos meus amigos e em mim, eu precisava estar pronta. Assenti para o homem que ainda me encarava, ele não parecia estar esperando por uma resposta, parecia em um eterno conflito interno.
   
O homem abriu a tranca da cela, me levando àquele corredor escuro, a luz que ele carregava consigo se apagou quando chegamos a sala do primeiro desafio. Antes de entrarmos, o homem estranho sussurrou em meu ouvido: 03 de maio de 1835. Então sumiu, sem dar explicações, sem me dizer seu nome e sem me dizer o que aquela data significava.

03 de maio de 1835.
   
Entrei naquela sala, era bem iluminada por luzes flutuantes, o lugar era pequeno e cheio de canos, com certeza entrei no meu próprio funeral. Cavei minha própria cova.

As paredes em volta lembravam plástico e vidro. Ouvi algo parecido com um "clique" quando cheguei ao centro daquela sala. Logo, vi Darren chegando perto de um dos vidros. Ao lado dele, estava Hadria na corrente, Pierre com um pano na boca e os braços amarrados, Zanya não estava lá e nem Katherine. Fiquei tão aliviada por não ver Mathew ou Eleanor ali…
  
– Está precisando de um banho e roupas novas. O que acha, Pierre? Não acha que sua parceira está mal vestida e suja? – senti a raiva irradiando nos olhos de Pierre, mas sei que ele não podia fazer nada, Darren paralisou a todos eles.
  
Odeio Darren. Odeio esse lugar. Odeio tudo o que aconteceu. Odeio que, mesmo que tenhamos poderes fortes o bastante para destruir um mundo, Darren ainda consegue nos prender usando um simples amuletinho.

Gostaria que fosse como nas histórias que contam para afastar o medo: todo monstro se alimenta do seu medo, seja mais corajosa do que ele. Com Darren não é assim, embora seja um monstro, não se alimenta do medo de outra pessoa.
  
– Você tem exatamente 3 minutos para acertar a senha que abre a porta da sala– disse Darren, apontando para a porta ao lado esquerdo da sala. – A senha contém oito dígitos e é uma data muito importante para mim. Mas não se demore muito, não acho que o irmão de seu parceiro queira morrer de novo.
   
Darren jogou a cabeça para trás e gargalhou, uma risada estridente, que fez Mathew, atrás de mim, fechar os olhos com força. Corri até ele e o abracei, sussurrei um pedido de desculpas e senti as lágrimas escorrerem pelas minhas bochechas. Com Mathew não era diferente, mas ele não me olhava com culpa, e sim desespero para sairmos dali logo.
  
Tudo bem, pense Maya, pense. O que Darren colocaria como senha? Tentei seu aniversário, 12 de abril de 1819. Errado, inferno. O dia da coroação, 23 de agosto de 1837. Errado, o que foi mais importante que a coroação para ele?
  
– Maya, pelos deuses, mulher – gritou Mathew – você entendeu que tem três, três minutos para abrir essa porcaria? Ande logo por tudo que for sagrado.
   
Que merda, eu não faço ideia. Comecei a colocar datas aleatórias que me lembrassem momentos com Darren. 08 de agosto de 1839, errado. 05 de junho de 1838, errado. Olhei para Darren, os dedos dele estavam em contagem regressiva. 10, 9, 8... 7 segundos para ligar o gás.
   
– Maya, pelo amor dos deuses – vociferou Mathew atrás de mim – lembre de qualquer data.
    
5, 4, 3…
 
Então lembrei. Lembrei que o homem que me trouxe até aqui falou uma data.

Antes de colocá-la, o gás ligou. Puxei o máximo de ar e prendi a respiração, Mathew pareceu fazer o mesmo.
   
O único problema é eu não lembrar que dia era, só o mês e o ano. 09 de maio de 1835, errado. 12 de maio de 1835, errado. Mathew começou a sufocar atrás de mim, Darren sorria, Hadria gritava e Pierre chorava.
  
Lembra, porra, lembra.
  
03 de maio de 1835. Abriu.
  
Agarrei Mathew e sai daquela sala, o sorriso de Darren logo se desfez, dando lugar a uma careta de reprovação.
  
– Você quase matou seu amigo – começou Darren – eu achei que você não saberia sobre essa data, mas tenho certeza de que colocou um número aleatório, pura sorte de principiante.
   
Não o respondi, não tenho certeza se conseguia dizer alguma coisa agora.
   
– Levem Maya de volta a cela dela, ela tem que estar bem descansada para amanhã – Darren só sabia gargalhar, tudo para ele até agora tem sido um jogo, se estivesse em um parque de diversões, duvido de que iria rir tanto assim.

Mas também vou rir quando pegar minha coroa de volta e soltar meus amigos. Também vou rir quando tirar Hadria daquela coleira e fazer Darren de meu novo animalzinho de estimação.
  
O guarda que me levou de volta não era o mesmo que me trouxe. Quem era aquele homem? Eu o veria novamente? Por que me olhava com tanto arrependimento e esperança?
  
Deitei na pequena cama de ferro e não me permiti chorar ali, por Darren e nem por nada.

Não sei quantas horas se passaram, mas fiquei um bom tempo deitada olhando para aquelas barras de ferro.

Tudo isso aconteceu porque achei que estava apaixonada. Tudo isso está acontecendo porque me apaixonei por Pierre, Zanya me contou antes de nos separarem de novo.
   
" Darren está com raiva porque você ama Pierre, porque são parceiros e estarão juntos para sempre. Darren não vai mais poder te manipular como antes. Ele está com raiva."
   
Realmente, amo Pierre, o fato de que vamos ficar juntos para sempre é o motivo de ainda continuar. O fato de salvar minhas amigas é o motivo para continuar. Eu sou o meu motivo para continuar.
 
– Olá, Maya – já é outro dia? Já estão me chamando para ir matar um dragão? Me levantei rápido e esperei a dona da voz aparecer.
 
– Olá? – falei, a voz baixa, quase um sussurro.
 
– Vai precisar de forças para o próximo desafio – falou, a voz calma e aveludada, transmitia uma paz gigante.
 
– É, você tem razão – concordei.
  
A dona daquela voz enfim apareceu, os cabelos negros e grossos caídos nos ombros, o corpo alto e todo farto. Os olhos… os olhos negros como uma noite sem estrelas. Olhei para o fiapo de luz azul em sua mão, o anel. É a avó de Pierre e Mathew.
  
– Isso é um presente, por ter salvo a vida de Mathew hoje e outras vezes, e por ter puxado Pierre novamente para o caminho certo. Por ter mostrado a ele um fio de esperança e a oportunidade de poder amar com o coração. E, graças a você, também pude voltar e ver meus meninos de novo. Você me ouviu te chamar na caixa, você ouviu seu coração e sua intuição. Amanhã isso irá te ajudar, não o tire, sairá assim que não precisar mais da ajuda dele.
   
Senti uma leve brisa beijar meu rosto, a mulher à minha frente estendeu sua mão para as minhas e me entregou seu anel.

A magia que ainda estava dentro de mim dançou de alegria quando coloquei o anel no meu dedo. Então ela sumiu, foi embora como aquele homem, como mágica.

Coroa de Sangue: Uma Vingança | Livro 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora