CAPÍTULO 24

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   Pierre
   
Meu coração batia descompassado. Meu irmão estava de volta, o homem que eu vi morrer estava vivo à minha frente. Havia mais perguntas do que respostas, mas as teria ainda hoje.

E Maya, ela está aqui. Respirando em meu ouvido enquanto me envolve em um abraço quente e aconchegante, estar com Maya é como voltar aos 5 anos de idade, onde eu ainda sentia o abraço caloroso de minha mãe. Maya era lar – Meu lar. E eu pretendia contar isso a ela hoje, sobre a parceria e o quanto a quero para sempre comigo.
   
– Tudo bem? – perguntou Maya, com aquela voz doce. A olhei de cima a baixo, analisando cada centímetro de seu corpo. Já tinha passeado com minhas mãos por ali, mas queria lamber cada parte dele hoje. Passei as mãos em seus cabelos e beijei sua testa.
   
– Tem como não estar? – falei sorrindo – meu irmão está vivo e você está aqui.
   
Ela riu anasalado, encostando sua testa em meu peito.
   
– E você… como está?
   
– Cansada, com fome e claramente precisando de um banho – disse se afastando e olhando para seu corpo – mas antes eu quero fazer uma pergunta. Eu ia esperar até depois do jantar, mas já esperei por uma semana e isso não sai da minha cabeça.
    
Maya estava séria, hesitava vários passos para longe de mim. Se escorou na parede estrelada e cruzou os braços, seus olhos fixos nos meus. Senti um frio na barriga e um choque subir pela espinha.
   
– Pode falar – falei, segurando para não engolir em seco.
  
– Por que não me contou sobre a parceria?
   
Perdi o ar. Senti os ombros tensos e a tremedeira. Se meu coração já estava descompassado antes, imagina agora. Não me mexi, mal pensei no que responder. A não ser por isso:
   
– Como soube? – perguntei, a voz trêmula pelo nervosismo do que aconteceria depois.
  
– Não, você não tem direito a perguntas. Apenas responda as minhas – disse séria – por que não contou?
   
– Eu ia te contar…
   
– Quando?
   
– Hoje, depois do jantar.
   
– Você teve dez, dez anos para me contar, e ia me contar hoje a noite? Por que só agora?
   
– Antes eu não tinha certeza. Passei a maior parte desse tempo fora tentando entender por que eu sentia o laço mas não te encontrava. Só tive certeza quando você estava na minha frente, aquele dia que Cadman e eu pedimos para que você viesse para cá. Por isso pedi que passassem aqueles dias no castelo. Queria ficar perto de você e tentar te provar que não sou o monstro que me pintaram. Que eu mesmo pintei e mantive durante anos. Eu queria aprender pelo menos em três dias como ser melhor para você.
    
Uma pausa, ela me olhava em silêncio, esperando por um motivo melhor, provavelmente. Eu mal conseguia sustentar meu corpo em pé.
    
– Não te contei porque tive medo – prossegui – medo de você me rejeitar e se afastar, não querer saber de mim. Eu tirei tudo o que você tinha. Seu reino, seu marido, sua vida no castelo. Tirei pessoas que você amava e que lhe amavam. Eu não sabia quem você era, achei que fosse inimiga. Não sabia que eu iria amá-la tanto. E você acreditava tanto no amor de Darren, sentia falta e não gostava de mim. Não quis tornar isso mais complicado para você, jamais acreditaria no Reino inimigo. 
    
Maya desviou seus olhos para o chão, não estava prestando atenção nele, mas sim pensando em algo.

Cada vez que ela não me respondia era como um nó a mais na minha garganta. Me sentei na cama e apoiei o rosto nas mãos. Ela não tem motivos para me aceitar depois de eu esconder isso dela.

Por mais que eu a ame e deseje, ela tem a escolha de não sentir o mesmo. E vou aceitar qualquer decisão que ela tomar sobre isso.
    
– Pelo que conheço de Hadria, ela deve estar tomando um banho longo e provavelmente sozinha. Logo, Mathew está sentado na cama ou observando o quarto. Vá falar com ele, seu irmão. Matar a saudade e botar os assuntos em dia, ele tem muito o que contar – era isso? Só isso? Ela irá me rejeitar.
   
Assenti e me levantei, indo em direção a porta.
   
– Sei que está esperando por uma resposta minha – disse ela, indo em direção ao banheiro – mas preciso pensar. Tomar um banho e comer algo. Depois conversamos sobre isso de novo.
    
Não respondi, a observei entrar no banheiro e ouvi o barulho da água caindo pela banheira.

Coroa de Sangue: Uma Vingança | Livro 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora