Capítulo 22

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Fomos até a varanda do lado direito da casa. Ainda era possível ouvir a música, mas o ambiente era mais reservado, e estávamos só nós dois. O vento soprou meu cabelo, e eu precisei cruzar os braços ao sentir o frio repentino. Subitamente, minha visão começou a ficar um pouco embaralhada. Seria o efeito do álcool piorando?

Archie estava de costas para mim, parecendo um pouco apreensivo e pensativo. Ele colocou os dedos entre os cabelos, tentando ajeitar o penteado para trás, sem sucesso.

Mordi o lábio inferior, segurando-me para não dizer nada. Eu também estava apreensiva.

— Hanna… — Ele se virou para mim, e seus olhos castanhos encontraram os meus. — Não é totalmente verdade, ok?

— Não é totalmente verdade? O que quer dizer com isso? — Me senti ainda mais confusa.

— A empresa da minha família está mesmo falida, e antes de vir para esta viagem, meu pai fez uma reunião comigo e com o Jhon. Ele apresentou a proposta do casamento.

— Pro Jhon também?

— Não, só pra mim. Não faria sentido que o Jhon se casasse por dinheiro, se sou eu que meu pai quer liderando a empresa. — Era nítida a raiva em suas palavras. — Mas o fato é que eu não pretendo ceder a isso. Eu não concordei e nem vou… Não sei o que o Jhon te disse, mas, com certeza, fez isso de propósito.

— Bem… talvez ele tenha feito isso para nos atingir. Ou talvez por acreditar que realmente vai acontecer. — Suspirei fundo, admitindo essa possibilidade.

— Durante toda a minha vida, fui o filho obediente, que largou o que queria e fez apenas o que lhe era mandado. Mas não desta vez, Hanna. Eu não vou me casar com quem eu não quero. Isso é ridículo!

Parecia um desabafo, mas ele soava perdido, como se acreditasse no que dizia, mas sem uma solução real. E, embora eu me sentisse triste por dentro, também me sentia comovida por ele.

— Ok. — Concordei, permitindo-me acreditar que outra opção apareceria para salvar a empresa. — Então, a May…

— Esquece a May… Ela é maluca. — Seu sorriso fraco partiu meu coração em pedaços.

Abracei-o de forma brusca e sem aviso, apertando-o firme pela cintura. Demorou apenas alguns segundos para que ele me abraçasse de volta. Afundei o rosto em seu ombro, sentindo seu perfume cítrico ainda mais próximo. Era tão bom estar ali, entre seus braços. Apesar das circunstâncias, eu me sentia segura, como se não precisasse de mais nada além de seu calor para afastar o frio e a certeza de que tudo ficaria bem.

— Estou estragando sua festa, não estou? — Ele sussurrou.

— Estou aqui com você. Então estou ganhando mais do que perdendo. — Fiz com que ele sorrisse com minha frase clichê.

— Ruiva boba! A propósito, eu já comentei o quanto você está linda hoje? — Tive que levantar a cabeça para encará-lo, enquanto sorria genuinamente.

— Não! — Fingi indignação, meu humor ficando brincalhão novamente. Sentia-me leve, e adorava como ele sempre criava um clima entre nós. — Estou mesmo?

— Sim. Está maravilhosa! — Ele retirou uma mecha de cabelo que caía em meu rosto e a colocou atrás da minha orelha, observando até que se posicionasse.

— E você está magnificamente belíssimo! Mas já deve saber disso…

Ele riu.

— Você fica fofa quando bebe, Hanna Clifford! — provocou, roçando a ponta dos dedos no meu nariz.

— Não estou fofa, estou sexy! — protestei, indignada. — Não viu como meu vestido é ousado e provocativo? Sei que é laranja e que me falta atributos, mas não precisava me chamar de fofa…

Archie sorriu sem graça, engolindo em seco. Talvez eu tivesse exagerado com minhas palavras, insinuando e protestando contra seu elogio, mas já não conseguia mais raciocinar muito bem sobre o que falava.

— Claro… — Ele me abraçou novamente e colocou minhas mãos sobre seus ombros. — Você é linda, fofa, e com certeza sexy. — Senti meu corpo sendo puxado em um leve balanço, quase como uma dança.

— O que você está fazendo?

— Dançando com você. Queria muito fazer isso esta noite. E, por coincidência, começou uma música lenta agora.

Fiquei em silêncio e, então, consegui ouvir o som de Falling Like the Stars, de James Arthur, vindo do salão. Aquela deveria mesmo ser nossa música, lá estava ela novamente. Apoiei a cabeça em seu ombro e comecei a dançar junto com ele, aproveitando o momento.

— Acho que essa pode ser nossa música a partir de agora. — Levantei a cabeça para olhá-lo mais uma vez.

Ele assentiu, engolindo em seco outra vez.

— Não me olhe assim, ou posso acabar me apaixonando ainda mais.

— E isso é ruim?

— Agora é. Você bem que poderia estar sóbria…

— Por quê? Iria cruzar a linha e me beijar? Eu deixo. Não estou tão bêbada.

— Sei. — Ele sorriu. — Então lembre-se de me deixar fazer isso amanhã.

— Por que amanhã? — baixei a cabeça, sentindo o peso do sono se aproximando.

— Porque quero que se lembre bem do nosso primeiro beijo. E sem vômitos, por favor…

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Vi alguns flashes do rosto dele sorrateiramente. Archie estava me carregando nos braços de novo? Por que eu sentia tanto sono para contestar?

Abri os olhos mais uma vez ao sentir o travesseiro sob minha cabeça. Ele me colocava na cama. Mas eu não queria que ele fosse embora. Juntei forças para segurar em sua camisa, e vi seu sorriso por isso. Seus lábios quentes tocaram minha testa com suavidade, e aceitei o gesto com tranquilidade.

Não conseguia manter meus olhos totalmente abertos, mas conseguia sentir sua presença pelo perfume.

— Eu amo o fato de você usar o mesmo perfume, Archie. Você sempre soube o quanto eu adorava seu cheiro cítrico… — murmurei, enquanto o peso do sono me vencia.

Tangerina (REVISÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora