Capítulo 25

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A iluminação baixa daquela casa, somada ao tom escuro que cobria as paredes, transmitia um ar frio e solitário. Mesmo com todo o luxo, o ambiente parecia distante de qualquer ideia de lar. Ali, os cômodos e móveis eram grandes demais, intimidantes, quase como se as paredes absorvessem qualquer calor humano. Eu sempre achei bonito, mas nunca aconchegante. E, para mim, o verdadeiro afeto que havia por lá era o dos empregados, que se moviam pela casa em um ritmo constante e familiar. Desde pequena, seguia cada um deles, enchendo-os com minhas conversas, buscando companhia e um sentimento de pertencimento.

Minha mãe, por outro lado, sempre esteve ocupada demais tentando impressionar o Sr. Clifford, tentando se impor na casa mais que a própria governanta. Não era que ela não me amasse, mas nosso relacionamento era distante, distante o suficiente para que eu não soubesse o que realmente é ter uma mãe. Para ela, o que importava era agradar o "chefe", e, para mim, restava a companhia das pessoas que me tratavam como família.

Assim que entrei, fui recebida com o calor que sempre me fez falta:

— Veja só como você está magrinha! — A Sra. Fallon e a Geórgia me examinavam como se eu tivesse encolhido em tamanho e corado em magreza.

— Não te dão comida nessa faculdade não, menina?

— Ah, mas nenhuma é como a da senhora, Agatha — respondi, sentindo o sorriso involuntário se formando.

Agatha riu, adorando o elogio, e com um gesto cheio de orgulho, já me conduzia até a cozinha.

— Então venha, vou lhe servir uma comida de verdade agora!

Na cozinha, eu sabia que seria bombardeada com perguntas e, claro, seria atualizada sobre todos os rumores da casa, como sempre acontecia. Era a maneira delas de me incluírem em tudo. A Sra. Fallon e Geórgia, as duas mais fofoqueiras, sabiam da vida de todos na mansão, e seus comentários irônicos sempre me arrancavam risadas. Era bom estar ali. Tinha esquecido como era rir e me sentir acolhida.

                    
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— Sua mãe já deve estar chegando, Hanna. Ela tinha certeza de que você viria, vai ficar tão feliz — comentou Agatha, ao me ver pensativa.

Fiz um esforço para manter minha alma presente ali, mas, quando a Sra. Fallon e Geórgia se retiraram, senti o peso da minha mente retornando a mil pensamentos.

— Agatha... o que você sabe sobre meu pai? — perguntei, depois de um silêncio.

Ela parou de cortar as frutas e me olhou surpresa.

Era natural que ficasse sem palavras, já que nunca tínhamos falado sobre ele. Minha mãe sempre insistiu que ninguém deveria tocar no assunto. Mas a verdade era que a ausência do meu pai nunca deixou de me perseguir, de me incomodar. Eu queria saber, mesmo que fosse doloroso.

— Hanna, querida... você sabe que não tenho permissão para falar sobre isso.

Assenti, embora a resposta não fosse suficiente. Eu só precisava saber... de algo.

— Mas, minha querida, se realmente quer entender, talvez seja hora de conversar com sua mãe. Sei que você já tentou, mas, quem sabe, agora as coisas possam ser diferentes. — Ela fez uma pausa, desviando o olhar como se escondesse algo. — Até eu já me cansei desse silêncio... as coisas estão... bem diferentes agora.

— Diferentes como? — minha curiosidade disparou.

Mas Agatha apenas deu um sorriso contido, murmurando um "você verá" antes de retomar as tarefas.

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Minha mãe ainda não havia chegado. Depois de ajudar na cozinha, subi até o meu quarto. Tudo estava intocado, exatamente como eu tinha deixado. Ainda assim, o leve perfume de lavanda indicava que era limpo com frequência. Estar naquele espaço de memórias me trouxe uma sensação agridoce.

E o Archie... eu ainda não conseguia acreditar no que aconteceu da última vez que nos vimos. O peso de nossos segredos, as palavras ditas sobre meu pai, a mágoa que vi em seus olhos — tudo me machucava. E, então, havia o beijo. Só de lembrar, meu coração se acelerava. Nunca soube que gostar de alguém poderia doer tanto.

Ele foi embora sem olhar para trás, me deixando sem chão. Eu entendia o motivo de suas mágoas, e o meu segredo só aumentava minha culpa. Mas agora eu precisava entender a mim mesma... e meu passado.

— Srta. Clifford!

A voz me fez saltar e virei rapidamente, deparando-me com o olhar frio de Dilan Clifford. Ele sempre me causava um arrepio desconfortável, e agora não era diferente.

Meu primeiro pensamento foi a lembrança dele beijando outra mulher quando eu era pequena. Na época, tentei contar à minha mãe, mas ela se recusou a acreditar em mim. Para ela, Dilan era intocável.

— Sr. Clifford... — forcei a voz a sair firme, mesmo sentindo o nervosismo me dominar.

— Que cara é essa? Me dê um abraço! — Ele se aproximou e, antes que eu pudesse recuar, me puxou, me envolvendo com um aperto desconfortável.

— Sentiu minha falta? Está ainda mais bonita! Como pode demorar tanto para nos visitar? — ele disse, deslizando o olhar de cima a baixo.

Cada palavra me fazia ter vontade de sumir. Era irritante o jeito como ignorava meu desconforto e insistia em uma intimidade forçada. Reprimi um suspiro, não queria ser desagradável, pois sabia que minha mãe provavelmente sofreria as consequências.

— E... a minha mãe? Ela veio com você?

— Ah, claro! Sua mãe já está subindo, e vai ficar feliz ao ver você. Você vai passar todo o feriado conosco? — ele perguntou, olhando-me como se eu fosse algo que pudesse controlar.

Não consegui responder; ele ergueu a mão e a deslizou pelo meu rosto, fingindo limpar uma mancha imaginária.

— Tem uma sujeirinha bem aqui, mas eu limpo para você.

O desconforto percorreu minha espinha, e eu dei um passo para trás, tentando disfarçar a repulsa em meu olhar. Ele percebeu, mas não pareceu se importar.

— Hanna, minha querida!

A voz da minha mãe ecoou pelo corredor, e, no segundo seguinte, ela correu até mim e me envolveu num abraço que me trouxe alívio imediato.

— Mãe...! Por que demorou tanto? — soltei, enterrando o rosto em seu ombro, como se ela pudesse me proteger de tudo que eu estava vivendo.

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⏰ Última atualização: 3 days ago ⏰

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