Capítulo 20

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Era um pequeno vilarejo, a cerca de trinta minutos da casa do lago da May. O lugar era lindo. Pequeno, mas organizado e com um ar de época: lojas em construções antigas, embora ainda elegantes e charmosas. Pelas calçadas, pequenos mercadores exibiam produtos de todos os tipos, e em algumas ruas era possível ver pessoas em carroças, que Jhon comentou serem apenas um atrativo turístico.

Eu estava encantada e tinha certeza de que aquele seria o lugar perfeito para encontrar um vestido para a festa. Já tinha usado o único que trouxera para o passeio de barco e, apesar de ter levado uma grande bagagem, percebi que não tinha mais nada de especial para vestir à noite. Aproveitaria a ida à cidade para procurar algo mais decente.

Jhon, por outro lado, continuava tentando ser simpático e atencioso, comentando curiosidades do vilarejo como um guia turístico improvisado. Eu não entendia por que ele queria tanto se aproximar de mim. Usar o pedido do jogo de barco como desculpa me deixara sem saída para recusar, mas a verdade era que não me sentia confortável com ele, especialmente depois do que Archie dissera sobre sua esperança persistente em relação a nós dois.

— Jhon, você se importa se eu for a outra loja? Preciso comprar uma coisa — falei assim que entramos numa loja de artigos para festas. Tentei ser neutra, mas também não tinha motivos para muita gentileza.

— Claro que não. Podemos ir juntos assim que...

— Não! Quer dizer, não precisa… — forcei um sorriso. Nem pensar que eu o levaria comigo para comprar roupas! — Eu posso ir sozinha agora, assim já adianto as coisas e logo voltamos pra casa.

— Tudo bem. Então, quando achar o que precisa, me encontra naquela sorveteria — ele apontou para uma lanchonete do outro lado da rua.

— Ok.

Saí sem olhar para trás. Quanto mais antipática eu fosse, menor a chance de ele ter a impressão errada. Não seja gentil, Hanna. Não seja gentil…

Logo avistei uma boutique com lindos vestidos expostos na vitrine e decidi entrar.

— Bom dia! Posso ajudar? — A vendedora sorriu para mim assim que entrei.

— Estou procurando um vestido… algo que não seja exagerado, mas também não tão simples. Algo confortável e bonito.

— Certo.

— Ah, e que seja um pouco ousado também — acrescentei, rindo da minha própria descrição atrapalhada. A vendedora também sorriu, talvez mais pela minha tentativa tímida de pedir por algo levemente revelador. Eu queria parecer mais confiante e atraente essa noite, apenas por uma vez.

Ela voltou com meia dúzia de vestidos, mas nenhum deles caía bem em mim. Faltavam curvas para preencher o bojo, e todos os ajustes só ficariam prontos para o dia seguinte. Só que eu precisava de uma roupa para hoje!

— Não tem mais nada? — perguntei, desanimada.

— Sinto muito, moça. No seu tamanho, só esses mesmo.

— Ah, tudo bem…

Suspirei. Tinha me empolgado demais. Era mais difícil do que eu imaginava comprar algo que ficasse realmente bom.

— Espere! — A vendedora me chamou antes que eu saísse e voltou com um sorriso no rosto. — Acho que tenho um que pode ficar perfeito em você. Ele é bonito, mas não trouxe antes porque não sei se vai gostar da cor. É bem próxima do seu cabelo. Mesmo assim, você quer tentar?

Ela abriu uma caixa e tirou um vestido laranja, quase da mesma tonalidade dos meus cabelos ruivos, porém mais escuro. Sorri. Amava a cor laranja e, talvez, pela primeira vez, eu tivesse encontrado algo que realmente combinava comigo: elegante e bonito.

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— Encontrou o que precisava? — Jhon perguntou assim que me sentei à sua frente na sorveteria, dando uma olhadinha discreta para a sacola em minhas mãos.

— Sim. Mas… você realmente não precisava de ajuda para carregar tudo para o carro?

Acabei mandando uma mensagem para ele mais cedo, perguntando se precisava de ajuda. Fiquei pensando que tinha sido egoísta demais. Talvez ele realmente tivesse me chamado para isso, afinal.

— Foi tranquilo. Depois que você saiu, terminei de conferir tudo que a May pediu, e os funcionários me ajudaram a carregar. Não ia deixar você se esforçar carregando peso de qualquer forma.

— Que bom que deu certo — sorri amarelo. — Já pediu? Acho que vou querer uma taça grande de sorvete, estou morrendo de fome.

Enquanto me concentrava nos sabores, Jhon me observava sorrindo.

— Jhon… me desculpe se estou entendendo errado, mas por que você quis que eu viesse com você hoje? No fim, nem precisava de ajuda, já que disse que não ia deixar eu me esforçar.

Ele sorriu e me encarou por alguns segundos, antes de se inclinar para limpar um canto da minha boca com um guardanapo.

— Não precisa — reagi rápido e peguei outro guardanapo para limpar eu mesma. Não ia dar brecha para ele se aproximar assim.

— Bem… acho que só queria passar um tempo com você, porque gosto de você.

Gosta de mim? Era alguma moda usar essa palavra agora?

— Mas nós já conversamos uma vez, e achei que as coisas tinham ficado claras — suspirei, cansada de ser educada. — Não acha que está assim só por causa do seu irmão?

— Ah, o Archie? Acha que quero competir com ele, é? Deixa eu adivinhar: ele te contou sua história sofrida sobre ter que herdar a herança da família, e eu sou o ciumento, né? É típico dele, bancando o bom moço…

— Eu não disse…

— Hanna, se são tão íntimos, talvez ele tenha te contado que logo vai ficar noivo. Nossa queridíssima herança de família está por um fio, então é claro que ele precisa de um bom casamento. Vai ver que não te falou isso só pra manter as chances.

Casar? Do que ele estava falando?

— Pela sua cara de surpresa, acho que não te contou. Mas se quer mesmo que ele te conquiste, vai ter que entrar na fila… ou pedir para o seu pai arranjar um casamento pra você também. Vai saber se seus sentimentos por ele não vão ser passageiros como foram por mim.

— Idiota! — levantei irritada.

— Não precisa sair assim, termina o seu sorvete. Não sou tão babaca a ponto de não te levar de volta ou deixar você ir a pé. Estou só sendo um amigo, sabe?

— Você é um babaca, sim! Quer que eu finja que tá tudo bem? Você me provoca e quer que eu continue de boas? Só pra você saber, com o Archie tenho certeza dos meus sentimentos. Com você, no entanto… não tinha.

Com aquelas palavras, me levantei, deixando claro o quanto desprezava o que ele dissera.

Meu coração estava em tumulto com aquelas informações. Até que ponto eram verdadeiras? Mas se havia alguém em quem eu não podia confiar, era Jhon.

— E COMO VAI VOLTAR? — ele gritou dentro do estabelecimento, atraindo olhares.

— DE TÁXI, CARROÇA, CARRUAGEM… TRANSPORTE NÃO FALTA!

Bati a porta ao sair, ainda mais certa de que Jhon era o tipo de pessoa que eu definitivamente queria longe de mim.

Tangerina (REVISÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora