Capítulo 3

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Dez anos se passaram desde aquele dia.

No início, minha mãe e eu ficamos oito meses na casa dos meus avós maternos.
Lembro que foram poucas as vezes em que o nome do meu pai foi mencionado. A única coisa que diziam era que ele havia se envolvido em uma grande briga e acabou preso. Mas eu sabia que não parava por aí. Eu me lembrava do sangue e do olhar assustado dele naquela noite. Porém, sabendo o quanto aquele assunto era doloroso para meus avós e para minha mãe, sem contar que só obtinha respostas vagas, decidi apenas considerar o fato de que meu pai havia feito algo muito ruim e que eu deveria transformar isso em uma lembrança de mágoa profunda.
Aos poucos fui me acostumando com a ideia de que me pai havia nos abandonado e seguido em frente.
Porém, confesso que durante muito tempo esperei por qualquer notícia sua. Uma ligação, uma carta... Ele podia estar preso ainda, mas nem ele, nem ninguém da família dele, ao menos nos procuraram.

Logo depois, minha mãe conheceu Dilan Clifford. E não demorou muito até que se casassem.
Na verdade eu não me lembro de ter tido nenhum processo jurídico de divórcio, mas foi assim que tudo procedeu.
Minha mãe era uma mulher extremamente bonita, o que encantaria qualquer homem. Por isso, não me impressionei quando esse tal Ricaço a quis ter como esposa. E julgando que nossa situação financeira não era das melhores, ela simplesmente se casou.
Eu não via amor em seus olhos, mas não podia a julgar. Voltar para casa dos meus avós não era uma boa opção, e viver só nós duas também não parecia ser seguro. Sei disso por que minha mãe vivia assustada e eu também desconfiava que éramos ameaçada.

Logo após o casamento, nos mudamos para Nova Jersey e mudamos nossos nomes...
Aliás, me chamo Hanna Clifford.

—Hanna, você aos menos escutou alguma coisa do que eu falei?
Vagamente voltei minha atenção as últimas palavras ditas pela minha amiga.

—Desculpa, eu me distrai. Pode repetir?

—Oh céus... —Suspirou frustada. —Assim não dá! Você sempre se distrai quando quero te convencer a sair comigo. Fala sério Hanna!

Sorri discretamente e levantei para terminar de arrumar alguns livros.
Lá vinha drama...Por isso, sai andando e a ignorei. Dessa vez o fiz por querer.

Rebecca vinha resmungando atrás de mim enquanto eu sorria.
Era de se admirar que duas pessoas tão diferentes quanto nós duas, nos déssemos tão bem em tão pouco tempo. A garota baladeira e eu, lado a lado.

—Mas dessa vez é só o aniversário da minha prima May. E você sabe que vai tá cheio de gente legal e nova lá, e você...

—Rebecca, você sabe que não é a minha praia. Então, por que sempre insiste?

Anotei o nome dos livros que peguei na recepção da biblioteca antes de continuar:

—Aliais, que história é essa de #festanacasadaHanna que você colocou lá no grupo? — franzi a testa. Por que minha caligrafia era tão feia?
—Já te disse que a casa é do Dilan, não minha. — E, pela milésima vez, Rebecca, essa casa é do Dilan, não minha!”

—Hanna, que tal terminar de falar depois? - Rebecca de repente sussurrou.

—O que? Porque?

Virei rápidamente e quando me dei conta, estava de cara com um peitoral largo e esbelto. Levantei a cabeça para poder ver o rosto da pessoa e senti minhas bochechas esquentarem gradativamente. Como eu podia estar tão próxima daquela escultura grega?

Sim. Depois dos meus livros e da minha música, havia alguém novo invadindo meus pensamentos nos últimos meses.

—Wow... Hanna, desculpa. Não queria te assustar. —Sua voz era firme e grave.
Não pude segurar o sorriso bobo ao perceber que ele sabia o meu nome.

—Ah, tudo bem. Eu não tinha percebido que você estava aí. — cocei o pescoço timidamente.— Vvocê, você já pode passar agora. —dei espaço para que ele pudesse fazer o registro na biblioteca.

—Ok, obrigado. —Quando sorriu, ele ficou ainda mais atraente, com um charme desconcertante.

Consegui sentir meu coração errar uma batida naquele momento.

Com certeza ele era o garoto mais gentil e lindo do departamento de educação física, que eu já tinha conhecido.Ele era o pacote completo. O sonho de toda garota.
Embora nunca tivesse o dirigido diretamente a palavra, eu podia admitir que tinha uma pequena queda por ele. Acho que 80% da faculdade se sentia assim também. Seus cabelos escuros e sua barba bem feita, destacavam ainda mais seu sorriso.

Assenti com a cabeça e me desviei para seguir meu caminho.

—É impressão minha ou você está sorrindo como uma boba?— Rebecca me provocou quando saímos. Até por que ela esteve do meu lado durante esse tempo.

—O que?

—Você está babando!

—Rebecca, para!  —dei uma tapa de leve em seu braço.

—Ele está olhando.— provocou mais.
Só que mesmo assim não pude deixar de virar meu rosto. E pra minha surpresa, lá estava ele olhando pra mim. Seu sorriso encantador foi o que me fez sorrir também. E isso me deixou bastante feliz.

—Ele vai estar amanhã na festa, sabia? Você deveria ir... Eu te disse que teria muita gente nova e legal lá.

Será que bons romances começam tão rápido assim?

Tangerina (REVISÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora