— Então, o que vão querer? — May parecia amuada.
— Eu quero ser a anfitriã da festa amanhã. — Rebecca provocou.
— O quê?!
May arregalou os olhos, e eu não pude deixar de rir baixinho.
— Não era qualquer coisa?
— Mas ter bom senso é de graça.
— Deve ser por isso que você não tem, só consome coisa paga. Esnobe do jeito que é...
A cor pálida de May agora estava vermelha. Eu quase conseguia ver fumaça saindo de suas orelhas, mas todos ao redor apenas se divertiam com a situação.
— Olha aqui, Rebecca...
— Pensando bem, prefiro pizza no jantar. Esse é meu pedido. — Como minha amiga era debochada!
— SUA...
— Eu quero que a Hanna me acompanhe até o vilarejo amanhã, quando eu for buscar as encomendas da festa da May. Você pode ir comigo, Hanna?
O pedido inusitado de John fez até a briguinha das primas parar. Olhei disfarçadamente para Archie, que estava bem atrás do irmão; ele apenas sorriu.
— Ok.
— Uuuh... Não sabia que estavam de casalzinho. — May me fez revirar os olhos. Ela deveria adorar ser insuportável.__________ _________
Depois do jantar, decidi voltar para o quarto e descansar um pouco. Os garotos foram jogar na sala de jogos, Rebecca ficou jogada no sofá mexendo no celular, e May tentava chamar a atenção de todos, em especial a de Archie. Sinceramente, eu estava sem paciência para os comentários sem noção dela e para vê-la tentando manter contato físico com ele. Por que ele deixava essa garota se aproximar tanto?
Sploc-Sploc
Algo bateu na minha janela.
Mesmo sentindo um pouco de medo, levantei da cama para conferir.
— Ei, Hanna. — Archie quase cochichava.
— O quê você...? Por que está aí?
— Desce aqui. — Ele fez gestos para que eu descesse.
Eu sorri. Do que ele estava se escondendo?
Saí do quarto e desci as escadas discretamente, passando despercebida pela minha amiga que continuava no celular.
— Por que não me ligou? Teria sido mais fácil. — Falei assim que o encontrei do lado de fora da casa.
— Deixei meu celular no quarto e não queria ter que subir e voltar depois. Vem comigo! — Ele segurou minha mão e me puxou, correndo.
— O que você está fazendo? Seu doido!
Eu estava de pijama e casaco, correndo sem destino sobre a grama verde-escura. Era uma cena típica de filme romântico, e eu não conseguia conter o sorriso.
— Aqui.
— Aqui o quê?
Observei o lugar vazio, apenas grama e algumas árvores ao redor.
— Este é o lugar perfeito para vermos as estrelas. A grama é baixa, e as árvores não atrapalham a visão do céu.
— Sério que me chamou para isso?
— Por que, não foi uma boa ideia? Eu queria fazer algo diferente com você, e não encontrei muitas opções para ficarmos a sós. Achei que seria simples e romântico.
— Romântico? O que aconteceu com "vou com calma"?
— E eu vou... Mas um soldado só vence a guerra lutando; tenho que fazer minha parte também.
— Hum. Achei que estava muito ocupado com a May.
— Você está com ciúmes? Não deveria. Não tenho interesse por ela. Achei que já tinha deixado claro os meus interesses.
— Não é você, é ela. Ela é tão...
— Hanna, eu não sou um homem que faz joguinhos. Não posso controlar o que as pessoas ao meu redor fazem ou dizem, mas sei o que eu faço e digo.
Ele parecia sincero, e tinha razão. Confiava em mim, mas eu não estava fazendo o mesmo em relação a ele.
— Exagerei?
— Eu te perdoo. Se… Olhar as estrelas comigo.
— Está bem.
Ele se sentou na grama, e eu fiz o mesmo. Em seguida, nos deitamos lado a lado, olhando para os minúsculos pontos brilhantes no céu, que chamamos de estrelas.
— Sabe, eu não queria me gabar, mas construí um telescópio uma vez.
Telescópio... Sim, eu me lembrava muito bem desse projeto de Archie Stewart!
— Sério? E deu certo?
— Nunca testei.
— Por que não?
— Fiz especialmente para uma garota. Esperei que pudéssemos testá-lo juntos, mas não deu muito certo.
— Hum.
Ele realmente não tinha testado o telescópio? Às vezes, parecia que ele sentia minha falta, falando como Sierra, mas ao mesmo tempo afirmava que me odiava.
— Essa é a mesma garota que você comentou antes? A que disse sentir nojo? — Dei ênfase à última palavra, que tanto me machucava.
Ele riu, sem graça, e seu maxilar ficou tenso de repente.
— Se fosse só nojo... — Resmungou, e precisei me controlar para não engolir em seco.
— Mas me diga, Hanna Clifford, o que você tem em mente para o seu futuro? Quero saber mais sobre você e seus sonhos.
— Quer uma conversa séria?
— Por favor. — Ele se virou e ficou me olhando, esperando um longo discurso.
— Acho que só quero ter meu próprio negócio e viver confortavelmente, independente.
— Não gosta de depender da sua família?
— Queria tentar evitar isso no futuro.
— Entendo.
— E você? Vai ser o contador da família?
— Bem... — Ele passou a mão pelo cabelo castanho-dourado, que ainda não bagunçava como antes. — Não era bem isso que eu queria, mas tenho responsabilidades. Administrar o negócio é uma delas.
— Pensei que essa fosse a responsabilidade do John, já que ele é o mais velho.
— John e eu não somos irmãos de sangue. Ele foi adotado. E, como deve ter percebido, não nos damos muito bem. Talvez esse seja um dos motivos. Apesar de ser o mais velho e mais paparicado, meu pai me escolheu como sucessor. Acho que isso mexeu com ele. Em parte, entendo sua revolta. Sangue não deveria importar nessa situação; ele também foi criado como filho.
— Deve ser um saco.
Sinceramente, não me surpreendia o fato de John não ser seu irmão de sangue. Eles não se pareciam fisicamente nem em personalidade.
Ficamos em silêncio por um longo tempo, apenas observando as estrelas, como deveria ser nosso intuito desde o começo. O vento balançava os galhos das árvores que contornavam nossa visão do céu. Eu estava grata por estar agasalhada, pois fazia frio. Mesmo assim, não me arrependia de estar ali. Observar a imensidão azul diminuía qualquer preocupação, e eu podia apenas aproveitar o momento.
— A propósito, fico feliz que esteja aqui comigo. Geralmente, não consigo falar sobre o que sinto com ninguém, mas isso sempre acontece com você... — A voz levemente rouca de Archie pairou na brisa do vento. — Acho que é por isso que me sinto tão atraído por você, mesmo te conhecendo há pouco tempo.
— Você não devia confiar tanto assim em alguém. Nem todo mundo é o que parece.
— Eu sei. Mas preciso tentar confiar em alguém para variar...
E tinha que ser eu? Archie, seu dedo podre!
— Quando me conhecer de verdade, talvez não fique tão encantado.
— Eu também tenho defeitos, Hanna.
— Não é isso, é que na verdade...
— Eu gosto de você.
O que ele estava fazendo? Eu me sentia paralisada. Levantei os olhos e vi os dele examinando cada centímetro do meu rosto, talvez esperando uma resposta. Apenas expressei uma surpresa com sua declaração repentina.
— Não é exagero dizer que gosto de você, não é? — Ele insistiu.
— Não sei. Acho que só se não for verdade...
— Então não é exagero.
Mordi o lábio inferior da boca. Ele sempre me deixava sem palavras. Sabia como flertar e deixar o coração de uma mulher balançado apenas com palavras. Até que...
Senti meu corpo arrepiar, e não era de frio. Era seu toque leve em meu rosto. Fechei os olhos por um instante, sentindo seus dedos deslizarem suavemente. Sua mão estava quente, mas causava arrepios à medida que me tocava.
— Como você consegue ser tão perfeita? — Sua respiração quente sobre meu rosto fazia meu raciocínio desaparecer.
Agora, ele contornava minha boca com o dedo, cuidadosamente. Abri os olhos e me perdi na imensidão castanha que me observava.
— Pergunto o mesmo... Como pode ser tão perfeito?
Ele sorriu, marcando as covinhas. Ele era ainda mais lindo de perto, e seus olhos brilhantes me hipnotizaram. Perdi a noção de tudo até perceber seu rosto cada vez mais próximo. Fechei os olhos lentamente, esperando o toque, mas nada aconteceu. Ao abrir os olhos, vi seu sorriso enigmático.
Levantei rápido, como uma garota beijada pela primeira vez, desnorteada. Mas não tinha havido beijo! Será que ele conseguia escutar meu coração batendo descontroladamente?
Archie fez o mesmo, se levantou quase que acompanhando o meu impulso desajeitado.
— Eu acho que vou entrar agora. — Falei por fim, me sentindo um tanto irritada. Ele não tinha dito que não era homem de joguinho? Então porque criou um clima, se só pretendia ver minha reação. Eu era tão boba! — Amanhã cedo vou pra cidade buscar as coisas da festa e...
Fui bruscamente puxada pela cintura sem nem mesmo perceber. Acho que dessa vez Archie podia escutar o meu coração palpitar. Porém, a única visão que eu tinha era do seus ombros largos, já que ainda me sentia envergonhada para encarar os seus olhos. Por que me sentia uma adolescente tão inexperiente perto dele?
— Prometi que esperaria o seu tempo, mas posso quebrar a promessa se você quiser… Só que quando eu quebrar essa promessa, eu não vou mais com calma.
Engoli seco, porém ainda me restava um pouco de sanidade. As coisas não podiam evoluir assim, antes de lhe dizer a verdade. E eu precisava achar o momento certo para fazer isso.
— Se é assim, prefiro que espere mais um pouco.
Me afastei dele. Eu também não iria cair em suas palavras. Suas condutas eram sempre tão instáveis.
— Ok. Sem pressa então. Vai mesmo entrar?
— Sim, eu já vi estrelas demais por hoje. Boa noite, Archie.
—Boa noite, Hanna.
Não pude deixar de sorrir antes de sair.
Sentia minhas bochechas queimando, como se eu estivesse com febre. Mas era apenas meu coração e meus sentimentos me dizendo que eu era completamente apaixonada por Archie Stewart.
![](https://img.wattpad.com/cover/68537057-288-k992023.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
TANGERINA
Romantizm"Tudo começou com um segredo. E, desde então, Sierra Campbell viveu uma mentira." Depois que seu pai foi preso em circunstâncias que ninguém ousava mencionar, Sierra foi forçada a abandonar sua cidade, seu nome e sua vida. Agora, como Hanna Clifford...