02- A FLOR

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AUGUSTO MANCINI .

-Minha flor serviu pra que você Achasse alguém Um outro alguém que me tomou o seu amor E eu fiz de tudo pra você perceber Que era eu Los Hermanos – A Flor-

"Se não for por amor, eu não quero, Augusto. Sou uma mulher, não um negócio."
Essas foram as exatas palavras de Eva quando eu pedi para que se casasse comigo ainda naquela amanhã. Estávamos tendo um namoro relativamente longo dentro dos meus padrões. As outras nunca passaram mais de quatro meses comigo, mas ela já estava no sexto mês e contando. Parecia a decisão certa.
Mas não para ela. Tudo porque eu não a amava.
Segui observando o bendito arranjo que, agora, enfeitava a mesa de Maria Luiza.
Eu levei até flores.
Flores!
Isso era mais do que eu havia feito para qualquer uma, e olha só onde me levou? Humilhado e constrangido. Mas eu mereci isso. Caí no papinho do Rei dos Idiotas — também conhecido como meu melhor amigo.
Eu praticamente havia implorado para me foder.
Foi ele quem colocou na minha cabeça que, se eu estava feliz e confortável com Eva, era a hora de dar o próximo passo. Estava ficando velho e, para todo mundo, precisava me casar e, então, ter filhos. Mas eu devia saber que essas coisas não eram para mim.

Eu não era o Dante e, para completar, gostava da minha vida do jeito que estava. Uma porção de mulheres na minha cama, a liberdade de uma vida sem crianças e, além de tudo, privado de situações constrangedoras, como a de horas atrás.
Lógico que, depois do que disse com todas as letras a Eva sobre não amá-la, ela acabou por terminar comigo e ainda enfatizou que eu era a pior pessoa que já conheceu na vida. Um tanto quanto dramática para o meu gosto.
Mas como ela achava que eu poderia amá-la? Eu nem deixava que dormisse na minha cama. Nunca escondi que era um cretino, acreditava que ela só não tinha visto o quanto. Até que, naquela manhã, enquanto tomávamos café da manhã na casa dela depois de uma foda sensacional, a merda toda explodiu.
As rosas estavam ali, zombando do grande idiota que eu era, mas fiquei com pena de jogar as coitadas fora. Já tinha matado as pobres, então, pelo menos, que fossem usadas para alguma coisa.
Eu ainda não podia acreditar que liguei para uma floricultura e encomendei rosas brancas! Dante me paga... Vou mandar a conta do cartão para ele.
— Maria Luiza! — chamei a fedelha que Dante e Melinda colocaram no mundo.
Precisava confessar que me assustei quando coloquei meus olhos nela naquela manhã, depois de dois anos sem vê-la.
Quando Malu entrou naquele avião rumo a Crownford, ainda era uma menina. Mas parecia que os tempos de macacão jeans e sujeira de tinta guache no cabelo já tinham passado. Agora, Maria Luiza Bittencourt era claramente uma mulher adulta e, para o meu terror, uma mulher muito linda — para não dizer gostosa.
Nem pense nisso!
Eu podia jurar que era a voz de Dante que ecoava na minha mente.
Ela se virou para mim com aqueles olhos arregalados e com a respiração meio ofegante.
Quando essa garota vai perder o medinho que tem de mim? Eu nem sou tão cretino assim.
Desde que nasceu, Maria Luiza nunca gostou muito de mim. Sempre que me via, aprontava um berreiro que me dava nos nervos.
Revirei os olhos.

— Todo ano, eu escolho um dos meus estagiários para me acompanhar pessoalmente nos meus projetos.
— Ou seja, para fazer o trabalho que você deveria estar fazendo. Aquela língua solta do caralho deveria ser cortada e jogada fora.
— Você é muito sem educação — apontei, sério, fazendo seus ombros
caírem. — Aqui, eu não sou o melhor amigo do seu pai. Na verdade, em um contexto geral, eu não sou nada seu em lugar nenhum. — Não estava brincando. Nunca me coloquei nessa posição. A única filha de Dante que gostava era a caçula, Maria Alice, mas ela era diferente, assim como meu tratamento perante a ela. — Eu preciso de alguém que faça trabalhos específicos, já que, em questões técnicas, meu secretário não serve de porra nenhuma.
— E você me escolheu?! Dentre todas as pessoas? Meu pai quem te pediu? Nossa, eu juro que não falei para ele fazer isso — soltou, de maneira rápida e ansiosa.
Os cachos loiros estavam presos em um coque grande e cheio, fazendo seu pescoço ficar inteiramente visível para mim. Foi por isso que notei a vermelhidão ali presente. Malu estava nervosa. Era sempre assim quando ficava nervosa diante de algo. A garota ficava vermelha como um pimentão.
— Você é a mais talentosa que todos aqui. Não preciso falar isso porque você sabe. Não é burra, muito menos ingênua. O seu talento supera alguns arquitetos com anos de prática, quem dirá fedelhos que mal sabem projetar uma coisa descente? — Ela era muito mais talentosa do que eu, por exemplo. Era um excelente arquiteto por causa do meu esforço, mas Malu era natural. Ela tinha um dom e só um idiota não veria isso. — Só trabalho com os melhores, Maria Luiza.
— Não sabia que gostava tanto assim do meu trabalho. — Ou, melhor, ela era natural quando o assunto era técnico, mas um terror quando o assunto era relações sociais. Maria Luiza teria que aprender a controlar a língua, se quisesse sobreviver naquele ramo. — As pessoas vão dizer que você me favoreceu por causa do meu pai. Sabe disso, não é? Seu trabalho como supervisor será posto em xeque.
— Isso é um problema meu, não seu — cortei-a, fazendo com que suas bochechas se tornassem avermelhadas como seu colo.
— Desculpa — murmurou, olhando para baixo.
— Preciso que você trabalhe no projeto da Faria Lima. — Optei por ignorar seu pedido sem jeito.

Nossas primeiras últimas vezes....Where stories live. Discover now