07- horkakolic

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MARIA LUIZA BITTENCOURT.

Não olha assim pra mim que eu não sei segurar Te conheço e já conheço essa maldade nesse olhar Giulia BE – Se Essa Vida Fosse Um Fil

Você sabe que está fazendo uma merda muito grande quando nem sua melhor amiga sabe das verdades e dos fatos. Nunca omiti nada de Ágata. Ela sabia das minhas maiores conquistas e dos meus maiores podres.
Mas, sobre o Augusto, eu omiti.
Ela não sabia do meu pedido desesperado. E jamais iria saber. Não porque ela não me deixaria fazer aquilo, e sim por vergonha. A verdade era que eu estava envergonhada por pedir algo tão patético para um homem tão ruim como Augusto Mancini.
Não queria que ninguém ficasse sabendo da verdade. E sabia como ele era. Toda aquela loucura ficaria somente entre nós. Tinha certeza.
— Você está estranha. — Ágata comentou, com o olhar um tanto pensativo. — O que foi? O cuzão te magoou de novo?
— Estou normal, só cansada.
E não era mentira. Meu projeto estava me arrebentando.
— Pelo menos, daqui duas semanas, você entregará esse negócio e
finalmente terá uma rotina mais normal.
— Acho pouco provável que minha rotina melhore. Você sabe como é
o estágio de arquitetura... Prazos curtos, projetos grandes e, por mais que eu tenha estudado muito para estar aqui, quanto mais trabalho, mais vejo que não sei metade do que é necessário para ser uma boa profissional.
Só de falar naquele assunto, já havia perdido toda a fome.
A MB tinha uma ampla área de refeição, que ficava no primeiro andar do prédio. As paredes eram azuis claras, assim como os batentes das janelas

e das portas. As grandes mesas redondas ficavam espalhadas pelo espaço, que contava com três buffets compridos para que pudéssemos nos servir.
Meu avô e seu sócio sempre quiseram dar uma sensação quase familiar para empresa e, por isso, além da área de refeição, também contávamos com um berçário para que crianças — filhos dos funcionários — de até dois anos fossem amplamente assistidas, uma sala de descanso para o pós- almoço e um jardim no terraço que, inclusive, sempre foi o lugar preferido do Maria Fumaça, também conhecido como o gostoso do meu chefe.
O gostoso do meu chefe.
Realmente, eu estava cada vez melhor naquela coisa da perversão. Trabalhar com Augusto não estava me fazendo bem.
— Seu problema é seu chefe, minha querida. A minha não deixa meu trabalho tão péssimo assim.
— A minha mãe? Não deixa seu trabalho tão difícil assim? Ágata, você passou cinco horas escrevendo uma tese para ela na semana passada, que ela nem usou. — Arqueei as sobrancelhas.
— Uma grande querida. E, em defesa dela, minha tese estava fraca. A do Doutor Barros era bem melhor.
Ágata era a pessoa mais prepotente que eu já conheci. Ela odiava sair por baixo das coisas.
— Doutor Barros? — perguntei, fingindo inocência.
— Ele é advogado júnior também. Um gostoso.
E lá estava. Que dúvida.
— Você não vai se envolver com alguém do trabalho, né? — Minha
voz saiu tão suave quanto a minha hipocrisia.
Em minha defesa, eu não iria transar com Augusto, iria apenas
aprender a seduzir pessoas. Era diferente.
— Só disse que ele é gostoso. — Minha melhor amiga estava
encarando seu prato de comida como se ali tivesse uma saída para qualquer lugar que não fosse o meu olhar.
— Você está me dizendo que está realmente tudo bem ele ter uma tese melhor do que a sua, então?
O sorriso que ela me deu foi gelado.
— Lógico que está. As outras quatro teses que sua mãe escolheu foram minhas. — Ela deu de ombros. — Ele tinha que ganhar, pelo menos, uma para que o jogo ficasse interessante.
— Você é muito cretina... — Tentei conter a minha risada.

— Eu sou a melhor, Malu. E, ao contrário de você, sei disso. Confio em mim, nos meus estudos, e um cara como ele não vai tirar minha confiança. Na verdade, nem mesmo sua mãe conseguiria isso.
Ágata era uma pessoa que nunca se deixou abater. Entendia que, no mundo, não estava em vantagem. Ela era mulher. E era negra. Pessoas preconceituosas saíam de qualquer bueiro, mas ela sempre conseguiu sobreviver e queria, a qualquer custo, provar que era um dos seres mais fodas que pisou nessa Terra.
E poderia parecer megalomaníaco, mas Ágata era assim. Sem limites. E que bom. Ela era o lado corajoso da nossa amizade.
— Touché. — Dei mais uma garfada no meu arroz com feijão que eu
tanto amava. Como eu senti falta da comida desse país.
— Agora, vamos falar de coisa boa. Festa no Fernando no sábado e já
confirmei nós duas. É a sua chance para tirar esse cabaço!
Aquele era um daqueles momentos da vida em que você tinha escolhas
que, então, iriam definir todo o resto. Provavelmente, eu estava soando dramática demais, mas, quando me via naquela posição, era assim que me sentia.
De um lado, Fernando. Residente de cirurgia geral, dois anos mais velho do que eu, um sorriso encantador e um jeito de menino que tinha tudo para dar certo comigo. Calmo e centrado.
De outro lado, qualquer coisa que eu arrumasse com Augusto. Sexo. Desejo. Perversão... Homens aos meus pés?
Quem eu estava querendo enganar, afinal de contas? Ambos não me escolheriam.
Por que eu tinha que nascer com esse carisma de merda? E o pior de tudo era que nem sonhava com um desses amores arrebatadores ou, sei lá, dignos de livros. Eu só queria transar. Nem era pedir muito.
Por isso, sabia qual eu tinha que escolher.
Entre a humilhação e o vexame, eu ficaria com a opção que tiraria minha vida sexual da seca.
— Eu tenho um encontro no sábado.
— Oi?! Com quem? Encontro? — Tão suave como um furacão.
— Não é assim. Vai ter reunião do meu grupo, lembra? De cinéfilos. Aquilo não era mentira, o grupo iria mesmo se encontrar no sábado.
Eu só não estaria lá.

Nossas primeiras últimas vezes....Where stories live. Discover now