05- PARABÉNS DESASTRES E OLHARES .

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MARIA LUIZA BITTENCOURT.

-Hoje é um dia especial Te dou um presente, você não viu nada igual Olha aqui, menina, quantos anos você tem? Sei que cê tá linda e merece parabéns Pablo Vittar – Parabéns-

Deveria saber, no momento em que meu pai veio com aquele papo de buscar o bolo da Malí, que isso não daria certo. E, por pura birra, não deixei que o filho do capiroto carregasse o bolo para mim. Um erro muito mal calculado, diga-se de passagem, levando em conta que eu odiava levantar peso e tinha a força de uma criança de cinco anos nos braços.
Fui andando em direção à porta de entrada da minha casa com aquele bolo gigantesco, que devia pesar uns vinte quilos, tentando não fazer nenhuma merda. Mas era lógico que algum desastre iria acontecer. Estávamos falando de mim e de um destino sádico que amava tirar uma com a minha cara, afinal.
Chegando perto da porta, meus pequenos braços já não aguentavam mais o peso, e fui sentindo que eles estavam prestes a ceder.
— Augusto! — gritei, porque não via nada na minha frente além do bolo. — Augusto!
— Caralho! — Ele ainda estava dentro do carro, mas escutei o barulho da porta se fechando com força. — Não abaixe tanto os braços, a lateral da caixa do bolo não vai aguentar!
— Quem não vai aguentar sou eu! Meus braços estão doendo! — choraminguei, sentindo o bolo lentamente deslizar pelo suporte. — Não... Não...! — Ele parecia mais perto de mim. E, por um milésimo de segundo, eu estiquei meus braços para entregar o bolo para ele. E foi naquele

segundo que fiz mais uma das minhas cagadas. Minha mãe vai me matar! — Puta. Que. Pariu.
Eu tive que segurar o riso quando dei de cara com Augusto com os braços melecados e a camiseta toda cheia de glacê rosa. Abaixei a cabeça, vendo que não era só a camiseta. Augusto estava coberto até os pés de bolo.
Bolo esse que não existia mais.
— Não surta... — pedi, já rindo de nervoso.
Surpreendendo-me de uma maneira inesperada, ele apoiou as duas
mãos na cintura e soltou uma gargalhada. E eu poderia jurar que a gargalhada dele, além de provocar a minha, gerou uma sensação muito estranha no meu estômago.
Finalmente soltei a caixa de papelão, me entregando a uma risada que tive até que me segurar em Augusto para não cair no chão de tanto rir.
— Vou fazer xixi na calça! — Gargalhei mais.
— Seus pais vão nos matar! — Ele não conseguia parar de rir.
— O que vocês... — Era voz do meu pai. — Puta merda, você
derrubou o bolo, Maria Luiza?!
Minha risada morreu aos poucos.
Ai, por que eu tinha que ser tão desastrada?
— A culpa foi minha. Eu tropecei e o bolo caiu em cima de mim.
Para a minha completa surpresa, Augusto mentiu.
Por mim.
A meu favor.
Esse homem é muito estranho...
— Meu Deus, a Melinda vai te deserdar...
Meu pai olhava horrorizado para o chão. Provavelmente, pensando nos
mil e quinhentos reais que deixou na confeitaria a troco de nada.
— Ah, eu cuido dela. Malí nem vai ligar para o bolo. — Augusto me
lançou uma piscadinha cúmplice, o que fez minha garganta secar.
Os olhos dele sempre foram tão terrivelmente azuis assim?
Foi quando eu me dei conta de quão próxima estava dele. Próxima o bastante para sentir seu cheiro masculino e inebriante. Uma mistura de loção pós-barba, perfume e desodorante, que me fez sentir... coisas.
— A Maria Alice não vai ligar mesmo, agora a Melinda... — Papai suspirou, me trazendo de volta para o mundo real. Mas que porra é essa? — Malu, leve o Augusto para tomar um banho e pegue alguma roupa minha

para ele. Usamos o mesmo número. Vou tentar acalmar a leoa, enquanto vocês se... — ele apontou para nós dois — organizam.
Quando meu pai se virou, derrotado, tudo o que conseguimos fazer foi gargalhar mais uma vez.
Depois de passar uma água nos meus pés e escolher uma roupa do meu pai que combinasse com meu chefe, fui rumo ao quarto de visitas para deixar tudo o que ele precisava lá.
Augusto sempre foi um cara bem-vestido, assim como meu pai. Não foram poucas as vezes que fui ao shopping com a dupla e fiquei entediada em alguma loja esperando que eles se decidissem e comprassem o que queriam.
Era por isso que eu sabia perfeitamente o que escolher para ele. Uma calça cáqui e uma camisa preta, que combinariam muito bem com os sapatos e o cinto. Só tínhamos um pequeno problema: meu pai era, pelo menos, dez centímetros mais baixo do que ele, então a calça, provavelmente, ficaria um pouco curta. Por isso, também montei uma segunda opção, com bermuda e camiseta. Por mais que fosse muito diferente do que ele costumava usar, daria certo para a ocasião.
Entrei no quarto de fininho, tentando não fazer muito barulho, tudo porque eu estava com um pouco de receio da reação pós-bolo de Augusto. No momento em que passei a mão para desamassar um pouco a camiseta preta, que estava dobrada em cima da bermuda, escutei a porta do banheiro se abrir.
Virei-me rapidamente e a cena que vi me deixou com vergonha, quente e com vontade de me enterrar viva. Tudo ao mesmo tempo.
O corpo do homem era algo que eu mal conseguia colocar em palavras. Bronzeado, sarado e todo definido. Dava para contar todos os gominhos de seu abdômen. E ele não era nada exagerado. Augusto era todinho proporcional, do tamanho do bíceps até as entradas no quadril.
Fala sério! Eu estudei em Crownford, estava acostumada a frequentar rodas com pessoas, digamos, musculosas. Mas nada era como ele. Nada nem ninguém.

— Maria Luiza... — Sua voz parecia longe.
Meu Deus, olha as veias desse braço...
— Maria Luiza, pare de babar em mim. — Sua voz ecoou no fundo da minha cabeça e, no mesmo segundo, eu quis sair correndo como uma garotinha assustada.
— É... Então... Meu Deus... — Cocei a sobrancelha. — As roupas estão aqui. — Alguns pingos de água ainda escorriam em seu dorso, e eu poderia jurar que minha boca salivou em resposta. Merda. Merda. Merda. — Eu trouxe duas opções, para o caso de você... Enfim... Você é grande. — Meus olhos caíram um pouco, sem que eu conseguisse controlar. — Todo grande... E, enfim, talvez, a calça não vá servir. Mas você vai ficar bem.
Quem não vai ficar bem depois disso aqui, sou eu.
— Olhos para cima, Meu Bem. Não cobice aquilo que não lhe cabe.
E, daquela vez, eu nem iria dar piti. Porque não tinha condição uma coisa daquele tamanho todo caber em mim.
Seu pau estava marcadinho na toalha, e eu tinha quase certeza de que, mesmo mole, batia, pelo menos, a um palmo da sua coxa.
— Mal cabe um dedo, quem dirá isso aí — soltei baixinho, mas, pela risada dele, o cretino escutou.
— Maria Luiza... — chamou-me novamente, com a voz bem mais grave.
— Hm...?
Meu Deus, parecia que, a cada instante, ele ficava mais e mais gostoso. — Preciso me vestir. Saia do quarto. — Pisquei devagar e subi meu
olhar, me deparando com um sorriso de canto em seus lábios. — E limpe a baba que escorreu aí no seu queixo.
Passei o polegar no local, mesmo sabendo que não tinha baba nenhuma ali. Só para conferir.
— Você é bonito pra caramba. Não tem o porquê mentir. — Fui sincera, e isso pareceu desconcertá-lo um pouco.
— Você também é linda, Maria Luiza. — O esboço de um sorriso apareceu timidamente em seus lábios. — Agora vá, antes que você perca mais tempo do aniversário da sua irmã.
— Certo. Estou indo. — Virei-me rumo à porta, me sentindo uma boba. Eu estava secando o Augusto! Tipo, secando o meu chefe. E ele percebeu! Queria me enfiar no meu quarto e não sair de lá nunca mais. — E obrigada por não falar a verdade para ele.

— Tudo certo, Maria Luiza. — Foi o que ele disse antes que eu fechasse a porta nas minhas costas.
Mas que porra foi essa? E por que meu coração está batendo tão forte?
— Parabéns pra você... Nesta data querida... Muitas felicidades... Muitos anos de vida...
Todo mundo cantava para minha irmã, que parecia exultante com tudo o que estava acontecendo diante dos seus olhos. Malí estava no próprio paraíso particular. Todos os olhares sobre ela, pessoas à sua volta e uma festa da qual os amigos iriam falar por uma semana na escola.
Minha mãe, não sabia como, tinha arrumado um bolo rosa e o momento do parabéns não tinha sido comprometido. Minha irmã mais nova estava tão satisfeita que não parecia nem um pouco incomodada com a falta do seu bolo de dinossauros.
Ela estava vivendo o seu melhor, já eu estava vivendo o dia mais esquisito da minha vida.
Tudo porque eu, que antes saía correndo como um gato assustado quando Augusto estava no recinto, não parava de procurá-lo com o olhar. E, quando o encontrava, o pior acontecia, como naquele momento.
Às vezes, quando eu estava inocentemente procurando-o, encontrava seus olhos já em mim.
Dessa vez, enquanto Ágata saiu em disparada para pegar algum docinho, fiquei ali, parada e com o copo de refrigerante encostado na boca, sendo puxada pelos olhos mais gelados e viciantes que eu já tinha visto. Mesmo conhecendo-o há tanto tempo, percebi que não costumava olhar diretamente no mar azul cristalino que Augusto carregava em seus olhos.
Caramba.
Ele tinha optado pela camiseta e bermuda, e o cabelo estava um pouco despenteado, o que não era normal, mas tudo bem. Ficava até mais bonito assim. O copo de whisky e o charuto nos lábios o deixava... Não conseguia nem ter palavras para explicar.

Augusto estava em uma roda com outros amigos do meu pai, bem mais longe das crianças, provavelmente por causa da fumaça do seu charuto, mas dava para ver nitidamente que me olhava. No fundo dos olhos.
Senti um puxão na minha boceta, assim como uma umidade na minha calcinha.
Nem fodendo que eu estou excitada.
Nem fodendo que estou excitada por causa de Augusto Mancini!
Eu estava.
Eu estava pra caralho.
E, pelo jeito que ele me olhava, sabia disso perfeitamente.
Desviei o olhar, não conseguindo mais manter o contato, e, ainda meio
perdida nas minhas próprias sensações, fui de encontro à minha mãe. Quase como se estivesse correndo do lobo mau.
Eu sabia sobre as histórias de Augusto. Ele já tinha namorado duas amigas da minha mãe e minha tia. Era mulherengo, metido e muito insensível. Responsabilidade afetiva? Acreditava que nem sabia do que se tratava.
— Parece que você viu um fantasma. — Ágata segurou em meu braço, chamando minha atenção. — Que porra estava fazendo encarando o crápula?
— Não estava o encarando — contrariei rapidamente.
— Estava, sim. — Sem esperar, ela me puxou para dentro da sala de estar da casa dos meus avós. — Malu, ele está fazendo alguma coisa com você? — perguntou em um sussurro.
Além de me fazer chorar por cima e por baixo? Não.
— Não. Eu só estava perdida em pensamentos — menti.
— Você nunca foi uma boa mentirosa. — E lá estava seu olhar de pena novamente. — Não vai me dizer que deu para o Augusto, vai?
— O quê?! — berrei. Odeio ter uma melhor amiga! Por que tem que me conhecer nos mínimos detalhes? — Lógico que não! Eu sou virgem, esqueceu?
— Ah, então isso ele não conseguiu arrancar com aquele olhar. Estou aliviada. — disse, apoiando a mão no coração de forma dramática. — Você está buscando problemas, Maria Luiza! Eu vejo nos seus olhos.
— Não fiz nada. Você que está parecendo uma louca.
— Só vou te dizer uma única coisa... — Chegou mais perto de mim, para que ninguém mais escutasse. — Dizem que ele tem vinte e quatro

centímetros de pau. Vai doer quando for tirar o seu lacre.
— Ágata! — Tampei a boca dela com uma de minhas mãos. — Não
está rolando nada! Jamais irá rolar nada. Eu nem gosto dele.
Ela tirou minha mão de sua boca.
— Só estou dizendo que te conheço. Você é certinha, mas também tem
uma tendência ao desastre... Tome cuidado com onde vai cair dessa vez. — Passou a mão pelo meu cabelo. — Cuidado por quem vai cair, ok?
Nem tentei discutir mais, só precisava fugir daquela conversa bizarra. — Ok.
Precisava trocar de calcinha também.
Inferno!

Nossas primeiras últimas vezes....Where stories live. Discover now