AUGUSTO MANCINI.
Eu vejo o futuro repetir o passado Eu vejo um museu de grandes novidades Cazuza – O Tempo Não Para
Você está bem, meu filho? — Meu pai me olhava daquele jeito que sempre me deixou desconfortável.
Ele era um bom pai. Sempre foi. Esteve presente em todas as reuniões da escola e em todas as apresentações, me apoiou quando eu decidi por conta própria seguir a carreira na arquitetura. Abraçou-me quando eu tive pesadelos, ensinou-me a andar de bicicleta e como tratar uma mulher.
Meu pai era um ótimo pai.
Porém um péssimo marido.
— Estou, pai. É apenas uma dor de cabeça. Mas estávamos falando
sobre o Natal. Sabe que ainda estamos em agosto, certo?
Ele tinha um hábito irritante de ser muito metódico com datas.
Nossos Natais eram sempre em família. E, quando dizia "família", era
apenas eu e ele, desde que mamãe faleceu. Queria dizer, sempre fomos eu e ele.
Minha mãe sempre estava, sei lá, por aí.
— Estou pensando em passarmos o Natal e o Ano-Novo em algum navio! Assim como fizemos há uns três anos. Preciso fazer as reservas.
Como dizer não a alguém tão animado assim?
— Claro, papai. Sem problema nenhum. — Sorri. — Apenas nós dois? Aos cinquenta e sete anos, meu pai ainda tinha uma vida amorosa
ativa. Depois da quarta esposa, a mesma que quase tirou até as cuecas dele cinco anos atrás, eu me mantive fora desse assunto.
Foram quatro casamentos, contando com o da minha mãe. E todos terminaram pelo mesmo motivo: ele sempre foi incapaz de ser fiel.
Assim como colecionava relacionamentos, também colecionava casos. Até que ele finalmente desistiu.
— Sempre. Não estou vendo ninguém. E você? Fiquei sabendo pelo Raul que terminou com aquela moça bonita. Gostava dela. — A voz dele era tão suave como a sua habilidade de me cutucar.
Ele sempre reprovou como eu era fechado e recluso. Não que eu me importasse muito. O coitado do meu pai tentou muito me educar. Deixava- me de castigo, me punindo da mesma forma como a maioria dos pais faziam com seus filhos. Eu que nunca ajudei muito.
Eu tinha muito orgulho de tudo o que ele havia construído. A MB não seria o que ela era, até então, sem ele. Meu pai era o homem por detrás das criações. Assim como eu, ele era o cara dos projetos. Dos prêmios.
Dante e Raul faziam dinheiro.
Eu e meu pai fazíamos arte.
Éramos duplas que funcionavam muito bem em conjunto.
— Gostava tanto dela que nem lembra o nome da moça. E, para sua
informação, eu estou sozinho. — Maria Luiza logo veio à minha cabeça, mas fiz questão de ignorá-la. Se, um dia, aquele homem que era uma versãominha mais velha sonhasse com a merda que eu estava fazendo, ficaria sem minhas bolas. — O que, em si, não é nenhuma novidade.
— Pensei que se casaria com a garota. Seis meses. Era um recorde, afinal. — Encostou as costas na sua grande cadeira com couro escuro, que combinava com todo seu escritório imponente e moderno.
— Eu propus. Ela não quis.
— Deixe-me adivinhar. — Estalou os dedos. — Você não se apaixonou por ela.
— Dante poderia começar a deixar minhas coisas fora dos ouvidos do pai dele — resmunguei.
A língua do cretino parecia que iria explodir, caso ele não falasse as coisas para o pai. E isso incluía até as minhas.
Nunca me esqueci do dia em que contamos juntos que ele tinha feito a cagada de engravidar a filha do juiz. Nunca vi Raul tão puto. Já meu pai parecia aliviado por eu não ter seguido os mesmos passos.
Foi a primeira vez que o príncipe perfeito tinha feito uma grande merda.
Uma grande merda que, até então, todos aqueles rendidos babavam em cima.
A mesma que eu... Deixa pra lá.
— Preciso ficar sabendo da sua vida de alguma forma, Augusto. Se depender de você, não fico sabendo de nada. Mas, então, não se apaixonou mesmo por ela ou estava com medo de admitir os verdadeiros sentimentos? — E lá estava o velho Lorenzo Mancini, o iludido de marca maior.
— Pai, já falamos sobre isso. Eu não sou um cara dado a amores. — Levantei-me, desconfortável com o assunto, e fui até a bandeja que ele deixava em cima de seu aparador com uma garrafa de whisky e alguns copos.
— Todo mundo quer amar, Augusto — bradou, enquanto eu me servia uma dose.
— Não é você quem sempre disse que eu não sou todo mundo? — perguntei, e, logo em seguida, virei a dose de uma vez. O ardor delicioso escorrendo pela garganta.
Se iríamos falar sobre aquele assunto, pelo menos, um pouco de álcool seria necessário.
— Às vezes, fico impressionado com como um homem de trinta e sete anos consegue ser tão imaturo quando você.
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Nossas primeiras últimas vezes....
FanfictionSINOPSE. Ela era tudo o que eu jamais poderia querer. Quinze anos mais nova. Minha estagiária. Filha do meu melhor amigo. Maria Luiza Bittencourt era apenas uma menina quando entrou no avião rumo a Crownford para fazer faculdade de arquitetura. Doi...